Núcleo da Terra teria desacelerado, indica novo estudo
A lava flui para o vale Meralir durante uma erupção vulcânica em Reykjanes, na Islândia.
Um estudo publicado no último dia 23 de janeiro pela revista Nature Geoscience, e intitulado Variação Multidecadal da Rotação do Núcleo Interno da Terra, sugere que a rotação da esfera quente localizada no interior da Terra parou recentemente – o que poderia gerar impactos em nosso planeta.
Originalmente, a Terra é formada por quatro camadas principais, como explica o site da Nasa. São eles o núcleo interno, o núcleo externo, o manto e a crosta.
O núcleo interno é uma esfera sólida feita de metais como ferro e níquel, e com cerca de 1,2 mil km de raio. Nesta região, a temperatura chega a 5400ºC, de acordo com a agência espacial norte-americana.
O núcleo interno da Terra gira mais devagar agora?
Ao estudar as ondas sísmicas registradas de 1960 a 2021, de dois pontos distantes da Terra, o Alasca e as ilhas Sandwich do Sul (perto da Antártida), os pesquisadores Yi Yang e Xiaodong Song, sismólogos da Universidade de Pequim (China), propuseram esta teoria de que o centro da Terra gira em uma direção e depois na outra, em ciclos de quase 70 anos.
Essa análise mostrou que todas as faixas que anteriormente apresentavam mudanças temporais significativas, mostraram poucas mudanças durante a última década. Segundo os pesquisadores, isso pode indicar que o núcleo de interno parou por volta de 2009.
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Ilustração do manto e do núcleo da Terra.
Como a mudança da rotação do núcleo interno impactaria na Terra
“A mudança foi observada em vários pontos do mundo, o que – segundo os pesquisadores – confirma que se trata de um verdadeiro fenômeno planetário relacionado à rotação do núcleo. E não apenas uma alteração local na superfície do núcleo interno”, explica o artigo da Nature.
Além disso, os dados sugerem que o núcleo interno pode estar em processo de sub-rotação (girando mais lentamente que o manto). Caso isso esteja mesmo ocorrendo, continua a Nature, é provável que as forças magnéticas e gravitacionais, que impulsionam a rotação do núcleo interno, sejam influenciadas.
“Tais mudanças podem ligar o núcleo interno a fenômenos geofísicos mais amplos, como aumento ou redução na duração de um dia na Terra”, explica o artigo.
Os resultados da pesquisa, de acordo com a publicação científica, podem ajudar a esclarecer muitos mistérios da Terra profunda, “incluindo o papel que o núcleo interno desempenha na manutenção do campo magnético do planeta e em sua velocidade de rotação e, portanto, a duração de um dia”.
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Existem diferentes teorias sobre a rotação do núcleo da Terra
"Desde a década de 1960, disseram os cientistas Xiaodong Song e Paul Richards, o tempo de viagem das ondas sísmicas geradas desses terremotos mudou, indicando que o núcleo interno está girando mais rápido que o manto do planeta", escreve a jornalista Alexandra Witze, em reportagem sobre o artigo no site da Nature.
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Estudos posteriores concluíram que o núcleo interno gira mais rápido que o manto em, aproximadamente, um décimo de grau por ano. Outro estudo, no entanto, sugere que a super rotação ocorre principalmente em períodos distintos, em vez de ser um fenômeno contínuo e constante.
Por outro lado, a publicação lembra que "alguns cientistas argumentam que a super rotação não existe e que as diferenças nos tempos de viagem dos terremotos são causadas por mudanças físicas na superfície do núcleo interno".
Além disso, em junho de 2022, os pesquisadores John Vidale e Wei Wang usaram dados de ondas sísmicas geradas por explosões de testes nucleares dos Estados Unidos entre 1969 e 1971, e relataram que, entre esses anos, o núcleo interno da Terra teria girado mais lentamente que o manto. “Somente depois de 1971, dizem esses cientistas, ele ganhou velocidade e começou a girar excessivamente”, menciona o artigo.
No texto publicado pela Nature, os pesquisadores afirmam que o estudo que consta na Nature Geoscience “é apenas a mais recente contribuição de um esforço prolongado para explicar a rotação incomum do núcleo interno, e não pode ser a última palavra sobre isso”. Eles também esclareceram que ainda há muitas perguntas a serem respondidas sobre o tema.