Surto de covid-19 em visons gerou lições preocupantes sobre a pandemia

A disseminação do novo coronavírus expôs problemas em criadouros para produção de peles e em nossa resposta a esses surtos.

Por Dina Fine Maron
Publicado 5 de mar. de 2021, 07:00 BRT
A Dinamarca abateu todos os seus visons de criadouros no ano passado, milhões de animais, depois ...

A Dinamarca abateu todos os seus visons de criadouros no ano passado, milhões de animais, depois de ter sido detectado que uma variante do novo coronavírus estava em circulação entre os visons e os humanos. Uma nova pesquisa mostrou que muitos visons podem ser portadores assintomáticos de Sars-CoV-2.

Foto de Mads Claus Rasmusse, Ritzau Scanpix, AFP, Getty Images

Anne Sofie Hammer estava em busca de visons infectados. O governo dinamarquês contratou a patologista veterinária da Universidade de Copenhague em junho de 2020 para verificar se os criadores haviam transmitido o novo coronavírus a visons. Para tanto, era preciso ir de criadouro em criadouro em busca de animais que não estavam se alimentando ou com tosse e coletar amostras de sangue e esfregaço da boca.

O vírus Sars-CoV-2 estava se espalhando rapidamente entre os criadores de visons, e as autoridades temiam que o vírus não apenas contaminasse os cerca de 17 milhões de visons criados no país, como também fosse transmitido de volta dos animais aos humanos. Esse deslocamento já havia sido documentado nos Países Baixos.

Ela encontrou alguns visons ofegantes, com o peito arfando, especialmente os mais velhos, lutando por suas vidas. À medida que seu sistema imunológico se sobrecarregava, os pulmões se enchiam de fluidos. Estavam se afogando. Ao analisar alguns dos animais mortos, ela verificou que “fluido escorria de seus focinhos”.

Algo mais a incomodava também. Em vários criadouros, muitos visons aparentemente saudáveis testaram positivo ou tinham anticorpos contra o novo coronavírus. O fato de que as infecções ocorreram com poucos sinais de doença ou aumento de mortes de visons dificultou a detecção de sua propagação, escreveu ela em fevereiro de 2021 no periódico Emerging Infectious Diseases.

Consequentemente, os criadouros de visons podem representar um “reservatório animal sério e não reconhecido” do novo coronavírus, advertiu Hammer, que conduz pesquisas em nome do governo dinamarquês e da indústria de peles. Infecções não identificadas em animais, criadouros ou na natureza podem minar nossas iniciativas coletivas para combater a pandemia.

“Ainda que seja implantado um programa de vacinação eficiente e que o novo coronavírus seja erradicado em humanos, o que por si só já é bastante difícil, se o vírus persistir na fauna silvestre, causará problemas”, afirma W. Ian Lipkin, diretor do Centro de Infecção e Imunidade da Universidade de Colúmbia. “Devemos evitar um reservatório animal da doença”, afirma ele. O vírus, circulando entre uma população de animais, pode continuar a evoluir e talvez se deslocar sucessivamente entre humanos e essa espécie, tornando-se potencialmente mais transmissível ou mortal a cada replicação, explica ele.

P.J. Smith, diretor de política de moda da organização Humane Society International, é um dos inúmeros defensores do bem-estar animal que afirmam que a disseminação da doença nos criadouros de visons destaca como a indústria é perigosa e desumana. Eles reiteram que este é o momento ideal para encerrá-la porque o número de visons em criadouros é baixo. Os visons são abatidos no fim de outono (do hemisfério Norte), quando sua pelagem está mais espessa e lustrosa, e a reprodução só recomeça por volta do mês de março seguinte.

Mas grupos como a Federação Internacional de Peles, que representa grupos comerciais de peles e criadores, argumentam que o setor é capaz de controlar doenças infecciosas e que a criação de visons é uma parcela importante da indústria global de peles de US$ 22 bilhões. “Muitos desses criadores atuam nesse setor há duas, três, quatro gerações”, afirma Mike Brown, porta-voz da federação nos Estados Unidos. “É o seu sustento.”

Apesar disso, os surtos do novo coronavírus em criadouros de visons expuseram problemas como o monitoramento inadequado de doenças, regulamentações precárias ou inexistentes e coordenação irregular a respeito de um vírus que pode ser transmitido entre humanos e animais.

Mais da metade de todas as doenças que afetam os humanos podem ser transmitidas por animais, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC). Alguns exemplos são a raiva, a salmonela, o vírus nipah (um vírus mortal transmitido por morcegos e letal a porcos e pessoas), o vírus respiratório do Oriente Médio (Mers) e o Sars-CoV-2. A ameaça também segue caminho inverso, o que é conhecido como zoonose reversa. Os humanos podem transmitir gripe comum aos visons, por exemplo.

Reconhecendo a necessidade de tomar medidas mais agressivas, na semana passada a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar e o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças recomendaram mudanças, como conduzir levantamentos semanais do novo coronavírus em criadouros de visons, testar seus funcionários com frequência e realizar testes aleatórios tanto em visons doentes quanto em visons aparentemente saudáveis. Essas precauções não são o padrão nos Estados Unidos, onde geralmente não são feitos testes a menos que os animais estejam nitidamente doentes.

Os visons normalmente vivem amontoados em gaiolas adjacentes. Em janeiro de 2021, mais de 400 criadouros em toda a Europa detectaram o novo coronavírus em seus visons.

Foto de Mads Claus Rasmussen, Getty Images

Medidas desesperadas

A criação de visons para extração de sua pelagem é comum no norte da Europa, América do Norte, Rússia e China, geralmente em criadouros com milhares de animais mantidos em gaiolas uma ao lado da outra. Em ambientes tão apertados, os patógenos podem ser facilmente transmitidos de visons aos funcionários, ou vice-versa, ao inalar gotículas infectadas ou tocar em superfícies contaminadas.

Aliás, desde o segundo trimestre de 2020, o novo coronavírus assolou mais de 400 criadouros na Europa, surgindo mais recentemente, neste mês, na Polônia, o país líder em produção. Em dezembro, foi detectado na América do Norte, no Canadá. No mesmo período, os Países Baixos, outro grande criador de visons, acabaram abatendo seus vários milhões de animais para evitar novos surtos e anteciparam de 2024 para 2021 sua previsão de encerrar a indústria. E, no fim do ano passado, as autoridades da Dinamarca determinaram o abate de todos os visons de criadouros depois que uma variante do vírus específica dos visons foi detectada em pessoas. A Dinamarca e a Suécia cancelaram suas temporadas de reprodução de 2021.

Nos Estados Unidos, o primeiro visom de criadouro com o novo coronavírus foi identificado em Utah em agosto de 2020 e, desde então, ocorreram surtos em 16 criadouros, de acordo com o Serviço de Inspeção de Saúde Animal e Vegetal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (“USDA”, na sigla em inglês). Mike Brown, da Federação Internacional de Peles, declarou que mais de 12 mil dentre os cerca de três milhões de visons criados no país morreram de covid-19 antes do abate anual para extração de peles em dezembro.

Passado um semestre desde o primeiro surto nos Estados Unidos, ainda não se sabe ao certo se o visom transmitiu a doença a pessoas no país, como foi confirmado nos Países Baixos e na Dinamarca.

O USDA não recomendou o abate de visons, mas emitiu diretrizes pedindo que os criadouros infectados fossem colocados em quarentena, que os funcionários utilizassem máscaras faciais de proteção e ficassem em casa caso adoecessem com covid-19. Contudo, nos Estados Unidos, cabe aos governos estaduais a liderança na resposta aos surtos em criadouros de visons.

Permitir que a reprodução tenha início nos Estados Unidos neste ano seria “terrivelmente imprudente”, escreveu a organização sem fins lucrativos Utah Animal Rights Coalition em cartas recentes ao CDC e ao USDA. “É necessária uma ação enérgica para combater a pandemia de covid-19 com eficácia, prevenir a perda de vidas humanas e a transmissão da doença às populações de animais silvestres”, escreveu a organização, pedindo a suspensão da produção de visons.

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    Mais de 200 criadouros de visons dinamarqueses, cerca de um quinto do total do país, foram contaminados com o novo coronavírus em dezembro de 2020.

    Foto de Carsten Snejbjerg, Bloomberg, Getty Images

    Mistérios envolvendo visons nos Estados Unidos

    As infecções pelo novo coronavírus em visons não se limitaram aos criadouros. No segundo semestre do ano passado, pesquisadores em Utah encontraram um visom silvestre nas “proximidades” de um criadouro contaminado com a doença. A notícia, não divulgada pelo USDA até meados de dezembro, aumentou o temor de que os visons transmitam a doença tanto a humanos quanto a animais silvestres. Também em dezembro, biólogos que coletavam amostras de animais silvestres no entorno de criadouros contaminados no Oregon encontraram dois visons que teriam escapado de um criadouro próximo que eram portadores do novo coronavírus.

    Em Utah, onde 12 dos 16 surtos em criadouros de visons ocorreram, cães e gatos que vivem soltos nos criadouros também testaram positivo, lançando dúvidas sobre como aquele visom silvestre pode ter contraído o vírus. Dean Taylor, veterinário do estado de Utah, afirma que é possível que um gato selvagem seja a fonte do contágio. Outra hipótese é que o visom contraiu a doença de outro visom silvestre, o que sugeriria que o vírus já está mais alastrado do que imaginado pelos cientistas. Ou talvez o visom tenha entrado no galpão de visons do criadouro, tenha se contaminado e saído de volta.

    Na natureza, os visons são animais solitários, o que reduz a probabilidade de transmissão de doenças entre visons silvestres, segundo Hammer. Mas, se o novo coronavírus for transmitido de visons a outras espécies da fauna silvestre, essa transmissão “também dependeria da forma de interação entre as populações de visons com as demais espécies”, explica Lane Warmbrod, analista sênior da organização sem fins lucrativos Johns Hopkins Center for Health Security. “Posso afirmar que é inteiramente plausível que um vírus se desloque entre diferentes espécies de mamíferos, como já observado de humanos para visons e vice-versa.”

    Até o momento, nenhuma do pequeno tamanho de amostra de animais silvestres capturados e testados no entorno de criadouros de visons nos Estados Unidos (e na Europa), além do visom silvestre, continha o novo coronavírus.

    Mas nos criadouros dos Estados Unidos, segundo defensores da proteção à fauna silvestre e de saúde pública, há uma falta de transparência preocupante sobre os surtos do novo coronavírus. A Utah Animal Rights Coalition pediu ao governo Biden mais dinamismo no rastreamento de surtos e na avaliação de seus riscos, incluindo medidas como o sequenciamento rápido do genoma do Sars-CoV-2 nos criadouros e a divulgação dos resultados.

    O sequenciamento do genoma do novo coronavírus em visons e humanos, técnica empregada nos Países Baixos e na Dinamarca para ajudar a confirmar rapidamente se o deslocamento do vírus entre espécies ainda está em andamento nos Estados Unidos, de acordo com o CDC. Nos Países Baixos, esse processo foi realizado semanas após o primeiro surto. Já, nos Estados Unidos, o CDC recusou diversos pedidos de entrevistas sobre a lentidão de seu progresso.

    Warmbrod alega que muitos departamentos de saúde carecem da habilidade técnica e das ferramentas necessárias para conduzir análises genômicas e precisam terceirizar o serviço a laboratórios acadêmicos e nacionais, o que pode ocasionar atrasos.

    O CDC declarou à National Geographic em comunicado que está colaborando com o USDA para sequenciar amostras de pessoas e animais em criadouros de visons e áreas vizinhas para entender melhor as vias de transmissão e identificar variantes genéticas do vírus. Esse trabalho leva tempo, afirma o CDC, mas “atualmente, não há evidências da transmissão de visons para pessoas nos Estados Unidos”.

    Antes da temporada de reprodução, o estado de Wisconsin iniciou a vacinação contra o novo coronavírus de funcionários de criadouros de visons, classificando-os como trabalhadores essenciais com risco e prioridade maior do que muitas outras profissões, como professores.

    Os estados têm mantido sigilo sobre o novo coronavírus em criadouros de visons. Além de Utah e Oregon, Michigan e Wisconsin tiveram surtos. O Departamento de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Michigan se recusou a fornecer detalhes, declarando à National Geographic que essas informações são protegidas pela lei estadual de privacidade e que os criadouros não possuem licenças ou regulamentações específicas do estado. E as autoridades do Oregon também se recusaram a fornecer informações, incluindo a localização geral do surto, alegando privacidade médica.

    “O sigilo da indústria e o fato de que os órgãos reguladores se recusam a divulgar informações básicas tornam difícil saber o que foi feito, o que funcionou e o que não funcionou”, afirma Lori Ann Burd, diretora executiva da organização sem fins lucrativos Center for Biological Diversity, com sede no Arizona. Os criadouros não são regulamentados, conta ela, “à exceção de algumas regulamentações relacionadas à água potável aplicáveis a grandes criadouros industriais de visons”. É importante saber com que frequência os visons fogem dos criadouros devido aos possíveis riscos às pessoas e aos animais silvestres, observa ela. “É evidente que há uma necessidade urgente de mais transparência.”

    O grupo de Burd solicitou a membros do legislativo o fechamento dos criadouros de visons nos Estados Unidos — ou, ao menos, um aumento de sua supervisão regulatória.

    Necessidade de melhor detecção e testes

    Nos criadouros de visons dinamarqueses visitados por Hammer, ela relatou ter encontrado material genético do novo coronavírus suspenso no ar ao redor dos visons, em sua pelagem, em moscas e na água das calhas. Em um criadouro, ela encontrou o vírus na pata de uma gaivota. Mas o método de teste utilizado por ela não consegue distinguir se aquele material poderia causar doenças ou se era apenas resíduo viral.

    Hammer não acredita que as aves sejam infectadas pelo coronavírus — não há evidências disso — mas seria útil saber se as aves podem transmitir o vírus de um criadouro de visons a outro, ressalta ela. Na Dinamarca, as gaivotas costumam procurar alimento sob as gaiolas e pássaros menores conseguem entrar nelas e bicar os alimentos armazenados na parte de cima.

    Nenhum animal, incluindo pessoas, vive em isolamento completo. “Sabemos que é preciso tomar precauções adicionais e ser mais proativos no monitoramento da interação entre pessoas e animais”, adverte Warmbrod. Ela aconselha o desenvolvimento de protocolos de monitoramento de doenças padronizados para criadouros de visons e uma integração melhor dos resultados do sequenciamento do genoma da covid-19 a partir das amostras animais e humanas a fim de acompanhar melhor a evolução da doença e detectar quaisquer variantes preocupantes. Até mesmo animais assintomáticos devem ser testados regularmente, observa ela.

    Tracey McNamara, ex-patologista-chefe do Zoológico do Bronx, em Nova York, afirma que os cientistas deveriam ter conduzido estudos imunológicos em amostras de bancos de sangue de zoológicos há um ano para identificar a possível gama de espécies vulneráveis ao Sars-CoV-2. Na época, ela pediu às autoridades dos Estados Unidos que realizassem esses testes. Munidas de informações melhores, prossegue ela, as autoridades poderiam ter desenvolvido diferentes políticas e precauções e implantado uma vigilância mais direcionada.

    Lipkin, da Universidade de Colúmbia, afirma que faz sentido verificar as amostras de sangue disponíveis em zoológicos não apenas em relação ao novo coronavírus, mas também contra outras doenças emergentes. “Muitas pessoas comentaram sobre a ideia de McNamara, mas nunca houve nenhum investimento de fato”, lamenta ele.

    McNamara, que ajudou a determinar, no fim da década de 1990, que o vírus do Nilo Ocidental é transmitido por aves, atribui essa relutância à resistência em admitir que animais de zoológico são suscetíveis a doenças alarmantes que podem afetar pessoas. Lipkin concorda. É plausível, prossegue ele, que “se for iniciada uma discussão sobre infecções em coleções zoológicas, as pessoas vão parar de visitar zoológicos”.

    Na Europa, os abates em massa de visons e o descarte de seus corpos, como ocorreu em um criadouro na Grécia, por vezes representaram desafios logísticos colossais. Nenhum abate foi determinado nos Estados Unidos, onde mais de 12 mil animais morreram de covid-19.

    Foto de Alexandros Avramidis, Reuters

    Como os visons são abatidos

    Geralmente, os visons criados para exploração de suas peles são mortos com monóxido de carbono liberado de latas vendidas comercialmente.

    Os criadouros nos Estados Unidos podem consultar as diretrizes da American Veterinary Medical Association (“Associação de Medicina Veterinária dos Estados Unidos”, em tradução livre) sobre as formas humanizadas de abater animais, afirma Mike Brown, da Federação Internacional de Peles. O estudo sobre envenenamento de visons por monóxido de carbono citado nesse documento afirma que, nas condições ideais, o gás pode interromper a respiração dos visons em dois minutos e causar uma parada cardíaca em menos de dez (a associação veterinária não quis comentar).

    Contudo, em 2016, ao menos dois visons em um grande criadouro em Wisconsin sobreviveram ao envenenamento inicial por gás. Um deles demorou 20 minutos para sucumbir, segundo uma investigação secreta da organização não governamental People for the Ethical Treatment of Animals (“Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais”, em tradução livre). O outro que não morreu acabou tendo o pescoço quebrado pelo criador, descobriram os investigadores. A polícia local, no entanto, concluiu que não houve abuso de animais.

    “Criar visons em confinamento imundo e depois abatê-los por envenenamento por gás, asfixia ou eletrocussão já é invariavelmente cruel”, afirma Delcianna Winders, diretora da Clínica de Litígios de Direito Animal da Faculdade de Direito Lewis and Clark, em Portland, Oregon. Mas os abates em massa durante uma pandemia “elevaram essa crueldade a um patamar totalmente inédito”, prossegue ela. “Quando milhares de visons são amontoados nas câmaras de gás ao mesmo tempo, a probabilidade de sofrimento prolongado e mortes excruciantes aumenta significativamente.”

    A pandemia destacou casos em que os visons não morrem imediatamente. Um vídeo postado nas redes sociais no fim do ano passado por um funcionário de um criadouro dinamarquês mostra um visom vivo se contorcendo entre os mortos enquanto parece estar tentando respirar ar puro por uma fresta na “câmara da morte” — o contêiner cheio de gás. Outras imagens de abates devidos à pandemia nos Países Baixos, filmadas secretamente pelo grupo holandês de bem-estar animal Animal Rights, mostram visons vivos sendo jogados em câmaras de gás móveis.

    Os defensores do setor culpam a inexperiência dos funcionários e as circunstâncias extremas da pandemia por alguns abates em massa malsucedidos.

    O que o futuro reserva?

    Apesar dos prejuízos financeiros causados pelo fechamento dos criadouros de visons durante a pandemia e do crescente clamor de grupos de bem-estar animal que afirmam que a criação de visons é desumana, as vendas de peles estão crescendo.

    Mark Oaten, Presidente da Federação Internacional de Peles, com sede em Londres, explica que os preços das peles no início de 2021 subiram mais de 40% desde setembro de 2020. Ele atribui a alta aos temores das empresas quanto a uma escassez futura, além da forte demanda contínua na China e na Coreia do Sul. “Não são esperadas grandes mudanças para o próximo ano”, conta ele.

    Criadores de visons e grupos da indústria de peles afirmam estar otimistas com o futuro. Embora a maior casa de leilões de visons do mundo, a dinamarquesa Kopenhagen Fur, tenha anunciado planos de fechamento, outras casas de leilões podem ocupar o espaço deixado vazio, observa Oaten. E outros países provavelmente aumentarão a produção para compensar as perdas de peles nos Países Baixos e Dinamarca, acrescenta ele.

    O futuro da indústria de visons dependerá em parte da China, que produziu mais de 11 milhões de peles em 2019, de acordo com a Associação da Indústria de Couro da China. O escritório da Federação Internacional de Peles na China relata que nenhuma infecção pelo novo coronavírus ocorreu em um criadouro chinês de visons. As informações sobre a indústria de visons do país são escassas, incluindo se os animais são testados para o Sars-CoV-2.

    Prejudicados pelo fechamento dos criadouros, alguns produtores de visons dinamarqueses e holandeses podem resolver transferir suas operações a outros países da União Europeia, diz Mick Madsen, chefe de comunicações da Fur Europe, grupo industrial com sede em Bruxelas. “Pelo que sei, não há um grande número deles planejando se mudar, mas alguns certamente o farão”, afirma ele.

    Ao mesmo tempo, várias iniciativas de pesquisas tentam desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus para visons, alimentando as esperanças dos criadores. Virologistas da Universidade de Helsinque, financiados pela indústria finlandesa de peles, estão testando uma vacina que seria aplicada por via injetável ou inalatória, segundo Jussi Peura, diretor de pesquisas da Associação de Criadores de Peles da Finlândia.

    Entretanto P.J. Smith, da Humane Society International, não vislumbra um futuro brilhante para a indústria. “Por causa da pandemia, são esperadas mais proibições de produção, o que diminuirá a oferta, juntamente com mais proibições de importação e venda de peles, o que reduzirá a demanda”. Em algum momento, a criação de visons deixará de ser viável economicamente, afirma ele.

    Até mesmo antes da pandemia, um número crescente de marcas de moda, como Coach, Ralph Lauren e Burberry, havia anunciado que não utilizaria mais visons e outras peles de animais. E vários países europeus — Reino Unido, Eslováquia, Áustria e Bélgica, entre outros — proibiram a produção de visons e outros animais para a exploração de peles.

    Em setembro, a França anunciou planos, ainda em discussão pelo legislativo, para fechar os quatro últimos criadores de visons do país. Passados dois meses, os visons de um criador testaram positivo para o novo coronavírus. As autoridades determinaram o abate de todos os mil animais do criador para proteger a saúde pública.

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