Como uma foca da Antártida foi parar em praia do Brasil

O jovem animal não sobreviveu à jornada, mas serviu como um surpreendente estudo de caso para biólogos.

Por Carrie Arnold
Publicado 11 de jan. de 2018, 17:16 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Foca-de-weddell em uma praia vulcânica da Antártida, em uma foto de arquivo sem data.
Foto de Jason Edwards, National Geographic Creative

A Marinha brasileira detectou algo incomum nas águas azuis do Atlântico Sul.

Em 2015, em um posto avançado e estação de pesquisa biológica na ilha de Trindade, a 1.167 quilômetros de Vitória, Espírito Santo, os marinheiros viram uma pequena foca acinzentada nadando nas ondas.

Dois dias depois, eles encontraram seu corpo em uma das praias da ilha, Calheta. Os cientistas que foram observar o corpo fizeram uma descoberta surpreendente: o cadáver era de uma jovem foca-de-weddell.

O animal polar tinha viajado mais de 5 mil quilômetros ao norte de seu habitat antártico e 1,6 mil quilômetros do ponto norte mais distante onde a espécie já havia sido registrada, no Uruguai.

"Este é o ponto ao norte mais distante onde essa foca já foi observada. É um longo caminho, mesmo da parte mais setentrional da área de reprodução", diz o coautor do estudo, Guilherme Frainer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Frainer, biólogo marinho que estava em Trindade pesquisando golfinhos Tursiops, não ficou surpreso ao saber que um animal tinha encalhado na praia – a ilha é notória por encalhes.

"Mas fiquei chocado quando percebi que era [provavelmente] uma foca-de-weddell", diz ele.

PERDIDO NO MAR

Frainer não é especialista em pinípides, o grupo de mamíferos marinhos que inclui focas e leões-marinhos. E como a foca era jovem, ainda não tinha algumas das características distintivas de um adulto.

Sem ninguém para fazer uma identificação conclusiva, Frainer e a marinha enterraram a foca na praia de Calheta em julho de 2015, logo após o descobrimento do animal.

Em janeiro de 2017, no entanto, Frainer voltou a Trindade com Vanessa Heissler, bióloga marinha da UFRGS. Ao exumar o corpo e examinar a mandíbula, Heissler fez uma identificação conclusiva. Os resultados foram publicados no mês passado na Polar Biology.

Desconhece-se por que a foca morreu, mas Luis Huckstadt, especialista em focas da Universidade da Califórnia, Santa Cruz, disse que não é surpreendente que o animal tenha morrido.

“Normalmente, quando estão longe de casa, as focas estão desorientadas, estressadas ​e bem ruim de saúde”, diz Huckstadt.

Então, como a foca perdida acabou tão longe de casa?

As focas-de-weddell geralmente passam suas vidas nas águas geladas da Antártida, embora alguns grupos se reproduzam ao norte, nas Ilhas Shetland do Sul ou na Ilha da Geórgia do Sul, no Atlântico Sul.

Como muitas espécies marinhas, as focas-de-weddell têm habilidades extraordinárias para navegar águas onde nunca estiveram. Mas, às vezes, elas podem se perder, especialmente quando as correntes mudam.

MUDANÇA NAS CORRENTES MARÍTIMAS

O verão de 2015 foi o início de um forte evento de El Niño que mudou a corrente das Malvinas, proveniente do leste da América do Sul. Em vez de parar no Rio de la Plata, na Argentina, a corrente continuou mais ao norte, até Trindade.

Vista aérea da ilha de Trindade, no litoral do Espírito Santo, onde a foca morreu. 
Foto de Cristiano Burmester, Alamy

A foca desamparada, acredita Franier, provavelmente foi levada junto com a corrente.

A descoberta é um claro exemplo de como as mudanças climáticas podem perturbar as populações animais.

À medida que o gelo polar derrete devido às mudanças climáticas, prevê-se que o influxo de água doce altere as correntes oceânicas, tornando essas espécies perdidas ainda mais comuns.

“Esses casos ainda são extremos e raros, mas com mais gente observando, temos mais chances de descobrir por que isso está acontecendo”, diz Huckstadt.

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