Arraias emitem som – mas a maneira como o fazem ainda é um mistério

Novos vídeos feitos na Austrália e na Indonésia revelam que pelo menos duas espécies de arraias fazem barulhos de cliques – mas não se sabe como elas fazem isso.

Por Jason Bittel
Publicado 8 de ago. de 2022, 17:00 BRT

Uma arraia desliza pela Ilha Heron, na Austrália, parte da Grande Barreira de Corais.

Foto de Johnny Gaskell

Baleias cantam, camarões estalam e peixes-sapo zumbem. Mas e as arraias? Até recentemente, cientistas acreditavam que o peixe chato era quieto como uma panqueca.

Agora, um estudo quebrou esse silêncio. Vídeos revelam que duas espécies de arraias – Urogymnus granulatus e Pastinachus ater, ambas nativas do Indo-Pacífico – produzem cliques impressionantes e inconfundíveis.

De fato, em um dos vídeos, o clique da arraia foi tão violento que fez o fotógrafo largar sua câmera, conta Lachlan Fetterplace, ecologista marinho da Universidade Sueca de Ciências Agrárias que liderou o estudo, publicado recentemente na revista Ecology.

Enquanto quase mil espécies de peixes ósseos fazem algum tipo de barulho, tubarões e raias eram, até agora, vistos como discrepantes silenciosos. E isso é surpreendente, porque cientistas e mergulhadores estão na água com esses animais o tempo todo.

 

“Isso é meio estranho”, diz Fetterplace. “Eu mergulho muito com algumas outras espécies de arraias, e agora estou me questionando. Eu poderia ter perdido isso?”

“Isso mostra que não sabemos tudo”, acrescenta. “Estamos no ano de 2022 e você pode descobrir algo que ninguém jamais viu, apenas saindo e fazendo observações na história natural.”

Como uma arraia faz um som?

Antes do novo estudo, a única evidência verificada de arraias emitindo sons veio de um estudo de arraias de cativeiro. Publicada em 1970, essa pesquisa registrou cliques curtos e nítidos vindos dos peixes, mas somente depois que os cientistas os cutucaram com força. Só em 2017 e 2018 que vários dos coautores do novo estudo gravaram vídeos de alta qualidade, enquanto mergulhavam na Indonésia e na Austrália, que capturaram os ruídos. 

Mesmo que o vídeo evidencie que essas arraias fazem ruídos pareça ser uma grande descoberta, os pesquisadores não têm certeza de como os animais produzem os sons. “Eles não têm cordas vocais e não há um mecanismo claro de como eles fazem isso”, explica Fetterplace.

Nos vídeos, os espiráculos das arraias – dois buracos em suas cabeças usados ​​para mover a água através de suas guelras – parecem se contrair quando o som do clique é emitido. Isso sugere que o peixe pode estar criando atrito entre os espiráculos e o tecido circundante, não muito diferente de quando estalamos os dedos. Também é possível que as arraias formem sons criando um vácuo, como quando estalamos nossas línguas, explica Fetterplace.

O que quer que esteja acontecendo, é provável que seja revelado em breve, já que outros cientistas já estão planejando estudos para analisar a anatomia das arraias mais de perto.

O que as arraias estão tentando dizer?

Para sua pesquisa, Fetterplace e seus colegas compararam a largura de banda e as frequências dos sons com o alcance conhecido da audição de arraias. Eles confirmaram que as arraias podem realmente ouvir esses sons, o que pode significar que são uma forma de comunicação.

Jovens arraias descansam sob árvores de mangue em Geoffrey's Bay, parte da Reserva de Conservação da Grande Barreira de Corais da Austrália. Os cientistas gravaram as arraias produzindo um ruído de palmas que pode servir como um sinal de retorno ou de socorro para outros em seu grupo.

Foto de J. Javier Delgado Esteban

Ao mesmo tempo, o trabalho dos cientistas mostrou que os tubarões-de-recife e os tubarões-limão (predadores de ambas as espécies de raias) também podem ouvir os cliques. Isso sugere que as arraias podem emitir os sons quando sentem um predador se aproximando como um aviso, talvez para ficar longe das farpas venenosas das arraias.

Da mesma forma, os sons rápidos e altos podem ser simplesmente uma distração, que surpreende um predador e dá à arraia a chance de escapar. 

Há outra possibilidade, no entanto.

Quando o fotógrafo e coautor Javier Delgado Esteban testemunhou uma arraia de mangue selvagem fazendo sons em 2018, em Geoffrey Bay, Austrália, ele notou outro comportamento interessante. Depois de fazer os cliques, o jovem foi rapidamente acompanhado por uma série de outras arraias. 

“As outras vinham e se amontoavam ao redor dele, e todas tinham suas caudas com espinhos para cima”, relata Fetterplace, sugerindo que os cliques podem ser uma maneira de chamar reforços.

'Realmente, muito emocionante'

Audrey Looby, doutoranda e ecologista da comunidade marinha da Universidade da Flórida, publicou recentemente uma revisão científica sobre ruído de peixes. Ela vasculhou mais de 800 referências que datam de 1874 e encontrou poucas informações sobre elasmobrânquios, o grupo que inclui tubarões e arraias. 

“Então, ver um estudo como esse, onde há um vídeo e uma descrição abrangente dos comportamentos associados a esses sons, é muito, muito emocionante”, comemora Looby.

Sobre como essa habilidade foi negligenciada por tanto tempo, Looby diz que pode ser explicada por vários fatores. Por exemplo, talvez as arraias emitam sons ocasionalmente, ou apenas certas espécies podem fazê-lo, ou os peixes são mais propensos a produzir ruído em um horário ou estação específica. 

“Eles também podem ser bastante difíceis de estudar porque geralmente são altamente móveis e evasivos”, destaca Looby.

Como muitas espécies de arraias estão ameaçadas de extinção, Fetterplace pede cautela. Embora ele e seus coautores esperem que sua pesquisa descubra mais exemplos de arraias produtoras de som, “não queremos que o público saia e se aproxime muito de uma arraia apenas para obter esse tipo de ruído”.

“Isso não é bom para a arraia”, alerta, “e é potencialmente perigoso”.

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