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Sintomas da menopausa que não desaparecem? Pode ser uma síndrome ainda pouco conhecida

Entre 27% e 84% das mulheres sofrem da Síndrome Geniturinária da Menopausa, uma condição subdiagnosticada com consequências profundas no dia a dia das mulheres.

Embora sintomas como ondas de calor, alterações de humor e distúrbios do sono diminuam gradualmente após as mulheres atingirem a menopausa, alguns não desaparecem. Muitas mulheres na pós-menopausa apresentam outros sintomas conhecidos coletivamente como Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGM).

Foto de Illustration by Shubhangi Ganeshrao Kene, Getty Images
Por Beth Howard
Publicado 1 de set. de 2025, 06:05 BRT

No período que antecede a menopausa, conhecido como perimenopausa, as mulheres geralmente já sofrem com ondas de calor, suores noturnos, secura vaginal e distúrbios do sono e de humor, provocados pela diminuição dos níveis de estrogênio. Com o início da menopausa (que se dá oficialmente 1 ano após a cessação dos ciclos menstruais), a maioria das mulheres começa a sentir um alívio gradual até que os sintomas desapareçam.

Só que nem sempre isso acontece, há uma exceção notável. É chamada de Síndrome Geniturinária da Menopausa (GSM), que se refere a sintomas vaginais incômodos e alterações urinárias que não só não melhoram, mas pioram à medida que as mulheres envelhecem. Entre 27% e 84% das mulheres apresentam esse problema. Só que, no entanto, é bem provável que você nunca tenha ouvido falar dele.

Nunca ocorre às mulheres que isso faz parte da menopausa”, afirma Lauren Streicher, diretora médica do Centro de Medicina Sexual e Menopausa da Northwestern Medicine, nos Estados Unidos. “Elas pensam: ‘Isso é apenas o que acontece com o envelhecimento’”.

A SGM refere-se a um conjunto de sinais e sintomas, como: secura vaginalcoceira e irritação da vagina e vulvadiminuição da lubrificação e da libidocorrimento branco ou amareladodor durante a penetração sexual; e dorardor ou aumento da frequência urinária. Também pode ser a causa de infecções recorrentes do trato urinário.

Embora cerca de 1/4 das mulheres apresente esses sintomas durante a perimenopausa, eles são mais comuns após a transição — às vezes muito tempo depois. “Eles podem se desenvolver 10 ou 12 anos depois do início da menopausa”, diz Streicher.

Há um bom motivo para você — ou seu médico — não estar familiarizado com o termo. Isso porque anteriormente conhecido como Atrofia Vulvovaginal, a  Síndrome Geniturinária da Menopausa foi renomeada por um painel de especialistas em ginecologia há apenas uma década para chamar a atenção para sintomas menos conhecidos e sua causa. 

“A esperança era que as mulheres reconhecessem que isso pode ser tratado”, comenta Stephanie Faubion, diretora médica da Menopause Society e diretora do Mayo Clinic Center for Women's Health, nos Estados Unidos.

“Lembro-me de uma onda de calor particularmente forte, meu coração disparou”, disse Lisa Davis, enquanto posava ...

“Lembro-me de uma onda de calor particularmente forte, meu coração disparou”, disse Lisa Davis, enquanto posava para uma foto em Berkhamsted, Reino Unido. Uma visita ao médico confirmou que ela estava na perimenopausa e que poderia levar uma década até que seus sintomas diminuíssem. Só que nem sempre diminui, se após a menopausa a mulher tem a SGM.

Foto de Elizabeth Dalziel

O que causa a Síndrome Geniturinária da Menopausa e como ela afeta a vida cotidiana?


diminuição dos níveis do hormônio estrogênio é a causa do SGM. O estrogênio promove a umidade e as secreções vaginais, mantém o revestimento vaginal espesso e o tecido flexível e elástico. Quando o corpo começa a produzir menos estrogênio, isso não só rouba a umidade e a lubrificação da vagina, mas também afeta outros tecidos.

“Também existem receptores de estrogênio na uretra e na bexiga”, explica James Simon, professor clínico de obstetrícia e ginecologia da Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde da Universidade George Washington, nos Estados Unidos. A mudança no ambiente do trato urinário permite que bactérias “ruins”, como a E. colise proliferem na vagina e na uretra, causando irritação e aumentando o risco de infecções urinárias, diz ele.

Essas mudanças têm um grande efeito na vida sexual das mulheres. A dor durante a atividade sexual é comum entre mulheres com SGM que não foram tratadas. Um estudo de 2013 com mais de 3 mil mulheres na pós-menopausa descobriu que 1/4 delas sofria com relações sexuais dolorosas com frequência semanal. 

“E se as mulheres estão acostumadas ao sexo com penetração, isso cria um grande problema, porque agora elas às vezes temem a atividade sexual”, explica Sheryl A. Kingsberg, professora de biologia reprodutiva e psiquiatria da Faculdade de Medicina da Case Western Reserve University, em Ohio, nos Estados Unidos

A relação sexual dolorosa pode causar espasmos nos músculos do assoalho pélvico, agravando o problema, explica Kingsberg. Portanto, mesmo que a secura vaginal das mulheres seja eventualmente tratada, elas podem continuar a sentir desconforto durante o sexo se não procurarem ajuda para os músculos tensos.

A síndrome também tem consequências profundas para outros aspectos da saúde e da qualidade de vida das mulheres, afirmam os especialistas. “Não se trata apenas de sexo”, diz Faubion. 

“Trata-se de sentir também desconforto ao usar jeansandar de bicicleta ou usar papel higiênico para se limpar após urinar.”

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    “Trata-se de sentir também desconforto ao usar jeans, andar de bicicleta ou usar papel higiênico para se limpar após urinar.”

    por Stephanie Faubion
    Diretora da Menopause Society dos Estados Unidos

    Streicher afirma que as mulheres que sofrem de SGM frequentemente têm “consciência da vulva” — uma sensação desconfortável, com coceira e irritação –  devido ao tecido seco e inflamado. Em um estudo de 2019, as mulheres descreveram uma coceira tão intensa que não conseguiam dormir ou uma sensação dolorosa de secura que as obrigava a parar de frequentar aulas de ginástica. Algumas culparam os problemas sexuais relacionados à SGM pelo fim de seus casamentos.

    Os problemas urinários associados à SGM são particularmente preocupantes devido à frequência com que podem ser diagnosticados incorretamente e não tratados. Quando os profissionais de saúde não sabem que a síndrome está por trás das infecções urinárias de uma mulher, elas continuam a ter infecções

    Ao mesmo tempo, os médicos podem presumir que os sintomas de micção dolorosa e frequente são ITUs e prescrever antibióticos quando o problema é, na verdade, a irritação e o ressecamento dos tecidos urinários. “É o mesmo sintoma, mas pode não ser a mesma causa”, diz Kingsberg.

    As complicações podem ser especialmente graves à medida que as mulheres envelhecem. Décadas da síndrome sem tratamento adequado podem realmente causar a fusão dos órgãos genitais externos, bloqueando potencialmente o fluxo de urina e contribuindo para a infecção. “Existem situações médicas graves, como infecções recorrentes do trato urinário, que podem evoluir para sepse”, explica Streicher. “Embora isso seja raro, não é exagero dizer que as mulheres podem morrer de SGM.”

    O estudo da saúde da mulher até hoje não é tão avançado, mas começa a ter ...

    O estudo da saúde da mulher até hoje não é tão avançado, mas começa a ter mais estudos e pesquisas direcionados a esse público e novos tratamentos para as questões femininas surgem - como para a SGM.

    Foto de Hannah Whitaker

    Encontrando alívio para SGM


    Apesar de agora ter um nome mais preciso, a SGM ainda é notoriamente subdiagnosticada. “E apenas uma pequena fração das mulheres é tratada, apesar da disponibilidade de boas terapias”, afirma Faubion. Um estudo recente mostrou que apenas 7% das mulheres na menopausa receberam medicamentos que poderiam ajudar a controlar os sintomas.

    O primeiro passo para o alívio é usar hidratantes vaginais de venda livre para manter os tecidos vaginais úmidos no dia a dia, bem como lubrificantes para reduzir o atrito e a dor especificamente durante a relação sexual. Os especialistas em menopausa geralmente recomendam o uso de hidratantes todos os dias (ou a cada três dias para algumas preparações) para reter a umidade, assim como você faria com cremes faciais.

    No entanto, alguns especialistas alertam contra hidratantes e lubrificantes à base de água, que muitas vezes contêm ingredientes que aumentam a “osmolalidade” do produto — o que significa que retiram a umidade das células vaginais e podem até mesmo promover o ressecamento, diz Streicher. Produtos à base de silicone ou lubrificantes à base de água com um índice de osmolalidade inferior a 380 podem ser melhores opções, sugerem as pesquisas.

    “Se o único sintoma de alguém for dor durante o sexo com penetração, e se for leve, então você pode começar com um desses”, comenta Streicher. “Se isso não funcionar, ou se você estiver tendo sintomas urinários, então é hora de seguir o caminho da prescrição médica.”

    Como a perda de estrogênio causa os sintomas da SGM, ele também é o tratamento padrão-ouro quando administrado localmente — como creme vaginal, comprimido, supositório ou anel. É uma escolha segura para quase todas as pessoas, pois não entra na corrente sanguínea, diz Streicher.

    “O estrogênio restaura as bactérias mais saudáveis na vagina e, como resultado, a vagina pode se defender de patógenos, além de ser saudável para qualquer tipo de atividade sexual”, diz Simon. Uma pesquisa recente publicada no Journal of Urology mostrou que mulheres que usam estrogênio vaginal regularmente para infecções urinárias recorrentes têm taxas significativamente mais baixas de sepse e morte.

    Mulheres que desenvolveram músculos pélvicos tensos devido a relações sexuais dolorosas e outros sintomas vaginais podem se beneficiar da fisioterapia pélvica e/ou do uso de dilatadores vaginais, explica Kingsberg. Além desses remédios, existem remédios de alta tecnologia, como tratamentos a laser e radiofrequência, que pretendem estimular a formação de novos tecidos, embora os dados sugiram que eles não sejam tão eficazes no alívio dos sintomas.

    Se o seu médico parece não ter conhecimento sobre SGM, pode ser sensato procurar ajuda em outro lugar, dizem os especialistas O número de especialistas nesta patologia aumentou, só nos de cerca de mil há uma década para 10 hoje nos Estados Unidos, diz Kingsberg, então não há necessidade de sofrer em silêncio e há todos os motivos para acreditar que as coisas podem melhorar.

    Faubion afirma: “A boa notícia é que temos terapias seguras e eficazes para mulheres com SGM e, com o tratamento, a maioria das mulheres pode esperar a resolução completa dos sintomas”.

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