Noiva cadáver: conheça um lagarto necrófilo brasileiro

Por que alguns animais tentam acasalar com mortos? Contato de teju macho com corpo de fêmea levanta a questão.

Por Agata Blaszczak-Boxe
teju necrófilo
Um teju macho abre as mandíbulas e tenta se acasalar com um lagarto fêmea, mas morta dois dias antes.
Foto de Ivan Sazima

Era um dia quente de setembro, em 2013, quando o zoólogo Ivan Sazima, da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, saiu para caminhar em um parque. O cientista queria encontrar algum bicho notável para estudar, mas não esperava testemunhar uma cena impressionante: necrofilia entre lagartos. 

Bem à sua frente, ele viu o réptil macho em uma tentativa de acasalamento com uma fêmea morta da mesma espécie, Salvator merianae, mais conhecido como teju ou lagarto-marau.

"Eu fiquei maravilhado, porque não havia observado esse comportamento entre lagartos antes, apenas em rãs" relata Sazima.

A necrofilia ocorre em outras espécies de animais, mas é a primeira vez que é documentado nesta espécie, uma das mais comuns na América do Sul.

O zoólogo observou o macho lambendo a fêmea falecida - um comportamento de cortejo comum - e tentou copular por cerca de cinco minutos. Até que um grupo de gansos apareceu, o que fez com que o excitado animal fugisse. 

O cientista voltou ao mesmo local na tarde seguinte. Àquela hora, o cadáver já estava inchado, apodrecendo e cheirando mal.

Mesmo assim, o odor ruim não desencorajou outro teju de tentar fazer sexo com o corpo - e dessa vez por quase uma hora.

Durante esse tempo, o novo macho abraçou a fêmea morta e mordeu a cabeça, outro comportamento de namoro. Ele descansava de vez em quando, parando a atividade sexual cansativa, antes de finalmente pincelar a língua no cadáver e sair, de acordo com o estudo, publicado em janeiro de 2015 na revista Herpetology Notes (em inglês). 

Noivas cadáveres

O encontro de Sazima acrescenta mais um relato em muitos sobre necrofilia no mundo animal.

Henrique Caldeira Costa, da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, em Belo Horizonte, reportou caso de necrofilia entre lagartos ameiva machos em 2010. A fêmea provavelmente foi atropelada na estrada, conforme escreveu no Herpetology Notes (em inglês). 

Em outro incidente, Kamelia Algiers, bióloga de Ventura College na Califórnia, Estados Unidos, descreveu a ação de um Gambelia wislizenii, no oeste norte-americano.

O animal tentou copular com a fêmea, também provavelmente atropelada em uma rodovia, cujo "intestino estava exposto, com formigas sobre ele", descreve Algiers em 2005 no Herpetological Review (em inglês).

Quer mais? Acasalar com os falecidos não é restrito a répteis e anfíbios: patos, pinguins, leões-marinhos, pombos e até esquilos também foram pegos no ato "perverso".

Por que copular com os mortos?

Então, o que exatamente atrai alguns lagartos machos para cadáveres femininas? Apesar de muitas observações científicas, "a necrofilia em lagartos ainda é mal compreendida", disse Costa, da UFMG, que não estava envolvido no relatório do teju, mas estuda o fenômeno.

Mas, quanto ao teju amoroso, Sazima tem uma teoria: os machos podem ter sido simplesmente enganados ao pensar que a fêmea estava viva.

Por um lado, a lagarta morta estava quente: embora morta, a temperatura do corpo era provavelmente próxima da do ar ambiente. E seus feromônios, provavelmente ainda detectáveis ​​em seu corpo após a morte, podem atrair os admiradores do sexo masculino.

Costa concorda que essa é uma teoria válida e suspeita que a alta temperatura corporal e as feromônios da fêmea possam explicar o lagarto necrófilo descrito em 2010.

Curiosamente, a necrofilia parece ser benéfica para pelo menos uma espécie: uma pequena rã amazônica chamada Rhinella proboscidea.

Um estudo de 2013 mostrou que R. proboscidea machos podem extrair ovos de parceiras sexuais mortas e fertilizá-los, um processo chamado "necrofilia funcional".

Talvez, para essas espécies, a morte lhes caia bem. 

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Publicado originalmente em 27 de Fevereiro, 2015.

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