Como um filhote de foca morreu com uma embalagem plástica no estômago
Um frágil filme plástico obstruiu os intestinos do filhote doente e pode ter catalisado sua morte.
UM PEQUENO PEDAÇO de plástico é o suficiente para destruir a vida de um animal.
Um filhote de foca foi encontrado morto há poucos dias na ilha de Skye e levado para o Scottish Marine Animal Stranding Scheme, uma organização financiada pelo governo que investiga a mortalidade de mamíferos marinhos. Lá, o patologista veterinário Andrew Brownlow fez a necropsia no cadáver e retirou um pequeno quadrado de plástico do estômago do animal. Ele postou sobre o caso na página do SMASS no Facebook na última quarta-feira (30/5).
O animal tinha provavelmente entre oito meses e um ano de idade. Brownlow diz que é raro encontrar detritos plásticos dentro do estômago de focas – elas normalmente ficam emaranhadas em redes de pesca, linhas e iscas e morrem assim, em vez de serem mortas por pequenos detritos de plástico flutuantes.
“A ingestão de plástico por cetáceos e focas é realmente rara”, diz Brownlow, que também lidera o SMASS. “Eles são animais inteligentes que parecem ser capazes de distinguir entre plástico e presa”.
O incidente destaca como a poluição por plástico está disseminada – até mesmo os animais marinhos mais inteligentes estão sendo vítimas dessa epidemia mortal.
Águas desconhecidas
Normalmente, o SMASS recebe relatos de focas-cinzentas encalhadas e focas-comuns, que são populares na Escócia. Mas encontrar uma foca harpa, que geralmente vive no Ártico, é incomum.
“Ela não parecia uma foca-cinzenta”, disse Brownlow. “[Com a necropsia,] nós não só determinamos como o animal morreu, mas também tentamos entender como ele viveu”.
As focas-harpa não estão ameaçadas. Elas passam a maior parte do tempo nadando nas águas geladas dos oceanos Atlântico Norte e Ártico, alimentando-se de peixes e crustáceos e migram todos os anos para seus locais de reprodução em Terra Nova, no Mar da Groelândia e no Mar Branco.
Encontrar uma foca harpa tão ao sul quanto na Escócia é raro, mas não impossível, diz Brownlow. Ele suspeita que o filhote possa ter nascido no norte da Noruega e, por alguma razão desconhecida, foi para o sul. O animal podia estar seguindo presas ou outras focas e então ter se perdido, diz ele. No post do Facebook, Brownlow escreveu que a mudança climática também pode ter desempenhado um papel no deslocamento do animal.
Durante a necropsia, Brownlow e seu time de cientistas encontraram um quadrado plástico de duas polegadas amassado no estômago da foca harpa. Pequenas úlceras indicam que o plástico ficou preso ali por algum tempo. Os detritos podem ter bloqueado o esfíncter pilórico, a parte do estômago que se esvazia nos intestinos, e impediu o estômago do animal de se esvaziar. O intestino também estava inflamado.
Brownlow rapidamente explicou que o plástico não matou a foca diretamente. O animal estava desnutrido, desidratado e muito magro, mostrando que já estava doente e não havia comido recentemente antes de sua morte. O cadáver tinha evidências de sepse e alguns parasitas, mas nenhum trauma.
Brownlow diz que é provável que o pedaço de plástico tenha prejudicado o tecido do estômago, permitindo que as bactérias do intestino fluíssem para a corrente sanguínea. O filhote teria morrido cedo de qualquer forma, mas o plástico pode ter acelerado o processo.
O plástico não pode ser quebrado no estômago, mas se o animal estivesse saudável, talvez ele ainda estivesse vivo. O filhote provavelmente teria ficado desconfortável, mas o plástico não o teria matado. (Veja como o plástico é produzido a partir dos combustíveis fósseis.)
“Isso não é um problema do ponto de vista da conservação, [mas] é praticamente uma tragédia do ponto de vista individual”, diz Brownlow. “[Poluição plástica] é a última gota na causa de morte de animais.”
A crise do lixo
As focas harpa não são as únicas espécies afetadas pelo plástico. Curiosos leões-marinhos e outras espécies de focas frequentemente ficam emaranhadas em detritos oceânicos como equipamentos de pesca, sacolas plásticas e fitas de embalagens.
Cerca de 700 espécies comem plástico, muitas vezes pensando ser comida. Mas ao invés de fornecer alimento, os detritos podem perfurar o revestimento do estômago, levando o animal à fome e à morte. Tartarugas marinhas ameaçadas de extinção e aves marinhas ingerem os resíduos, assim peixes, baleias e outros animais marinhos estão cada vez mais em risco de consumir detritos plásticos microscópicos. (Relacionado: “Encontrado um Saco Plástico no Fundo da Fossa Oceânica mais Profunda do Mundo ”)
Já que humanos comem peixe, podemos estar inadvertidamente entrando na cadeia alimentar que come plástico, pois ingerimos pedaços de microfibra de canudos, tampas de garrafas e embalagens plásticas.
Parte da poluição plástica é visível , mas mais de 90 por cento de todo lixo plástico tem menos de 15 milímetros de comprimento. Com esse tamanho, os pedaços podem não serem vistos a olho nu, mas ainda podem significar uma sentença de morte para animais desavisados.
“É por isso que esses minúsculos pedaços [de plástico] são tão significativos quanto uma ilha dessas coisas”, diz Brownlow. “Até mesmo pequenos pedaços de plástico são problema.”