Fotógrafa do urso morrendo de fome explica por que não pôde ajudar

Cristina Mittermeier descreve a impotência que sentiu ao fotografar o urso polar e implora aos leitores para levarem as mudanças climáticas a sério.

Por Cristina G Mittermeier
Publicado 19 de dez. de 2017, 19:20 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

Em 11 de dezembro, a National Geographic publicou este vídeo de um urso polar em busca de alimentos na Ilha Baffin, no Canadá. O vídeo recebeu muita atenção, e muitos viram isso como um sinal do derretimento do gelo marinho e das mudanças climáticas. Cristina Mittermeier, co-fundadora da SeaLegacy e uma das fotógrafas da National Geographic presentes no momento em que o fotógrafo Paul Nicklen gravou o video, compartilhou a história daquele dia. O seguinte texto é um relato em primeira mão da fotógrafa.

Não há nada pior para alguém que ama a vida selvagem e a natureza do que testemunhar o sofrimento de um animal. É por isso que fotografar a angústia deste urso polar, e ser incapaz de ajudá-lo, foi tão difícil.

Músculos fracos, atrofiados por fome extrema, o sustentavam com dificuldade. Era claro que, mesmo que eu tivesse fornecido a ele o punhado de nozes que eu tinha na minha mochila, sem gelo do mar para caçar, suas perspectivas de sobrevivência seriam escassas.

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    Urso-polar faminto em terra sem gelo
    Este é o retrato de um urso-polar faminto. Ele foi avistado pelo fotógrafo da National Geographic Paul Nicklen na Ilha Somerset, no Arquipélago Ártico Canadiano. O urso desapareceu depois que as imagens foram feitas, tornando impossível dizer o que realmente aconteceu com ele.

    Quando ele cambaleou, claramente com dor, em direção ao campo de pesca abandonado de onde nós o observávamos e encontrou lixo para comer, eu queria ter algo mais para alimentá-lo. Ele mastigou o pedaço de espuma queimada de um assento de moto de neve que encontrou na lixeira. Eu lutei contra a raiva e a tristeza que sentia ao assistir este animal, uma vez majestoso, reduzido a buscar comida no lixo.

    Alguns nos criticaram por não ter feito mais para ajudar o urso, mas estávamos muito longe de qualquer aldeia para pedir ajuda, e se aproximar de um predador faminto, especialmente quando não tínhamos uma arma, seria loucura.

    No final, fiz a única coisa que pude: usei minha câmera para garantir que essa tragédia seria compartilhada com o mundo.

    Embora eu não possa dizer com certeza que o urso estava morrendo de fome por causa das mudanças climáticas, sei com certeza que os ursos-polares dependem de uma plataforma de gelo marinho para caçar. Um ártico em rápido aquecimento faz com que o gelo do mar desapareça por longos períodos de tempo a cada ano.

    Isso significa que muitos ursos ficam presos em terra, onde não conseguem perseguir presas – que consistem de focas, morsas e baleias – e morrem de fome em pouco tempo.

    Eu sei que essa cena é perturbadora e sei que é difícil de assistir, mas chegamos a um momento na história do nosso planeta em que simplesmente não podemos mais nos dar o luxo de desviar o olhar. Precisamos despertar para a iminência das mudanças climáticas, e precisamos expor a necessidade de reduzir as emissões de carbono.

    Estou tentando não ficar chateada ou magoada pelos muitos comentários negativos gerados por esta história. Em vez disso, tento me concentrar nas milhares de reações positivas que recebemos. As respostas às mudanças climáticas estão disponíveis e muitas podem ser encontradas nas pequenas e grandes escolhas que fazemos todos os dias.

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