Conheça um raro berçário de polvos que esconde até mesmo uma espécie desconhecida

Esse é apenas o quarto berçário de polvos em alto-mar conhecido no mundo e pode abrigar uma espécie nunca antes identificada.

Por Jessica Taylor Price
Publicado 16 de abr. de 2024, 08:00 BRT
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A expedição descobriu um número excepcionalmente alto de mães de polvo em gestação perto de fontes hidrotermais, na Costa Rica.

Foto de Schmidt Ocean Institute

De um barco no oeste da Costa Rica, os membros da expedição Octopus Odyssey se amontoavam em frente a telas de TV, assistindo em tempo real enquanto seu veículo operado remotamente rondava o fundo do mar em busca de berçários de polvos.

Então, um deles ofegou. "Há um bebê, há um bebê!", gritaram. O minúsculo polvo recém-nascido, com o corpo rosa claro e translúcido, estendeu os oito tentáculos e se impulsionou para cima.

"Foi um momento incrível", disse Beth Orcutt, que liderou o projeto de pesquisa para o local Dorado Outcrop do Oceano Pacífico em junho de 2023 com Jorge Cortes, da Universidade da Costa Rica. "A sala de controle da missão ficou muito cheia e muito barulhenta."

A equipe de pesquisa reage com entusiasmo na sala de controle após ver o primeiro polvo encontrado pela expedição.

Foto de Schmidt Ocean Institute

Havia muitos motivos para comemorar: a equipe de 18 pessoas acabara de descobrir o quarto berçário de polvos em alto-mar conhecido no mundo – e possivelmente uma nova espécie. Os outros três viveiros existem no Canadá, na Califórnia (Estados Unidos) e outro também na Costa Rica, a cerca de 55 km de Dorado.

"Encontrar um berçário de polvos é um evento importante para entender onde há lugares únicos de biodiversidade nas águas da Costa Rica que podem ser dignos de atenção", afirma Orcutt, cientista sênior de pesquisa do Bigelow Laboratory for Ocean Sciences, no Maine, Estados Unidos.

Sólido como uma rocha

Muitos polvos são criaturas solitárias que prendem seus ovos a superfícies duras, depois criam e protegem seus bebês em desenvolvimento contra predadores. “As mães regularmente sopram água sobre os ovos para oxigená-los e evitar que as algas e os fungos tomem conta deles”, afirma Jennifer Mather, especialista em polvos da Universidade de Lethbridge, no Canadá, que não participou da expedição.

Depois que os ovos eclodem, os jovens nadam para começar uma nova vida, e a mãe geralmente morre, diz Mather.

Mas as coisas parecem um pouco diferentes no Dorado Outcrop, uma área rochosa a cerca de 3 mil metros de profundidade. O ROV filmou muitos polvos em gestação amontoados na mesma área, ainda mais do que em 2013, quando Orcutt visitou o local pela última vez.

"A primeira coisa que pudemos ver em nosso primeiro mergulho foi que havia ainda mais polvos no mesmo local. Isso nos deixou muito animados", diz ela. "É quase como uma explosão populacional."

Por que a reunião social? Os polvos precisam de superfícies duras para depositar seus ovos, mas o oceano profundo é, em sua maior parte, de lama macia e mole, sem muitas rochas.

"Eles só são berçários por acidente", comenta Mather. "Não me surpreende que quatro dessas áreas tenham sido descobertas, pois os espaços rochosos nas profundezas devem ser escassos."

 

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    Novas espécies do fundo do mar?

    Dorado abriga um conjunto de fontes hidrotermais que expelem água quente e provavelmente também atraem as mães polvos. Orcutt teoriza que essa água mais quente pode beneficiar os ovos, além de possivelmente ajudar as mães a procriar mais rapidamente.

    Esses animais são impressionantes em sua capacidade de viver em um ambiente de alta pressão, baixa temperatura e escuro como breu – sem falar que compartilham seu espaço com outros polvos, diz ela.

    Esse polvo não identificado, que se acredita ser uma nova espécie, foi visto em uma profundidade de quase 3 mil metros na região do novo berçário, na Costa Rica.

    Foto de Schmidt Ocean Institute

    A equipe provavelmente observou três espécies diferentes de polvo ao longo da expedição de 19 dias e, uma delas, é um membro potencialmente novo do gênero Muusoctopus. Serão necessárias pesquisas adicionais, como capturar um espécime e testar seu DNA, para ter certeza, diz Orcutt.

    Não surpreende a Mather o fato de que o polvo possa ser novo para a ciência, considerando o quanto há para aprender sobre ele. "Mais de 99% dos mamíferos foram descobertos e nomeados, mas no caso dos moluscos, incluindo os cefalópodes, são cerca de 50%."

    É necessário explorar mais para novas informações

    A equipe não encontrou somente os viveiros. O pessoal da Octopus Odyssey visitou cinco montes submarinos inexplorados, montanhas submarinas que também abrigam fontes hidrotermais.

    "Todas elas pareciam ser diferentes em termos de suas espécies animais dominantes", diz Orcutt. Uma delas estava coberta de pepinos-do-mar, enquanto outra apresentava um monte de corais negros. A equipe também viu embriões de arraias, um tipo de peixe parente dos tubarões, perto das fontes hidrotermais.

    Mas há muito mais a ser encontrado. Orcutt calcula que, embora cerca de 30% do fundo do mar tenha sido mapeado, os seres humanos só pesquisaram cerca de 1%.

    "Há muita coisa lá fora que ainda não vimos, que não conhecemos em termos de biodiversidade. É preciso explorar mais."

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