Exclusivo: fósseis brilhantes, preenchidos com opala, revelam nova espécie de dinossauro

Mineiros australianos descobriram uma preciosidade: um herbívoro do tamanho de um cão batizado de Weewarrasaurus pobeni.

Por John Pickrell
Publicado 27 de dez. de 2018, 20:45 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Ilustração de um bando de Weewarrasaurus atravessando um rio raso onde hoje é a Austrália.
Ilustração de um bando de Weewarrasaurus atravessando um rio raso onde hoje é a Austrália.
Foto de Illustration by James Kuether

Em uma fascinante descoberta, fósseis trazidos de uma mina em Wee Warra, próximo à cidade de Lightning Ridge, no outback australiano, pertencem a uma espécie de dinossauro recém-batizada de Weewarrasaurus pobeni. O animal, que tinha aproximadamente o tamanho de um labrador retriever, andava sobre as pernas traseiras e tinha bico e dentes para mordiscar a vegetação.

Um tipo de dinossauro conhecido como ornitópode, o Weewarrasaurus pode ter vivido em bandos ou pequenos grupos para proteção. O fóssil compõe evidências cada vez maiores de que a fauna de herbívoros do Hemisfério Sul incluía criaturas bastante diferentes dos herbívoros do período Cretáceo da América do Norte, como os diversos parentes com chifres dos Tricerátops e os hadrossauros bico de pato.

Mas talvez a coisa mais incrível sobre esse fóssil—descrito em um artigo publicado na revista científica PeerJ—seja o fato de ele ser feito de opala, pedra preciosa pela qual essa parte do estado de Nova Gales do Sul é conhecida.

Maxilar inferior direito do Weewarrasaurus exibe as nuances do arco-íris da opala no fóssil.
Foto de Robert A Smith

“Como paleontólogo, estou realmente interessado na anatomia—nos ossos e, nesse caso, nos dentes,” diz o autor principal Phil Bell, da Universidade da Nova Inglaterra em Armidale, Nova Gales do Sul.

“Mas ao trabalhar em Lightning Ridge,” conta Bell, “você não pode ignorar o fato de que alguns desses materiais foram preservadas em espetaculares opalas, que refletem todas as cores do arco-íris.”

Como em nenhum outro lugar da Terra

Centenas de pequenas minas formam depressões nessa árida paisagem a 724 quilômetros a noroeste de Sydney. Mas raramente fósseis de dinossauros são encontrados aqui, então Bell diz que é um milagre ter encontrado um maxilar fossilizado com dentes.

“Realmente é uma região única”, acrescenta. “Não existe outro lugar como esse no mundo, onde você encontra dinossauros preservados em belas opalas.” Esse espécime de quase 100 milhões de anos foi talhado de uma pedra preciosa de cores brilhantes, que se formou ao longo de eras de concentração de soluções ricas em sílica no subterrâneo.

O fóssil foi encontrado em 2013 por Mike Poben, negociante de opalas situado em Adelaide, cujo nome batizou a espécie. Ele comprou uma bolsa de opalas brutas dos mineiros e as vasculhou à procura de fósseis, como sempre faz. Uma peça incomum chamou sua atenção.

“Uma voz dentro da minha cabeça disse: dentes”, relembra. “Eu pensei: meu Deus, tem dentes aqui, então isso é um osso de maxilar.”

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Poben reteve a amostra possivelmente cheia de dentes e enviou as opalas restantes a um suposto intermediário, cujo trabalho era dirigir por Lightning Ridge e tentar encontrar um comprador. Nove dias depois, o intermediário voltou com a bolsa intacta, então Poben deu mais olhada em seu conteúdo.

“Encontrei outro pedaço de osso, menor e com cavidades, virei-o, e então as coisas começaram a explodir na minha cabeça”, conta. “Quando alinhei os pedaços, percebi que tinha duas partes do mesmo osso de maxilar.”

Bell, o paleontólogo que faria a descrição formal do dinossauro, disse que seu próprio queixo caiu na primeira vez que viu o valiosíssimo fóssil com seus nítidos dentes, em 2014. Posteriormente, Poben doou o fóssil ao Australian Opal Centre, museu de Lightning Ridge com a maior coleção de fósseis opalizados do mundo.

Dinossauros do supercontinente do sul

O Weewarrasaurus é mais um na lista em rápida expansão de dinossauros da parte oriental do supercontinente do sul, Gondwana. Embora existam menos de 20 dinossauros australianos, essa é a quarta espécie descrita desde 2015, incluindo um saurópode, Savannasaurus; um anquilossauro, Kunbarrasaurus e outro ornitópode menor, Diluvicursor.

O que hoje é um ambiente desértico com pontos de vegetação arbustiva não poderia ter sido mais diferente do na época em que os Weewarrasaurus viveram ali. Em meados do período Cretáceo, Lightning Ridge era uma viçosa área de lagos e cursos d’água nas orlas do pré-histórico Mar de Eromanga.

Naquela época, também estava a uma latitude de 60 graus ao sul, muito mais perto do Círculo Polar Antártico. Lightning Ridge teria estado tão perto do Polo Sul quanto a capital finlandesa Helsinque está do Polo Norte. A área apresentava clima temperado que raramente ficava abaixo de 4 graus Celsius, mas sofria de longos e escuros invernos, com dias em que o sol subia apenas brevemente acima do horizonte.

“Os fósseis do cume estão ajudando a esclarecer as faunas da parte oriental de Gondwanaland” que, naquela época, 96 a 100 milhões de anos atrás, abrangia talvez um quinto da área terrestre do mundo, diz o paleontólogo Ralph Molnar, do Museu do Norte do Arizona, em Flagstaff.

Quando as pessoas pensam sobre os dinossauros do Cretáceo, as espécies do oeste da América do Norte geralmente dominam a cena. Mas “a fauna de tiranossauro-ceratopsiano-hadrossauro” parece ser algo específico da América do Norte e Ásia,” explica Molnar, que anteriormente trabalhou no Queensland Museum, onde, em 1981, participou da descoberta do Mutaburrassauro, o dinossauro mais famoso da Austrália.

Por outro lado, a fauna de dinossauros do Hemisfério Sul era composta de forma bem diferente. E diferenças até mesmo entre a América do Sul (antigo oeste de Gondwana) e a Austrália estão sendo consideradas, conta.

“Uma diferença específica em relação à América do Sul é a abundância e diversidade de pequenos ornitópodes existentes na Austrália.”

Abundância de ornitópodes

Fragmentos fósseis revelam que existiam no máximo três espécies de pequenos ornitópodes em Lightning Ridge, conforme relatado pela equipe de Bell no artigo, ao passo que mais quatro são conhecidas do estado de Victoria.

Na América do Norte, pequenos ornitópodes viveram ao lado de ceratopsianos e hadrossauros maiores e com chifres, que estão “no topo da cadeia evolutiva em termos de mastigação de vegetação,” diz Bell. Pequenos ornitópodes, como os Tescelossauros, podem ter tido dificuldade em conseguir espaço ali, então nunca foram parte significativa do ecossistema. Mas os Tricerátopos e seus parentes, junto com espécies de bico de pato, nunca chegaram à Austrália.

“Então aqui, pequenos ornitópodes tinham liberdade para se alimentarem da vegetação que quisessem e evoluíram para muitas espécies diferentes,” argumenta Bell.

“As novas descobertas podem nos ajudar a entender as conexões, possíveis migrações e a relação entre os pequenos dinossauros herbívoros bípedes da América do Sul, Antártida e Austrália durante o período Cretáceo,” diz Penélope Cruzado-Caballero, especialista em dinossauros herbívoros da Universidade Nacional de Río Negro, na Argentina.

Embora os continentes atuais que um dia constituíram o Gondwana já tivessem começado a se separar, o fato de sua equipe ter encontrado fósseis de ornitópodes relacionados na Antártida e Argentina “nos diz que, durante o Cretáceo, provavelmente havia pontes que ligavam esses continentes, pelo menos de forma intermitente,” diz ela. “A fauna da América do Sul migrou para a Austrália através da Antártida, dando origem aos ornitópodes australianos ou foi o contrário?”

Novos fósseis podem ajudar a preencher essas lacunas no conhecimento, e Bell e sua equipe ainda estão trabalhando em uma série de outros espécimes opalizados que provavelmente serão descritos como novas espécies no futuro próximo.

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