
Descubra 5 animais raros que só existem no Brasil
O mico-leão-dourado (acima) é um pequeno primata originário da Mata Atlântica do Brasil que se tornou um símbolo de animais raros em extinção a serem protegidos, com diversas ações de conservação governamental e de ONGs.
O Brasil, por sua vasta biodiversidade em seus biomas, abriga uma fauna riquíssima e espécies únicas no mundo. Só que algumas delas têm se tornado cada vez mais raras, já que estão ameaçadas de extinção devido à destruição de seus habitats e à ação humana, que caça e comercializa esses animais.
A National Geographic Brasil conversou sobre o tema com o biólogo e conservacionista Gustavo Figueirôa, que também é diretor de comunicação do SOS Pantanal (instituição sem fins lucrativos fundada em 2009, que promove a conservação e desenvolvimento sustentável do bioma Pantanal). Ele selecionou cinco espécies que representam bem os animais raros brasileiros. Conheça quais são, suas principais características e em que lugares do Brasil habitam seus poucos exemplares.
(Sobre Animais, veja também: Qual é a maior ave migratória do mundo? Spoiler: ela mede mais de 3 metros de uma asa a outra)

Na foto, um exemplar da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), pequena e bela ave endêmica do Brasil.
1. Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii)
Essa pequena e bela ave de cor azul é uma espécie da família Psittacidae e é endêmica do Brasil, sendo a única espécie para o gênero Cyanopsitta, como explica o site Animal Diversity Web (ADW), enciclopédia online mantida pelo Museu de Zoologia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
“A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) chegou a ser considerada quase extinta, mas ainda há exemplares em cativeiro e, recentemente, ela está sendo reintroduzida na natureza”, contou o biólogo Gustavo Figueirôa.
Características principais: a ararinha-azul mede cerca de 57 centímetros de comprimento e possui uma plumagem azul, variando de tons pálidos a vívidos ao longo do corpo, de acordo com a ADW.
Habitat original: pode ser encontrada na Caatinga das regiões Norte e Nordeste, especialmente no sul do Piauí, extremo sul do Maranhão, nordeste de Goiás e noroeste da Bahia.
Status de conservação: em decorrência do corte indiscriminado de árvores da Caatinga e do tráfico ilegal, sua população se reduziu até restar um único indivíduo, que desapareceu em 2000-2001. A arara-azul está seriamente ameaçada de extinção, existindo cerca de 250 aves em cativeiro (segundo dados de janeiro de 2022).
Por isso mesmo, a arara-azul foi declarada extinta na natureza pelo governo brasileiro e na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).
Porém, como os animais sobreviveram em cativeiro, alguns estão sendo reintroduzidos à natureza desde 2022 pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) que é mantido pelo Ministério do Meio Ambiente.
Curiosidades: A ararinha-azul ficou mundialmente famosa após o filme Rio, disponível no Disney+, por ser uma das aves principais da animação.

O pequeno mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) são conhecidos por sua bela juba dourada ao redor da cabeça, queixo e ombros e pela pelagem do corpo em um dourado mais avermelhado.
2. Mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia)
O mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) é nativo do Brasil, e pertence à classe dos macacos do Novo Mundo, dentro da divisão entre os primatas, segundo o Museu de História Natural Smithsonian (instituição educacional e de pesquisa do governo dos Estados Unidos). Esses pequenos e belos macacos figuram em várias listas de animais com perigo de extinção.
Características principais: o mico-leão-dourado mede apenas entre 20 e 37 centímetros de comprimento. Suas cabeças pequenas e arredondadas possuem uma bela e cheia juba dourada na parte de cima, que alcança também as partes das bochechas, queixo, orelhas e ombros do animal, informa o ADW.
Seus corpos são cobertos por pelos longos, macios e com coloração que varia do dourado pálido ao dourado avermelhado. Uma característica interessante é que esses micos têm garras, e não unhas achatadas como outros primatas, diz a fonte.
Habitat original: vive no bioma da Mata Atlântica da região Sudeste do Brasil, especialmente no Rio de Janeiro.
Status de conservação: o mico-leão-dourado está em perigo de extinção – estando tanto na lista vermelha de perigo de extinção mundial da IUCN, como na lista vermelha de ameaça de extinção do ICMBio.
Curiosidades: o animal é um dos principais símbolos da conservação da fauna no Brasil. Programas de reprodução em cativeiro e reflorestamento conseguiram aumentar sua população, mas ele ainda sofre com a fragmentação das florestas.
Entre os vários projetos de preservação e recuperação da espécie desde os anos 1970, se destaca o da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica; o Parque Ecológico Mico-Leão-Dourado; e a Reserva Biológica Poço das Antas.
(Leia também: O que perdemos com a extinção dos animais)

O raro cachorro-vinagre (Speothos venaticus) é considerado o menor canídeo brasileiro e tem raros registros do animal livre na natureza. Na foto, um exemplar que vive no zoológico de Praga, na República Tcheca.
3. Cachorro-vinagre (Speothos venaticus)
Não muito conhecido popularmente, o cachorro-vinagre (Speothos venaticus) é considerado o menor canídeo brasileiro e tem raros registros dele na natureza.
Características principais: segundo explica o site do ICMBio, o cachorro-vinagre é um canídeo de corpo longo, orelhas arredondadas e pernas curtas, com membranas interdigitais entre seus dedos, que facilitam a sua locomoção na água.
Possuem uma coloração castanho-avermelhada e seus filhotes nascem acinzentados. É o menor entre os canídeos brasileiros, medindo entre 57 e 75 centímetros de comprimento, podendo pesar de 5 a 8 quilos.
Habitat original: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.
Status de conservação: Vulnerável para extinção, de acordo com a lista vermelha da IUCN.
Curiosidades: um dos canídeos mais raros do mundo, o cachorro-vinagre vive em pequenos grupos e tem hábitos semi-aquáticos. Sua população vem diminuindo devido ao desmatamento e à caça ilegal, sendo difícil de ser avistado na natureza.
Recentemente, em 2024, uma matilha inteira foi flagrada pela primeira vez no interior do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, do Amapá e Pará, por câmeras do parque.

A rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis) é uma das aves mais raras do mundo e já foi considerada extinta, mas foi vista novamente e hoje acredita-se que há menos de 20 indivíduos no Cerrado brasileiro.
4. Rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis)
A rolinha-do-planalto é uma ave Columbiforme da família Columbidae (dos pombos), como explica a ADW. Também é conhecida como rolinha de janeiro, rolinha-brasileira ou pombinha-olho-azul. Descoberta em 1823, a ave só foi vista novamente em 1904 e, depois, no ano de 1941.
“A rolinha do planalto é raríssima, por décadas os estudiosos pensavam que ela tinha sido extinta da natureza”, comentou Figueirôa. Sendo uma das aves mais raras do mundo, foi “redescoberta” somente em 2015 por um fotógrafo em expedição pelo Cerrado e a partir disso, é feito um trabalho de censo e proteção das poucas aves da espécie.
Características principais: trata-se de uma pequena ave com tamanho entre 15,5 e 17 centímetros de comprimento e cor predominantemente castanha, além de olhos pequenos e de cor azul-escura. Seu bico é cinza escuro e os pés rosados, detalha a ADW.
Habitat original: o bioma do Cerrado, originalmente no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, mas hoje ela é vista basicamente só em Minas Gerais.
Status: criticamente em perigo de extinção, segundo a lista vermelha da IUCN.
Curiosidades: uma das aves mais ameaçadas do Brasil, essa rolinha de olhos azuis foi considerada extinta por 75 anos até ser redescoberta em 2015. Hoje, estima-se que existam menos de 20 indivíduos na natureza.

O mico-leão-de-cara-preta (Leontopithecus caissara) é um primata brasileiro originário da Mata Atlântica e atualmente possui somente cerca de 300 animais na natureza.
5. Mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara)
O mico-leão-de-cara-preta (Leontopithecus caissara) é um primata brasileiro da família Cebidae e da sub-família Callitrichinae. Ele é endêmico da Mata Atlântica brasileira.
Características principais: tal como os outros mico-leões, possui uma pelagem abundante e brilhante, principalmente na cabeça, formando uma juba de cor negra, assim como na face, nos membros e na ponta da cauda. O restante do corpo é de cor ruiva a dourada, define a ADW.
Habitat original: vive no bioma da Mata Atlântica do litoral do Paraná e São Paulo
Status: Criticamente em perigo de extinção, conforme a a lista vermelha da IUCN.
Curiosidades: este macaco foi descoberto em 1990, na ilha de Superagüi, no estado do Paraná, mas também pode ser encontrado no litoral sul de São Paulo. É um dos micos-leões mais ameaçados, com menos de 300 exemplares restantes. A construção de estradas e o avanço imobiliário na mata litorânea ameaçam seu habitat.
As principais ameaças aos animais raros do Brasil
A principal causa do declínio dessas espécies raras é a perda de habitat por conta de vários fatores, como o desmatamento, expansão agrícola e urbanização. Além disso, o tráfico de animais (no caso da ararinha-azul e dos micos-leões) e a caça ilegal (como para o cachorro-vinagre) agravam os riscos, conforme dados do ICMBio.
Além dessas cinco espécies, há outros animais raros brasileiros que estão ameaçados de extinção (em menor ou maior grau), como a doninha amazônica, o muriqui-do-norte, a preguiça-de-coleira, entre outros que estão na lista vermelha do IUCN e do ICMBio. Esses animais são tesouros da biodiversidade brasileira, e a sobrevivência dessas espécies depende diretamente da conscientização e da ação humana.
