Para os bichos, o plástico transforma o oceano em um campo minado

Animais do mundo inteiro estão morrendo por causa do material que humanos produzem. As causas são diversas: desde o emaranhamento em redes de náilon à ingestão de plástico que se confunde com alimentos.

Por Natasha Daly
Publicado 28 de mai. de 2018, 17:05 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Uma velha rede de náilon prende como numa armadilha a tartaruga-cabeçuda no litoral espanhol, no Mediterrâneo. Embora ainda conseguisse esticar o pescoço para respirar fora da água, a tartaruga morreria caso não fosse libertada pelo fotógrafo.
Foto de Jordi Chias

Esta reportagem é parte da edição de junho da revista National Geographic Brasil. A iniciativa Planeta ou Plástico é um esforço de longo prazo para aumentar a conscientização sobre a crise global de lixo plástico.

Num barco ao largo da Costa Rica, um biólogo usa o alicate de um canivete suíço para tentar retirar um canudo da narina de uma tartaruga-oliva. Aflito, o animal se debate, sangrando. O vídeo se arrasta durante oito dolorosos minutos. Foi postado no YouTube e visto mais de 20 milhões de vezes, por mais penoso que seja assistir à cena. No final, desesperados, os biólogos conseguem tirar o canudo, que mede 10 centímetros.

Imagens tão realistas e duras quanto essas, que expõem o dano causado pelo plástico à fauna silvestre, já se tornaram corriqueiras: o albatroz morto com o estômago repleto de detritos, a tartaruga presa nos anéis de latas de cerveja, a foca emaranhada em uma rede de pesca.

Na maior parte do tempo, o dano é bem menos evidente. As pardelas-de-patas-rosadas – grandes aves marinhas, que nidificam em ilhas perto da costa da Austrália e da Nova Zelândia – ingerem mais plástico, em proporção à massa corporal, do que qualquer outro animal marinho. Em uma população numerosa, 90% dos filhotes já ingeriram algum tipo de plástico. Quando um desses fragmentos perfura o intestino, a ave morre em seguida. Mas, em geral, o plástico causa apenas uma fome crônica e implacável.

Um grupo de hienas busca comida num aterro sanitário em Harrar, na Etiópia. Elas ficam à espera dos caminhões que trazem o lixo do qual retiram o alimento.
Foto de Brian Lehmann
Em Okinawa, Japão, um caranguejo-hermitão aproveita uma tampa de plástico para proteger o abdômen. Os banhistas recolhem as conchas usadas pelos caranguejos para isso.
Foto de Shawn Miller

“O mais triste de tudo é que estão ingerindo plástico pensando que é comida”, diz o biólogo marinho Matthew Savoca. “Imagine que você acaba de almoçar e depois continua se sentindo fraco, letárgico e esfomeado pelo resto do dia. Isso seria muito confuso.” Peixes como as anchovas consomem pedaços de plástico porque estes, quando recobertos de alga, têm o mesmo cheiro do alimento normal do peixe. As aves marinhas, usando uma energia que não têm nos corpos malnutridos, voam cada vez mais longe em busca de nutrição efetiva e apenas conseguem resíduos plásticos para alimentar os filhotes.

O material plástico dura muito tempo, e boa parte dele flutua. “Os objetos de uso único são os piores. Nada se compara a eles”, analisa Savoca, referindo-se a canudinhos, garrafas de água e sacolas de compras. Já se comprovou que cerca de 700 espécies de animais marinhos ou ingeriram material plástico ou ficaram presas nele.

Ainda não temos uma compreensão plena do impacto no longo prazo de todo esse resíduo plástico na fauna silvestre (tampouco fazemos uma ideia precisa do seu impacto sobre as pessoas). Afinal, não faz tanto tempo assim que estamos fabricando e usando esse tipo de material. Os primeiros casos documentados da ingestão de plástico por aves marinhas foram de 74 filhotes de albatroz-de-laysan, encontrados em um atol do Pacífico em 1966, quando a produção mundial de plástico era cerca de um vigésimo da atual.

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    Na Espanha, a cegonha acabou libertada pelo fotógrafo. Uma única sacola pode matar mais de uma vez: a carcaça se decompõe, mas o mesmo plástico pode sufocar outro animal.
    Foto de John Cancalosi

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