Descoberto um novo megaraptor na Argentina — e com sua última vítima ainda na boca
Um osso de crocodilo preso entre as mandíbulas deste dinossauro de 70 milhões de anos dá aos cientistas uma visão rara da vida dos raptores, considerados “primos” do T-Rex.

Uma reconstrução do recém-descoberto megaraptor Joaquinraptor casali da Argentina com um braço de crocodilo da era cretácea na boca.
Enquanto o grande Tiranossauro Rex rondava a América do Norte pré-histórica, um predador de topo muito diferente vivia no território antigo da Argentina: o megaraptor Joaquinraptor casali, recém-descoberto.
Quando os paleontólogos escavaram o dinossauro, fizeram uma descoberta intrigante. Entre suas mandíbulas enormes estava o osso do braço de um crocodilo do Cretáceo. A descoberta oferece um vislumbre do que pode ter sido a última refeição do carnívoro há cerca de 70 milhões de anos.
“O comportamento fossilizado, se é que é realmente isso, é tão raro que você tem que comemorar quando acontece”, diz Matthew Lamanna, paleontólogo do Museu Carnegie de História Natural em Pittsburgh, nos Estados Unidos, e explorador da National Geographic.
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O sítio arqueológico Valle Joaquín, na província de Chubut, na Patagônia central, Argentina, onde o Joaquinraptor casali foi encontrado. Os estratos fossilíferos expostos em Valle Joaquín pertencem a uma unidade rochosa chamada Formação Lago Colhué Huapi e têm aproximadamente 67 milhões de anos.
Qual é o tamanho do megaraptor descoberto?
Além do crânio do megaraptor, a equipe de Lamanna também desenterrou seus braços, partes das pernas, algumas costelas, vértebras e outros pedaços petrificados. Eles estimam que o Joaquinraptor tinha mais de 7 metros de comprimento e pesava mais de uma tonelada.
Provavelmente, ele atacava suas presas com seu focinho alongado e agarrava suas vítimas com seus braços robustos, dotados de garras impressionantemente longas e curvas. Lamanna e seus colegas descreveram a nova espécie na terça-feira na revista “Nature Communications”.
O Joaquinraptor, apesar de ser representado apenas por um esqueleto parcial, está entre os megaraptores mais completos já encontrados. Encontrar um desses raros dinossauros com uma refeição em potencial ainda em suas mandíbulas é ainda mais inesperado.
Fósseis que revelam o que os animais pré-históricos comiam são incomuns. Quando aparecem, eles fornecem pistas importantes sobre a vida e a ecologia de espécies extintas. Os paleontólogos já viram isso algumas vezes antes, como em tiranossauros com gosto por coxinhas de frango e um mosassauro com pedaços de peixe em suas entranhas.
Dentes afiados podem nos dizer que os megaraptores comiam carne, mas esses restos de comida preservados podem mostrar o que estava no cardápio.
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A gigantesca garra do polegar de um dinossauro megaraptor relacionado (mas geologicamente muito mais antigo) à nova espécie Joaquinraptor casali.
Fósseis da nova espécie de megaraptor Joaquinraptor casali na pedreira onde este dinossauro foi encontrado, na posição em que estavam há aproximadamente 67 milhões de anos. A cintura escapular e o membro anterior articulados (ainda conectados como estavam em vida) são visíveis, assim como o fêmur, algumas costelas e dentes, o dentário direito (osso da mandíbula inferior que sustenta os dentes) e muito mais.
Qual é a relação entre os megaraptores e os T-Rex?
Em 2019, Lucio Ibiricu, paleontólogo do Instituto Patagônico de Geologia e Paleontologia, na Argentina, estava prospectando as rochas cretáceas da província de Chubut, na Patagônia central, em busca de novos sítios fósseis. Durante a busca, seu colega Bruno Alvarez viu um pequeno fragmento de osso saindo da rocha. O local parecia promissor e, alguns meses depois, os pesquisadores voltaram para descobrir cuidadosamente o que estava escondido ali.
“Nesse momento, percebemos que a descoberta era uma das mais importantes para a equipe”, diz Ibiricu. Os ossos do crânio e do braço não deixavam dúvidas de que o fóssil pertencia a um megaraptor, um grupo enigmático de dinossauros predadores que viveram na Ásia, Austrália e América do Sul pré-históricas.
Esses dinossauros têm confundido os paleontólogos desde que o gênero Megaraptor foi nomeado em 1998. Como o nome indica, eles são maiores do que os chamados “raptores”, como o Velociraptor, que tinha o tamanho mais ou menos de uma ave como o peru.
Os dinossauros tinham focinhos longos e baixos e braços robustos com garras grandes e intimidadoras. Os paleontólogos levantam a hipótese de que eles eram parentes próximos dos tiranossauros, mas prosperavam em habitats onde os T-Rex estavam ausentes. Até o momento, a maioria das espécies de megaraptores é conhecida apenas por restos fragmentados.
“Os megaraptoranos são um mistério principalmente porque a maioria de seus fósseis está muito danificada”, diz Lamanna. Os fósseis são “completos o suficiente para nos mostrar que esses extraordinários dinossauros predadores existiram, mas não completos o suficiente para nos dizer muito sobre eles”.
Embora os primeiros megaraptores datem de cerca de 132 milhões de anos, o Joaquinraptor foi um dos últimos. Ele viveu entre 70 e 66 milhões de anos atrás, no final do Cretáceo, antes da extinção provocada por um asteróide que encerrou o apogeu dos dinossauros.
“A nova descoberta oferece novidades interessantes sobre a sobrevivência dos dinossauros megaraptorídeos até o final do Mesozóico”, afirma Fernando Novas, paleontólogo do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia.
Fernando Novas já havia descoberto o megaraptor Maip macrothorax, também na Argentina, mas não fez parte da equipe que descobriu o Joaquinraptor. A nova espécie, observa ele, indica que os megaraptores eram numerosos e diversos na América do Sul até o final do Cretáceo.
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“Esses dinossauros têm confundido os paleontólogos desde que o gênero Megaraptor foi nomeado em 1998. Como o nome indica, eles são maiores do que os chamados “raptores”, como o Velociraptor.”
A última refeição do dinossauro?
O Joaquinraptor era, sem dúvida, um predador de topo que caçava nas florestas do interior do sul da Argentina. Mas será que ele realmente devorou um crocodilo pouco antes de morrer?
É possível que o osso de crocodilo tenha acabado entre as mandíbulas do megaraptor por coincidência. Mas se a água corrente tivesse misturado os restos mortais de várias criaturas, o local do fóssil teria ficado uma bagunça.
Em vez disso, os ossos do braço do Joaquinraptor foram parcialmente encontrados articulados, próximos uns dos outros e alguns ainda conectados. A posição quase natural desses ossos sugere que o fluxo de água que enterrou o fóssil não era particularmente forte e, portanto, menos provável de ter trazido outros ossos da área circundante.
Os estudos estão em andamento, dizem os integrantes da equipe, mas a maneira como os ossos do dinossauro ficaram dispostos sugere que o crocodilo era alimento, e não uma inclusão acidental. Mas se for apenas coincidência, “então a Mãe Natureza está pregando uma peça cruel em Lucio, em mim e em nossos co-autores, porque várias coisas sobre essa associação entre dinossauro e crocodilo são superestranhas”, diz Lamanna.
Ibiricu acrescenta que não havia outros ossos além do fêmur do crocodilo encontrado perto do Joaquinraptor, aumentando as chances de que o dinossauro tenha realmente sido enterrado com sua última refeição na boca.
“Este é um aspecto sensacional da descoberta”, diz Novas, “e imagino que possa constituir um instantâneo fotográfico da interação ecológica entre dois grupos predadores diferentes”.
Em agosto deste ano, Fernando Novas e seus colegas descreveram um novo crocodilo do final do Cretáceo chamado Kostensuchus atrox, encontrado em camadas rochosas datadas aproximadamente da mesma época do Joaquinraptor. É bem capaz, portanto, que ele seja o tipo de crocodilo que se tornou um pedaço de comida na boca desse megaraptor.
