
Como Roma foi fundada? A cidade não foi criada em um dia, e nem pelos gêmeos Rômulo e Remo
Um mosaico no piso da Galleria Vittorio Emanuele, em Milão, é um dos muitos exemplos da arte inspirada na lenda de Rômulo e Remo.
Uma das cidades mais famosas e importantes da História mundial, que segue sob os holofotes do mundo por sua importância histórica, arquitetônica e política (afinal em seu terreno também está o estado Vaticano), tem diferentes lendas que contam sua fundação. Porém, como Roma foi realmente fundada? Foi em um só dia? Foram os gêmeos Rômulo e Remo que criaram a “cidade eterna”? Veja os fatos reais em torno de como a cidade italiano se formou há séculos.
Os etruscos, um povo altamente civilizado, tiveram um enorme impacto sobre a geografia, a arquitetura, o governo, o comércio e a agricultura da cidade de Roma. Eles criaram excelentes escolas para as quais os romanos ricos enviavam seus filhos, da mesma forma que, anos mais tarde, os enviaram para institutos gregos.
No século 6 a.C., algumas das instituições mais famosas de Roma, do Fórum ao Senado, já existiam, mas até mesmo os historiadores mais conceituados da Antiguidade — incluindo Fábio, Lívio e Plutarco — começaram seus relatos sobre a criação de Roma com uma lenda – que se popularizou no mundo todo, claro.
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As lendas sobre a fundação de Roma
A história da fundação de Roma começa em Alba Longa, a primeira “cidade” de Latium, uma região no centro-oeste da Itália, ocupada por latinos. A área era habitada desde a Idade do Bronze por comunidades agrícolas e era conhecida pelos gregos antigos, talvez por isso Enéias, um príncipe de Troia, tenha se estabelecido na região por volta de 1150 a.C.

De acordo com o historiador Lívio, não houve agressão sexual contra as mulheres sabinas. Na imagem, Hersilia separa Rômulo e o rei sabino, Tatius.
De acordo com a lenda, em Alba Longa, dois descendentes de Enéias, os irmãos Amúlio e Numitor, brigaram para decidir quem governaria. Amúlio triunfou, matando os filhos de Numitor e exilando sua filha, Rhea Silvia, para se tornar uma Virgem Vestal. Por intervenção divina, ela deu à luz os gêmeos Rômulo e Remo.
Segundo a popular lenda, ameaçado por esses possíveis pretendentes ao trono, Amúlio decapitou Rhea Silvia e abandonou os bebês no rio Tibre – rio que corta até hoje a cidade de Roma. Milagrosamente, uma loba resgatou os gêmeos e cuidou dos meninos até que um pastor, Faustulus, os adotou, criando-os no Monte Palatino, localizado na Roma atual.
A lenda continua dizendo que os irmãos estabeleceram a cidade de Roma às margens do rio Tibre, onde ele era estreito o suficiente para ser atravessado e as colinas proporcionavam uma boa posição defensiva. A terra entre as colinas, entretanto, era bastante pantanosa e não muito fértil. Os gêmeos logo discutiram sobre os limites exatos da cidade e Rômulo matou Remo.

Uma gravura colorida mostra uma vista do século 16 do Monte Capitolino a partir dos Jardins Farnese, o primeiro jardim botânico privado da Europa.
Rômulo, juntamente com os foras da lei e criminosos que recrutou, convidou a tribo vizinha, os sabinos, que havia resistido ao casamento com os romanos, para uma festa. Durante a festa, Rômulo ergueu seu manto, sinalizando aos seus homens para que capturassem e raptassem as jovens sabinas.
De acordo com a lenda da origem de Roma, o fato de serem esposas romanas convinha às mulheres e elas impediram que os homens sabinos lutassem contra os romanos quando estes vieram para recapturá-las. No final, os sabinos permaneceram em Roma como parte da nova cidade.
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Influências na região
As evidências arqueológicas nos dizem que as origens reais de Roma foram menos dramáticas. Os primeiros romanos eram simples fazendeiros e pastores latinos que viviam em pequenas cabanas localizadas nas colinas de Esquilino e Palatino.
Os sabinos, uma tribo que vivia ao norte de onde hoje é Roma, se dividiram logo após a fundação da cidade, e alguns deles vieram para o sul e se uniram ao povo de Roma.
Roma permaneceu relativamente primitiva até os anos 600 a.C., quando os etruscos, povo já mais civilizado que controlava uma série de cidades-estado ao norte, começaram a assumir o controle da cidade.

São mostradas as ruínas de um comitium em Salerno, na Itália, onde as assembléias dos tribunais romanos se reuniam para eleger os magistrados locais e onde eram realizadas assembléias populares.
O Reino de Roma
Embora os estudiosos modernos desconsiderem alguns dos relatos dos antigos historiadores romanos, eles concordam que durante a primeira fase de sua história – de aproximadamente 753 a 509 a.C. – Roma foi governada por reis. De acordo com esses escritores, Rômulo foi o primeiro, sucedido por Numa Pompilius, um sabino, e em 616 a.C. por um etrusco chamado L. Tarquinius Priscus.
Os reis tinham poder quase absoluto, atuando como líderes administrativos, judiciais, militares e religiosos. O Senado atuava como um conselho consultivo. O rei escolhia seus membros, que ficaram conhecidos como patrícios, entre as principais famílias da cidade.
Diferentemente dos monarcas posteriores (os imperadores), a realeza romana não era herdada. Após a morte de um rei, havia um período conhecido como interregno, quando o Senado escolhia um novo governante, que era então eleito pelo povo de Roma. O rei eleito precisava obter a aprovação dos deuses e do imperium, o poder de comando, antes de assumir o trono.
Influências etruscas

Moeda de Pontus, na Ásia Menor, mostrando um deus panteísta.
Os etruscos governavam uma confederação de cidades-estado que se estendia de Bolonha até a Baía de Nápoles. Ainda não se sabe ao certo sua origem, mas eles usavam uma versão do alfabeto grego e algumas fontes antigas os descrevem como provenientes da Ásia Menor. Por volta de 650 a.C., eles já dominavam a região e assumiram o controle de Roma, querendo sua posição estratégica no rio Tibre.
Sob o comando dos reis etruscos, Roma cresceu de uma série de vilarejos para uma cidade propriamente dita. Os etruscos drenaram os pântanos ao redor da cidade, construíram esgotos subterrâneos, estradas e pontes. Eles estabeleceram o mercado de gado, o Forum Boarium, bem como o Forum Romanum, o mercado central e o ponto de encontro que se transformou, depois, no coração do Império Romano.
Perto do final desse período de influência etrusca, o primeiro templo de Júpiter foi construído no Monte Capitolino; esse templo, embora reconstruído várias vezes, tornou-se o símbolo do poder de Roma.
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Construído como um mausoléu para o imperador Adriano às margens do rio Tibre, o Castel Sant'Angelo é hoje um museu e um dos locais mais visitados de Roma.
Fundação da República
A era dos reis em Roma terminou em 509 a.C., quando os romanos supostamente expulsaram o último rei etrusco, L. Tarquinius Superbus, em outro evento mitificado por lendas. Conforme relatado por historiadores antigos, incluindo Lívio, o filho de Tarquinius Superbus, Sextus, estuprou sob a ponta de uma faca a nobre Lucretia, esposa do sobrinho-neto do rei.
Lucretia, sentindo que sua honra e virtude haviam sido perdidas, cometeu suicídio. Então, seu tio Brutus jura vingá-la e se compromete com a revolução e a expulsão da monarquia. Para o povo romano, sua história representa os poderes tirânicos do monarca sobre o Estado e, por isso, a saga de Lucrécia é citada como o evento que impulsionou a criação da República Romana.

Turistas visitam nos dias de hoje o histórico Fórum Romano em Roma, capital da Itália.
No lugar da monarquia, os romanos estabeleceram uma República, que durou até aproximadamente 30 a.C.. Ao longo de quase cinco séculos, Roma tornou-se uma potência ocidental dominante, conquistando territórios em todo o Mediterrâneo, criando um exército enorme e eficiente e aprendendo a administrar suas vastas províncias – até quando deu-se início ao impressionante Império Romano.
Partes deste trabalho foram publicadas anteriormente em "The Rise and Fall of the Roman Empire", de Jane cvon Mehren. Direitos autorais © 2014 National Geographic Partners, LLC.
