
As metas de Ano Novo não são uma moda passageira: elas existem há 4 mil anos
Uma mulher, grávida de seu primeiro bebê, pratica yoga ao lado da ponte do Brooklyn, no Brooklyn.

Os antigos babilônios estabeleceram a primeira prática conhecida de fazer promessas de ano novo, uma tradição que perdura há mais de 4 mil anos.
Todo dia 1º de janeiro, milhões de pessoas estabelecem algumas “metas para o novo ano”, como a intenção de se exercitar mais, gastar menos dinheiro ou ser mais gentis — um ritual que pode parecer profundamente moderno, mas que na realidade tem raízes surpreendentemente antigas.
A tradição de fazer resoluções de Ano Novo remonta a quase 4 mil anos, originando-se em civilizações que marcavam o novo ano como um período de renovação e reflexão. “O desejo de recomeçar é um impulso humano”, afirma Candida Moss, professora da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, especializada em história antiga e cristianismo primitivo.
Dos votos feitos por reis babilônicos às promessas pessoais de hoje em dia, a prática evoluiu, mas sua essência permanece surpreendentemente familiar: dar as boas-vindas a um novo ano com a esperança de se tornar uma pessoa melhor.
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As origens ancestrais das resoluções de Ano Novo
Os babilônios estiveram entre as primeiras civilizações a celebrar o início de um novo ano, marcando a ocasião com festivais e rituais. "Há muita documentação escrita sobre festivais de Ano Novo na antiga Babilônia, Síria e outros lugares da Mesopotâmia, ligados à noção do início de um novo ano", diz Eckart Frahm, professor de línguas e civilizações do Oriente Próximo na Universidade de Yale.
Esses festivais, frequentemente ligados ao equinócio da primavera, tinham como foco expressar gratidão aos deuses por uma colheita farta, explica Frahm, e não fazer resoluções. Manter esses votos não era trivial — acreditava-se que cumpri-los garantia o favor divino para o ano seguinte, enquanto quebrá-los implicava o risco da ira dos deuses.
No entanto, no final do primeiro milênio a.C., um rei babilônico jurou publicamente ser um governante melhor. Esse ato, às vezes chamado de "confissão negativa", não era simplesmente uma reflexão pessoal, mas uma declaração pública de responsabilidade. Os estudiosos debatem se esse evento realmente ocorreu ou se a história foi influenciada por dissidências dentro da classe sacerdotal. De qualquer forma, essa tradição lançou as bases para o que hoje conhecemos como resoluções ou metas de Ano Novo.
Embora os babilônios possam ter concebido a ideia, foram os romanos que consolidaram o dia 1º de janeiro como o início do ano novo. Assim como os babilônios, eles celebravam com festivais e rituais, mas os romanos também incorporaram elementos práticos de renovação, incluindo a “limpeza de primavera sobrenatural” e votos de renovação. “Essas tradições se concentravam em começar o ano com o pé direito: limpar as casas, abastecer a despensa, pagar as dívidas e devolver os itens emprestados”, afirma Moss.
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Objetivos familiares, nova abordagem
Muitos séculos mais tarde, a tradição cruzou o Atlântico e chegou à América Colonial, onde os puritanos priorizaram a introspecção em detrimento da folia. "Havia um desejo de evitar a devassidão e refletir sobre os anos que passavam e os que viriam. Esse período marcou o surgimento das resoluções em um sentido moderno", afirma Moss.
Alexis McCrossen, professora de história na Southern Methodist University, nos Estados Unidos, afirma que, naquela época, era comum as igrejas terem um "sermão de sábado", que acontecia no primeiro domingo do ano. Esses sermões (incluindo um famoso sermão de Thomas Foxcroft em 1724) frequentemente enfatizavam que o tempo é fugaz e que os fiéis deveriam ser os melhores servos de Deus.
Diários do início da história norte-americana revelam indivíduos prometendo vencer o pecado ou se abster de álcool, frequentemente usando frases como "Eu me resolvo" ou "Estou decidido a fazer", comenta McCrossen. O teólogo da Nova Inglaterra, Jonathan Edwards, personificava esse espírito introspectivo, criando 70 resoluções ao longo de vários anos, incluindo "nunca falar mal de ninguém, exceto quando tiver um bom motivo para isso", ou, em essência, "parar de fofocar", diz Moss.
No século 19, as resoluções de Ano Novo transcenderam suas origens cristãs. "Atualmente, as resoluções e as metas são em grande parte seculares, refletindo a secularização mais ampla da sociedade", explica Moss.
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Um casal troca um beijo comemorativo no Baile do Milênio do Prefeito Daley, em Chicago, Estados Unidos, marcando a virada do ano.
Por que a tradição continua
Artigos de jornais ao longo do século 20 mostram como as resoluções de Ano Novo mudaram pouco com o tempo. Um artigo de véspera de Ano Novo de 1912 no jornal The Sacramento Star afirmava que as metas de Ano Novo eram um momento para abandonar maus hábitos.
Em 1938, o jornal The Miami Daily News incentivava as leitoras a manterem suas resoluções pequenas e alcançáveis, alertando contra "resoluções brilhantes que você sabe, no fundo, serem tão frágeis quanto enfeites de árvore de Natal, votos de casamento ou promessas de campanha".
A ideia de que as resoluções de Ano Novo não funcionam também foi amplamente documentada em jornais ao longo dos anos. Um artigo publicado no Fort Myers News-Press em 30 de dezembro de 1937 apresentava psicólogos afirmando que as metas de Ano Novo não funcionam.
Em 1941, o The Afro-American Times publicou um artigo em 4 de janeiro declarando que a maioria das pessoas não faz resoluções porque elas nunca são cumpridas — no Brasil de hoje a coisa é diferente, a maioria das pessoas adora fazer metas e resoluções, se cumprem é algo realmente que só cada um pode responder.