Mpox: o que significa a OMS declarar emergência global novamente

Doença também conhecida como Mpox vem mais uma vez se espalhando rapidamente pelo mundo. O que é e como ela é curada? Veja as perguntas mais frequentes sobre esta infecção.

Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 29 de jul. de 2022, 17:29 BRT, Atualizado 15 de ago. de 2024, 13:00 BRT
Vírus da varíola dos macacos visto pelo microscópio.

Vírus da varíola dos macacos visto pelo microscópio. 

Foto de Centros de Controle e Prevenção de Doenças, CDC

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou novamente que a varíola dos macacos, conhecida oficialmente hoje como Mpox, configura como uma Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional. O novo anúncio (em julho de 2022 a doença foi decretada como emergência mundial também)  foi feito no dia 14 de agosto de 2024 pelo diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante uma coletiva de imprensa. 

A declaração do Dr. Tedros foi feita com base na recomendação de um Comitê de Emergência do RSI formado por especialistas independentes que se reuniram no início do dia 14 para analisar os dados apresentados por especialistas da OMS e dos países afetados. O Comitê informou à Diretora-Geral que considera o aumento de casos de Mpox tem potencial para se espalhar ainda mais pelos países da África e possivelmente fora do continente.

O Dr. Tedros disse oficialmente: “O surgimento de um novo clado de Mpox, sua rápida disseminação no leste da República Democrática do Congo e o relato de casos em vários países vizinhos são muito preocupantes. Além dos surtos em outros países da África, está claro que é necessária uma resposta internacional coordenada para deter esses surtos e salvar vidas”.

Atualmente, no Brasil, o estado de São Paulo registrou ao longo dos primeiros sete meses de 2024 pelo menos 315 casos confirmados de Mpox (antiga varíola dos macacos), segundo os dados da secretaria estadual da Saúde (SES). Conforme relatado o órgão de saúde estadual, entre janeiro e julho deste ano o número de casos da doença cresceu 257% em relação ao mesmo período de 2023, quando apenas 88 casos da doença foram registrados no estado.

em todo o Brasil foram notificados em 2024 ao menos 709 casos confirmados ou prováveis da doença, segundo o Ministério da Saúde. O número é significativamente menor em comparação aos mais de 10 mil casos notificados em 2022, durante o pico da doença no Brasil, segundo a pasta.

O Ministério da Saúde do Brasil instalou nesse dia 15 de agosto um Centro de Operações de Emergência em Saúde para coordenar ações de resposta à doença no país reforçar a vigilância e o planejamento relacionado à Mpox, conforme publicado na Agência Brasil (órgão oficial de informação do governo brasileiro).

No artigo da Agência Brasil, a ministra Nisia Trindade adiantou que entra as medidas que serão adotadas estão a aquisição de testes de diagnóstico, alerta para viajantes e atualização do plano de contingências. Ela também falou sobre vacinas e disse que, por enquanto, não há previsão de imunização em massa.

O que significa o estado de emergência?

A classificação é o alerta mais alto que a OMS pode emitir sobre uma doença, seja ela uma pandemia ou um surto. Atualmente, só há outras duas emergências de saúde deste tipo: a pandemia do coronavírus e a poliomielite.

Esta não é a primeira vez que a agência internacional de saúde determina um estado de emergência em relação ao Mpox. Na verdade, ela também o fez em julho de 2022, depois que a doença se espalhou rapidamente em vários países onde o vírus não havia sido visto antes.

“Essa declaração de 2022 foi encerrada em maio de 2023, após um declínio sustentado nos casos globais”, lembra a OMS em seu site. Agora, o Mpox (varíola do macaco) está mais uma vez disparando o alarme para as autoridades, já que a doença endêmica em países da África Central e Ocidental registrou novos e crescentes casos.

No ano passado, na República Democrática do Congo, os casos registrados aumentaram significativamente. Em 2024, o número de casos registrados até agora ultrapassou o total do ano passado, com mais de 15600 casos e 537 mortes, de acordo com dados da OMS.

Apesar da baixa letalidade, o infectologista se preocupa com os níveis de transmissão da doença. “Estamos vendo que, mesmo em países europeus, o número de casos aumentou. Acredito que na América Latina, com as atuais condições da população, há uma maior possibilidade de transmissão”.

“O surgimento no ano passado e a rápida disseminação de uma nova cepa do vírus na RDC, o clado 1b, que parece se disseminar principalmente por meio de relações sexuais, e sua detecção em países vizinhos são particularmente preocupantes e um dos principais motivos para a declaração do Estado de Emergência Internacional”, diz a agência de saúde da ONU.

No mês passado, mais de 100 casos confirmados em laboratório do clado 1b foram relatados em quatro países vizinhos à República Democrática do Congo que não haviam relatado casos de Mpox anteriormente: Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda, enfatiza a agência da ONU na declaração de 14 de agosto. No entanto, é provável que o número de casos seja ainda maior.

Veja aqui o que você precisa saber sobre o vírus, o risco, a prevenção e se você precisa ser vacinado contra a varíola do macaco. A National Geographic listou seis perguntas baseadas em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA) e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos. 

1. O que é a varíola dos macacos?

De acordo com a OMS, a varíola dos macacos é uma zoonose viral rara que produz sintomas semelhantes aos observados em pacientes com a varíola, no passado, embora menos graves. Com a erradicação da varíola, em 1980, e a descontinuação da vacinação, o Orthopoxvírus, vírus causador da doença, tornou-se mais comum.

Ambos são Orthopoxviruses, um gênero que contém 12 tipos de vírus de DNA, que também inclui o cowpox e o camelpox. Há dois clados (ou variantes) genéticos distintos, explicou Bernard Moss, virologista do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid) dos Estados Unidos, em 2022. Uma delas, a varíola do macaco da Bacia do Congo, que mata 1 em cada 10 pessoas infectadas.

É uma doença zoonótica, transmitida aos seres humanos por animais. Descoberta pela primeira vez em 1958 entre macacos em um laboratório de pesquisa dinamarquês. Acredita-se que os pequenos mamíferos abrigam o vírus nas florestas tropicais africanas, onde é endêmico, mas ele pode infectar muitos mamíferos e só foi isolado de animais selvagens em duas ocasiões: um Funisciurus anerythrus (esquilo de corda) na República Democrática do Congo (RDC) em 1985 e um mangabey na Costa do Marfim em 2012. Os verdadeiros reservatórios da doença permanecem desconhecidos.

Desde o primeiro caso humano relatado em 1970, quando uma criança foi diagnosticada na República Democrática do Congo, a maioria das infecções foi relatada na África Ocidental e Central. De acordo com Rosamund Lewis, responsável técnica pela varíola do macaco na OMS, essas infecções foram inicialmente associadas a eventos de disseminação única, ou surtos, gerados pela caça de animais selvagens infectados

O contato próximo pode disseminar o vírus entre as pessoas. As lesões são “pequenas fábricas virais” contagiosas, explica Andrea McCollum, epidemiologista do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) 2022 Monkeypox Outbreak Response. Porém, até recentemente, o vírus raramente se espalhava além de algumas residências em uma comunidade.

Embora a doença tenha sido descoberta há pelo menos 52 anos, “não sabemos tanto quanto gostaríamos”, lamenta Lewis.

2. Quando ocorreu o primeiro caso registrado de Mpox?

De acordo com a OMS, o primeiro caso humano de varíola dos macacos foi relatado em agosto de 1970, em Bokenda, uma vila na República Democrática do Congo. O infectado foi um menino de nove meses. Uma amostra, enviada ao Centro de Referência da Varíola da OMS em Moscou, revelou sintomas causados ​​pelo vírus da varíola dos macacos.

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    3. Quais são os sintomas?

    Os sintomas do Mpox (varíola dos macacos) são semelhantes aos da varíola, embora um pouco mais leves. Em seus estágios iniciais, pode se manifestar como febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas costas, linfonodos inchados, calafrios e exaustão, esclarece a OMS.

    Além disso, é normal desenvolver uma erupção cutânea que geralmente começa no rosto e se espalha para outras partes do corpo, especialmente as mãos, os pés e até os órgãos genitais. O número de lesões varia e afeta a mucosa oral (70% dos casos), a genitália (30%), a conjuntiva palpebral (20%) e a córnea.

    4. Como o Mpox é transmitido?

    A varíola dos macacos é transmitida pelo contato próximo com uma pessoa infectada e com lesões de pele. O contato pode se dar por meio de abraço, beijo, relações sexuais ou secreções respiratórias, explica a OMS. 

    “É um vírus que se transmite por contato direto, contato próximo de pessoas que tenham lesões ou estejam em um espaço no mesmo cômodo a menos de um metro de distância”, informa o infectologista Carlos Álvarez Moreno. A transmissão também pode ocorrer por contato com objetos, tecidos (roupas, roupas de cama ou toalhas) e superfícies que foram utilizadas pelo infectado.

    Uma das preocupações da OMS é com o estigma que a doença pode provocar, uma vez que a maioria dos contaminados são homens que se relacionam sexualmente com outros homens, especialmente aqueles com múltiplos parceiros.

    “Em acréscimo às nossas recomendações aos países, também chamo as organizações da sociedade civil, incluindo aquelas com experiência no trabalho com pessoas HIV positivo, para trabalhar conosco na luta contra o estigma e a discriminação”, disse Tedros.

    Anne Rimoin, epidemiologista de doenças infecciosas e professora da Escola de Saúde Pública da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (Estados Unidos), argumentou em 2022 que os casos precisam ser cuidadosamente monitorados. “Acho que precisamos ter nossos olhos bem abertos e estar preparados para reagir”, disse ela.

    A educação pública é fundamental. “Não queremos que as pessoas se preocupem, mas a conscientização é o que é necessário para se protegerem”, acrescenta Lewis. “O que precisamos é que todos conheçam seu próprio risco e o gerenciem.

    5. Como a doença é curada?

    Até agora, não há tratamento específico para a infecção. Por isso mesmo, especialistas usam medicamentos antivirais como o cidofovir e o ST-246, juntamente com imunoglobulinas específicas, ​​para controlar surtos de varíola dos macacos.

    6. Existe vacina contra a varíola dos macacos?

    “Do que se sabe até agora, a vacina da varíola comum pode oferecer proteção cruzada contra a varíola dos macacos. Ela é cerca de 85% eficaz na prevenção da varíola dos macacos”, explica o médico infectologista Carlos Álvarez Moreno.

    Ainda assim, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) recomenda a vacinação de grupos de alto risco que entraram em contato direto com outras pessoas infectadas.

    No Brasil, foi realizado um programa de vacinação em 2023. "A vacinação contra a Mpox foi iniciada em 2023, durante a Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, com o uso provisório da vacina liberada pela Anvisa, priorizando a proteção das pessoas com maior risco de evolução para formas graves da doença. Desde o início da vacinação, mais de 29 mil doses foram aplicadas", afirmou o Governo Federal.

    O Ministério da Saúde disse que "caso novas evidências demonstrem a necessidade de alterações no planejamento, as ações necessárias serão adotadas e divulgadas" sobre a imunização contra a doença.

    7. Como se prevenir do contágio da varíola dos macacos?

    De acordo com Carlos Álvarez Moreno, uma vantagem que se tem no caso das contaminações por varíola dos macacos é que já se conhece esse vírus, diferentemente do que aconteceu com o Sars-COV 2, que causa a Covid-19. 

    Para prevenir o contágio, o médico faz os seguintes alertas: “Uma pessoa que fica a pelo menos um metro de distância, por mais de 15 minutos pode correr o risco de se infectar, mas o principal risco é contato próximo”, adverte o especialista. 

    “Neste surto, em particular, o contato sexual também foi visto como um dos possíveis fatores de risco”, explica Moreno. Por isso, o infectologista recomenda evitar tocar nas lesões de uma pessoa infectada, usar máscara – se estiver convivendo com alguém infectado – e usar proteção na hora de ter relações sexuais

    “Se a pessoa apresentar alguns sintomas, principalmente com lesões na pele ou surtos de pele, leve em consideração a peculiaridade de se isolar e ligar para as entidades de saúde para controlar a possibilidade de transmitir o vírus”, explica o especialista.

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