Ilha das Cobras: o que você não sabia sobre a ilha tomada por serpentes no litoral brasileiro

Além de abrigar uma espécie única de cobra, a ilha leva o título de local com maior concentração de serpentes no Brasil.

Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 17 de mar. de 2023, 13:38 BRT, Atualizado 10 de jun. de 2024, 11:48 BRT
A jararaca-ilhoa (Bothrops insularis). Ela é uma das espécies que habita a Ilha da Queimada Grande, ...

A jararaca-ilhoa (Bothrops insularis). Ela é uma das espécies que habita a Ilha da Queimada Grande, local com a maior concentração de serpentes no Brasil.

Foto de Wikimedia Commons

Localizada a 36 quilômetros do litoral Sul de São Paulo, existe uma ilha coberta pela Mata Atlântica, sem praias e de difícil acesso, mas que afasta possíveis visitantes por outro motivo. A Ilha da Queimada Grande, que se localiza entre os municípios de Itanhaém e Peruíbe, é protegida por um contingente de milhares de cobras venenosas. Trata-se do local com a maior concentração de serpentes no Brasil. 

(Vale a pena ler também:  Que lugares podem desaparecer com o aumento do nível do mar?)

Ilha da Queimada Grande: um dos lugares com mais cobras no mundo


Segundo biólogos do Instituto Butantan, que estudam os animais da região desde 1911, a população estimada de cobras na Ilha da Queimada Grande é de pelo menos 15 mil indivíduos. O local abriga duas espécies de jararacas: a Ilhoa (Bothrops insularis) e a Dormideira (Dipsas mikanii). A primeira delas é endêmica da ilha, ou seja, não ocorre em nenhum outro lugar no mundo.

Em relação à concentração de serpentes, segundo o Butantan, o local só perde para a Ilha de Shedao, na China, que abriga por volta de 20 mil desses animais. Entretanto, a Ilha paulista tem o título de local com maior densidade populacional de uma única espécie de serpente no mundo pela quantidade de jararacas-ilhoa que vivem em seu território. 

(Assista ao vídeo Brasil Selvagem: viaje pela Ilha das Cobras em 360)

Qual a diferença entre a jararaca-ilhoa e as cobras encontradas no continente


Pesquisadores do Butantan tiveram o primeiro contato com a jararaca-ilhoa, até então desconhecida pela ciência, no início do século 20. Ela foi identificada como uma nova espécie em 1921 pelo herpetólogo Afrânio do Amaral, pesquisador do Butantan. Desde então, o centro de pesquisa biológica paulista (que é especializado em animais venenosos e peçonhentos) vem estudando a serpente. 

Segundo estudos mais recentes do Instituto, o desenvolvimento dessa espécie se deu por causa do isolamento geográfico, a partir da separação desse pedaço de terra do continente há cerca de 10 mil anos. Uma vez isoladas, as jararacas evoluíram e se adaptaram às condições da ilha

Entre as diferenças da espécie ilhoa para suas parentes continentais, o Butantan menciona que a jararaca de Queimada Grande desenvolveu a capacidade de subir em árvores, o que não é natural para as jararacas do continente. A ilhoa é a única cobra do Brasil capaz de viver no alto. A habilidade surgiu para que o animal se alimentasse mais facilmente do único tipo de presa disponível: as aves

Além disso, segundo o Butantan, o veneno da jararaca-ilhoa também evoluiu de forma a ser mais potente para suas presas específicas. Em seres humanos, o veneno deste tipo de jararaca é capaz de matar em até seis horas após a picada. 

A ilhoa também é ligeiramente menor, atingindo entre 0,5 e 1 metro de comprimento, enquanto o tamanho médio da jararaca comum (Bothrops jararaca) é de 1,2 a 1,6 metro. Entretanto, o Butantan afirma que a espécie pode chegar aos 2 metros de comprimento. 

Um exemplar da jararaca-dormideira (Dipsas mikanii)

Um exemplar da jararaca-dormideira (Dipsas mikanii)

Foto de Fausto Barbo Wikimedia Commons

Ninguém mora na Ilha das Cobras


O primeiro registro histórico da Ilha da Queimada Grande data de 1532, resultado da expedição colonizadora enviada ao Brasil comandada pelo militar português Martim Afonso de Souza, informa o artigo “Instituto Butantan e a jararaca-ilhoa: 100 anos de história, mitos e ciência”, realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do  Laboratório de Ecologia e Evolução do próprio Instituto. 

Mas a ilha era inabitada até o final do século 19, quando a Marinha do Brasil implantou um farol de balizamento marítimo no local, cuja manutenção era realizada por faroleiros que residiam ali. O trabalho era difícil e perigoso por conta do risco de ataques das serpentes

Ainda segundo o artigo, a própria Marinha do Brasil, por diversas vezes, ateou fogo na mata da ilha na tentativa de acabar com a população excessiva de cobras. O nome “Queimada Grande” é resultado desses recorrentes incêndios, tão fortes que podiam ser avistados do continente.

Desde que o farol foi automatizado na década de 1920, ninguém mais reside na Ilha das Cobras. Segundo a Prefeitura de Itanhaém, o desembarque de turistas é proibido e apenas profissionais da área ambiental estão autorizados a frequentar o local. Desde 1985, a área é tombada como uma Unidade de Conservação Federal. 

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