Exclusivo: fósseis que parecem pedras preciosas revelam novo dinossauro

Quatro indivíduos desta espécie de herbívoro recém-descrita foram encontrados juntos no que pode ser a primeira manada de dinossauros da Austrália.

Por John Pickrell
Publicado 3 de jun. de 2019, 14:59 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Ilustração mostra uma manada de dinossauros Fostoria caminhando na orla de um lago onde hoje fica ...
Ilustração mostra uma manada de dinossauros Fostoria caminhando na orla de um lago onde hoje fica a cidade de Lightning Ridge, na Austrália.
Foto de Ilustração de James Kuether

Os raros fósseis coloridos encontrados na Austrália pertencem a uma nova e incrível espécie de dinossauro herbívoro, relatam cientistas na edição de hoje da revista científica Journal of Vertebrate Paleontology. Os vestígios não apenas pertencem à primeira manada ou grupo familiar de dinossauros descobertos no país, eles também representam o mais completo fóssil de dinossauro já encontrado preservado em opala.

Descoberto próximo da cidade de Lightning Ridge, cerca de 724 quilômetros a noroeste de Sydney, os pouco mais de 100 ossos exibem uma rara tonalidade azul-acinzentada com alguns toques de cores que reluzem como pedras preciosas. Lightning Ridge é famosa por produzir fósseis talhados de opalas muitas vezes brilhantes e coloridas, uma pedra preciosa que se forma durante longos períodos de concentração de soluções ricas em sílica no subsolo. Mas encontrar uma espécie inteiramente nova de dinossauro é extraordinário.

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“É sempre interessante quando encontramos um novo dinossauro australiano, pois temos poucos deles”, diz Stephen Poropat, paleontólogo da Universidade de Tecnologia de Swinburne, em Melbourne, que não participou do estudo. Atualmente, a contagem de dinossauros australianos conhecidos está por volta de 24, observa, incluindo o Weewarrasaurus, outra espécie descoberta em Lightning Ridge descrita ano passado.

A mais nova espécie, Fostoria dhimbangunmal, era um dinossauro parecido com o iguanodon que viveu cerca de cem milhões de anos atrás, no meio do período Cretáceo, quando essa região era uma grande várzea com lagos e rios que desembocavam no mar Eromanga.

“As várzeas eram quase sempre úmidas e ricas em vegetação, o que significa que era um bom lugar para dinossauros herbívoros”, explica o principal autor do estudo Phil Bell, paleontólogo da Universidade da Nova Inglaterra, Nova Gales do Sul.

Estudar dinossauros dessa fatia do tempo em Lightning Ridge é importante, acrescenta Poropat, uma vez que, nessa época, o mundo apresentava suas condições mais quentes dos últimos 150 milhões de anos.

“Esses dinossauros viviam em uma ‘Terra-estufa’ realmente inacreditável”, conta. “O planeta possivelmente tinha uma aparência bastante diferente, e esses fósseis podem nos dizer como esses dinossauros enfrentavam a situação.”

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    Este fóssil do osso de um dedo do pé pertencia a um indivíduo Fostoria dhimbangunmal. Os fósseis foram encontrados em uma antiga mina de opala e tem o brilho de pedras preciosas coloridas.
    Foto de Robert A Smith, Cortesia do Centro Australiano de Opala

    Embrulho de ossos

    O experiente minerador de opalas de Lightning Ridge, Bob Foster, descobriu o fóssil em 1986. Os cientistas do Museu Australiano de Sydney, juntamente com reservistas do exército australiano, ajudaram Foster a escavar a descoberta, que era um acúmulo de ossos de dinossauros embutidos em blocos de rocha. Posteriormente os fósseis foram assimilados pela coleção do museu.

    Mas o fato de não terem sido estudados por 15 anos ou mais e colocados em exibição em uma loja de opalas de Sydney levou Foster a tomar a decisão de recuperar sua descoberta. Ele devolveu os fósseis à Lightning Ridge e sua família acabou por doá-los a um museu local, o Australian Opal Centre, onde Bell pôde estudar o achado.

    Por ser um conjunto de fósseis único, os cientistas deixaram a maior parte dos ossos embutidos nas rochas e utilizaram uma varredura por TC para extraí-los digitalmente para a pesquisa.

    “A princípio, pensamos que era um único esqueleto, mas assim que começamos a estudar os ossos individualmente percebemos que havia partes de quatro escápulas ou omoplatas, todos de tamanhos diferentes”, explica.

     Cerca de 60 dos ossos são de um provável adulto que tinha mais de 4 metros de comprimento, enquanto os outros são de jovens de tamanhos variados, o que induziu Bell a especular que eram os vestígios de uma família ou uma pequena manada de dinossauros herbívoros.

    “Temos ossos de todas as partes do corpo, mas não temos um esqueleto completo”, diz. “Entre eles, há ossos de costelas, braços, crânios, caudas, quadris e pernas. Sendo assim, é um dos dinossauros mais conhecidos da Austrália … [com] 15 a 20 % do esqueleto da espécie”.

    O nome Fostoria foi dado em homenagem a Bob Foster, enquanto o nome da espécie, dhimbangunmal, significa ‘curral de ovelhas’ nos idiomas aborígenes locais Yuwaalaraay e Yuwaalayaay. Foi escolhido pela esposa de Foster, Jenny, que é aborígene do povo Kamilaroi, e foi uma homenagem ao local chamado Sheepyard, onde a mina de Foster, hoje desativada, costumava operar.

    Evolução dos bicos-de-pato

    Com quase o tamanho de um elefante, Fostoria teria o costume de andar sobre seus membros traseiros, embora os cientistas suspeitem que, às vezes, utilizasse os seus quatro membros para caminhar. Provavelmente se alimentava de plantas primitivas, chamadas cavalinhas, e também do pinheiro-bunia e pinheiro-colonial, cujos fósseis também são encontrados na região.

    [ Veja também: Assim como os humanos, esse dinossauro engatinhava antes de andar ]

    Parente do iguanodon e do dinossauro mais famoso da Austrália, Muttaburrasaurus, o Fostoria também é um dos primeiros membros de um grupo que, em outro lugar, evoluiria para os hadrossauros, ou "dinossauros bico-de-pato", que eram comuns na América do Norte e na Ásia por volta do fim da era dos dinossauros, há aproximadamente 66 milhões de anos.

    “Os primeiros dinossauros bico-de-pato eram o caldo primordial do qual, posteriormente, evoluíram as fantásticas espécies com crista”, conta Lindsay Zanno, paleontóloga do Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte, em Raleigh, que não participou da pesquisa.

    “Embora o ritmo da descoberta dos primeiros bicos-de-pato, como o Fostoria, tenha aumentado no mundo todo, ainda temos muito a aprender sobre como esses herbívoros foram tão bem sucedidos”, acrescenta. “Juntar os pedacinhos dessa história é essencial para o entendimento dos ecossistemas dos dinossauros, principalmente nos continentes do sul, e o Fostoria nos deixa um pouco mais perto disso.”

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