Varíola dos macacos: o que significa a OMS declarar emergência global

Doença se espalha rapidamente pelo mundo. Como ela é curada? Existe uma vacina? Veja as perguntas mais frequentes sobre esta infecção.

Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 29 de jul. de 2022, 17:29 BRT
Vírus da varíola dos macacos visto pelo microscópio.

Vírus da varíola dos macacos visto pelo microscópio. 

Foto de Centros de Controle e Prevenção de Doenças, CDC

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a varíola dos macacos configura emergência de saúde pública de interesse internacional. O anúncio foi feito no último dia 23 pelo diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante coletiva de imprensa. 

O diretor da OMS destacou que o vírus tem se espalhado rapidamente por diversos países, o que aumenta o risco de disseminação internacional. Mais de 16 mil casos já foram relatados em 75 nações, com seis mortes. 

Até o último dia 28, autoridades de saúde de 10 países da América Latina confirmaram casos da doença, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês). São eles: Argentina (20), Chile (45), Colombia (12), Costa Rica (3), Equador (3), México (59), Panamá (1), Peru (251), Venezuela (1).

Nesta sexta-feira (29/7), o Brasil confirmou a primeira morte pela doença, além de 1.066 casos. Os dados são do Ministério da Saúde.

“Temos um surto que se espalhou rapidamente pelo mundo, através de novas formas de transmissão, sobre as quais entendemos muito pouco, e que se encaixa nos critérios do Regulamento Sanitário Internacional. Por essas razões, decidi que a epidemia de varíola dos macacos representa uma emergência de saúde pública de preocupação internacional”, disse Tedros durante a coletiva de imprensa.

O que significa o estado de emergência?

A classificação é o alerta mais alto que a OMS pode emitir sobre uma doença, seja ela uma pandemia ou um surto. Atualmente, só há outras duas emergências de saúde deste tipo: a pandemia do coronavírus e a poliomielite.

Tedros disse que a declaração ajudaria a acelerar o desenvolvimento de vacinas e a implementação de medidas para limitar a propagação do vírus. Isso porque as agências sanitárias pelo mundo baseiam suas decisões nas avaliações da OMS.

Para Carlos Álvarez Moreno, médico infectologista e professor da Universidade Nacional da Colômbia, há três fatores para a OMS declarar o estado de emergência global. O principal deles é que existe o risco de a varíola dos macacos afetar mais países.

“Ou seja, há a ameaça de o vírus continuar avançando e afetar um número significativo da população. A segunda razão é que, precisamente, são necessárias medidas sanitárias conjuntas entre os diferentes países da OMS para conter o surto. O terceiro ponto é a possibilidade do aumento do impacto da doença”, explica Moreno, que também é coordenador de estudos sobre Covid-19 para a Colômbia na OMS. 

Sobre o impacto da enfermidade, o médico infectologista cita que a varíola tem uma “mortalidade significativa na África Central, que é de 10%”. No entanto, Moreno lembra que, até então, a variante do vírus ocidental tem se mostrado menos letal. “Felizmente, até agora, foram registradas apenas cinco mortes entre 15 mil pessoas infectadas, ou seja, menos de 0,03%”. 

Apesar da baixa letalidade, o infectologista se preocupa com os níveis de transmissão da doença. “Estamos vendo que, mesmo em países europeus, o número de casos aumentou. Acredito que na América Latina, com as atuais condições da população, há uma maior possibilidade de transmissão”.

Abaixo, a National Geographic listou seis perguntas baseadas em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA) e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos. 

1. O que é a varíola dos macacos?

De acordo com a OMS, a varíola dos macacos é uma zoonose viral rara que produz sintomas semelhantes aos observados em pacientes com varíola, no passado, embora menos graves. Com a erradicação da varíola, em 1980, e a descontinuação da vacinação, o orthopoxvírus, vírus causador da doença, tornou-se mais comum.

A doença continua a aparecer esporadicamente em algumas partes centrais e ocidentais da floresta tropical africana. Há algumas semanas, não havia evidências de que ela se espalhasse pela Europa, mas a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido relatou o primeiro caso em Londres em 7 de maio.

Desde então, o número de infectados continua a crescer no continente europeu, segundo a imprensa e os governos locais.

2. Quando ocorreu o primeiro caso registrado de varíola dos macacos?

De acordo com a OMS, o primeiro caso humano de varíola dos macacos foi relatado em agosto de 1970, em Bokenda, uma vila na República do Congo. O infectado foi um menino de 9 meses. Uma amostra, enviada ao Centro de Referência da Varíola da OMS em Moscou, revelou sintomas causados ​​pelo vírus da varíola dos macacos.

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    3. Quais são os sintomas?

    Os sintomas da varíola dos macacos são semelhantes aos da varíola, embora um pouco mais leves. Em seus estágios iniciais, pode se manifestar como febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas costas, linfonodos inchados, calafrios e exaustão, esclarece a OMS.

    Além disso, é normal desenvolver uma erupção cutânea que geralmente começa no rosto e se espalha para outras partes do corpo, especialmente as mãos, os pés e até os órgãos genitais. O número de lesões varia e afeta a mucosa oral (70% dos casos), a genitália (30%), a conjuntiva palpebral (20%) e a córnea.

    4. Como a varíola dos macacos é transmitida?

    A varíola dos macacos é transmitida pelo contato próximo com uma pessoa infectada e com lesões de pele. O contato pode se dar por meio de abraço, beijo, relações sexuais ou secreções respiratórias, explica a OMS. 

    “É um vírus que se transmite por contato direto, contato próximo de pessoas que tenham lesões ou estejam em um espaço no mesmo cômodo a menos de um metro de distância”, informa o infectologista Carlos Álvarez Moreno. A transmissão também pode ocorrer por contato com objetos, tecidos (roupas, roupas de cama ou toalhas) e superfícies que foram utilizadas pelo infectado.

    Uma das preocupações da OMS é com o estigma que a doença pode provocar, uma vez que a maioria dos contaminados são homens que se relacionam sexualmente com outros homens, especialmente aqueles com múltiplos parceiros.

    “Em acréscimo às nossas recomendações aos países, também chamo as organizações da sociedade civil, incluindo aquelas com experiência no trabalho com pessoas HIV positivo, para trabalhar conosco na luta contra o estigma e a discriminação”, disse Tedros.

    5. Como a doença é curada?

    Até agora, não há tratamento específico para a infecção. Por isso mesmo, especialistas usam medicamentos antivirais como o cidofovir e o ST-246, juntamente com imunoglobulinas específicas, ​​para controlar surtos de varíola dos macacos.

    6. Existe vacina contra a varíola dos macacos?

    “Do que se sabe até agora, a vacina da varíola comum pode oferecer proteção cruzada contra a varíola dos macacos. Ela é cerca de 85% eficaz na prevenção da varíola dos macacos”, explica o médico infectologista Carlos Álvarez Moreno.

    Ainda assim, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) recomenda a vacinação de grupos de alto risco que entraram em contato direto com outras pessoas infectadas.

    7. Como se prevenir do contágio da varíola dos macacos?

    De acordo com Carlos Álvarez Moreno, uma vantagem que se tem no caso das contaminações por varíola dos macacos é que já se conhece esse vírus, diferentemente do que aconteceu com o Sars-COV 2, que causa a Covid-19. 

    Para prevenir o contágio, o médico faz os seguintes alertas: “Uma pessoa que fica a pelo menos um metro de distância, por mais de 15 minutos pode correr o risco de se infectar, mas o principal risco é contato próximo”, adverte o especialista. 

    “Neste surto, em particular, o contato sexual também foi visto como um dos possíveis fatores de risco”, explica Moreno. Por isso, o infectologista recomenda evitar tocar nas lesões de uma pessoa infectada, usar máscara – se estiver convivendo com alguém infectado – e usar proteção na hora do sexo. 

    “Se a pessoa apresentar alguns sintomas, principalmente com lesões na pele ou surtos de pele, leve em consideração a peculiaridade de se isolar e ligar para as entidades de saúde para controlar a possibilidade de transmitir o vírus”, explica o especialista.

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