Fóssil raro de primo de crocodilo esmagador de ossos é encontrado no Brasil

Acredita-se que o réptil pré-histórico tenha exercido um papel surpreendente e crucial em seu ecossistema no Triássico.

Por Jill Langlois
Publicado 6 de fev. de 2020, 17:06 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A espécie recém-descoberta de réptil pré-histórico, chamada Dynamosuchus collisensi, viveu 230 milhões de anos atrás durante ...
A espécie recém-descoberta de réptil pré-histórico, chamada Dynamosuchus collisensi, viveu 230 milhões de anos atrás durante o período Triássico. Suas costas eram protegidas por duas fileiras de ossos dérmicos.
Foto de Ilustração de Márcio L. Castro

SÃO PAULO, BRASIL Rodrigo Müller analisava um bloco de rocha e terra na base do Morro Agudo, a uma hora de Porto Alegre, quando notou pela primeira vez um conjunto incomum de osteodermos, depósitos ósseos que formam placas na pele de um réptil ou anfíbio.

“Foi uma surpresa porque nunca tínhamos visto nada parecido no Brasil”, afirma Müller, paleontólogo da Universidade Federal de Santa Maria, em referência ao que era para ser uma visita comum ao sítio de escavações Janner, que já abrigou alguns dos primeiros dinossauros a vagar pela Terra.

Enquanto prosseguia com o trabalho delicado, retirou a terra de um crânio intacto e de vários outros ossos fossilizados. O conjunto formou um esqueleto bastante preservado e quase completo de um réptil raro de Ornithosuchidae, família considerada prima dos atuais crocodilos e jacarés, antes registrada somente na Argentina e na Escócia.

Datado de 230 milhões de anos atrás, o Dynamosuchus collisensis — batizado recentemente em razão de sua mordida poderosa e do local da descoberta — foi descrito em 31 de janeiro no periódico Acta Palaeontologica Polonica por uma equipe formada por colegas de Müller do Museu de La Plata, na Argentina, e do Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, nos Estados Unidos. Apenas três outras espécies de ornitossuquídeos foram descobertas no mundo. A última foi encontrada na Argentina e descrita há 50 anos.

Este esqueleto de Dynamosuchus collisensi foi descoberto perto de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
Foto de Rodrigo Temp Müller

Embora sua mordida fosse capaz de esmagar ossos e seus dentes semelhantes a lâminas pudessem rasgar a carne, Müller e colegas acreditam que o Dynamosuchus collisensis fosse um pacato saprófago que se alimentava de carniça como os atuais urubus e hienas. Consumia principalmente carcaças de animais e presas fáceis, o que significa que exercia um papel crucial na cadeia alimentar que os paleontólogos desconheciam nessa região do Brasil.

“A descoberta nos ajuda a entender melhor o funcionamento desse ecossistema”, afirma Müller.

Sem carniceiros como o Dynamosuchus collisensis, carcaças e outros restos orgânicos se acumulariam em vez de se decompor. Essa desintegração permite que as plantas absorvam nutrientes essenciais. As plantas então servem de alimento a herbívoros e onívoros, permitindo que o ciclo prossiga.

Infinidade de ossos

Esse réptil do Triássico era bastante grande comparado a outros animais que viveram durante o período, medindo mais de dois metros de comprimento. Ao contrário de seus parentes modernos, o Dynamosuchus collisensis era terrestre. Seus quatro membros ficavam embaixo do corpo e não nas laterais, ao passo que os osteodermos eram distribuídos em duas fileiras protetoras pelas costas.

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A espécie vagava por florestas cercadas por rios ao lado de alguns dos mais antigos dinossauros conhecidos do mundo, ancestrais de mamíferos chamados cinodontes e outros répteis, como os rincossauros.

Os fósseis recém-revelados fazem uma correlação entre a evolução e as interações entre os locais onde viveram os ornitossuquídeos, grandes massas continentais que, na época, faziam parte do supercontinente Pangeia. O animal descoberto no Brasil está mais próximo de um dos espécimes encontrados na Argentina do que os dois espécimes da Argentina estão um em relação ao outro. Essa descoberta indica que as espécies da fauna se modificavam em razão das longas distâncias, e que a evolução não ocorreu de maneira isolada, explica Müller.

“A existência de organismos muito próximos em parentesco no Brasil e na Argentina durante a mesma época indica uma semelhança no ambiente e nas ecologias, embora cada região tenha diferenças que promovam a especiação”, explica Marco Aurélio Gallo de França, paleontólogo da Universidade Federal do Vale de São Francisco, que não participou da descoberta.

Devido à condição intacta do fóssil de Dynamosuchus collisensis, Müller e outros pesquisadores poderão realizar mais testes relacionados à força da mordida do réptil, empregando tomografias computadorizadas para criar modelos digitais tridimensionais.

“Está muito bem preservado. Praticamente não há deformação em nenhum dos ossos e boa parte do crânio e do esqueleto pós-craniano está bastante completa para esse tipo de animal”, afirma Müller em referência ao fóssil. “Há tanta informação guardada nesses ossos.”

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