Conheça 3 cientistas brasileiras que fizeram história

Atualmente, as mulheres são maioria entre quem que faz ciência no Brasil. Mas esse cenário só foi possível devido à luta de pesquisadoras ilustres que contribuíram para a trajetória da ciência no país.

Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 8 de mar. de 2023, 17:04 BRT
Bertha Lutz na cidade de Natal, um dos locais em que fez campanha pelo voto feminino ...

Bertha Lutz na cidade de Natal, um dos locais em que fez campanha pelo voto feminino (1928). 

Foto de Federação Brasileira pelo Progresso Feminino

Existe uma barreira invisível no campo científico que impede a chegada de mulheres ao topo da carreira. Dados da Unesco de 2021, órgão das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, mostram que apenas uma a cada quatro pessoas que fazem ciência no mundo são mulheres. Destas, apenas 60 foram reconhecidas a ponto de receberem o Prêmio Nobel, que já premiou mais de 950 cientistas. 

Mas este cenário está mudando. Em países como o Brasil as mulheres já ocupam mais lugares na ciência. Segundo um levantamento de 2022 da Academia Brasileira de Ciências (ABC), as mulheres representam 58% entre os bolsistas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência federal ligada ao Ministério da Educação (MEC) que fomenta a pesquisa no país. Elas também são maioria entre os estudantes de mestrado (57%) e doutorado (54%).

Para chegar neste quadro, muitas pesquisadoras lutaram por seus lugares e marcaram a história da ciência brasileira. Para o Dia da Mulher, conheça três mulheres de destaque e abriram portas para futuras cientistas. 

(Veja também: No Dia da Mulher, travestis e mulheres trans destacam luta por autonomia)

1. Bertha Lutz: lutou pelo sufrágio feminino enquanto descobria novos anfíbios brasileiros

Bertha Maria Júlia Lutz nasceu na cidade de São Paulo em 1894. Como bióloga, sua contribuição para a ciência passou pela descoberta de novas espécies de anfíbios no Brasil, segundo conta o livro “Pioneiras da Ciência no Brasil”, uma publicação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Mas sua contribuição para a luta feminista foi o principal destaque de sua carreira.

Ainda adolescente, foi completar sua educação na Europa e licenciou-se em Ciências pela Universidade de Sorbonne, em Paris, em 1918. De volta ao Brasil, em 1919, Bertha prestou concurso público para ser bióloga do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, passando a ser a segunda brasileira a ingressar no serviço público, segundo a publicação.  

Bertha atuou na instituição por 46 anos, construindo uma reputação internacional como cientista por sua valiosa contribuição na pesquisa zoológica. Entre outras descobertas, Bertha identificou a Liolaemus Lutzae, conhecida como lagartixa de praia, uma espécie de réptil endêmica das restingas do Rio de Janeiro. 

Retrato da zoóloga e feminista brasileira Bertha Lutz (1925).

Foto de Adam Cuerden

Entre os feitos da cientista, a publicação menciona que Bertha representou o Brasil no Conselho Feminino Internacional, órgão da Organização Internacional do Trabalho (OIT),  onde foram aprovados os princípios de salário igual para ambos os sexos e a inclusão da mulher no serviço de proteção aos trabalhadores. Ainda em 1919, ela fundou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, embrião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Com Bertha na presidência, esta organização liderou a campanha sufragista no país. 

Bertha também atuou como deputada federal. De acordo com a Agência Senado, ela assumiu o cargo na Câmara Federal em julho de 1936, devido à morte do titular, Cândido Pessoa. Sua atuação parlamentar foi marcada por proposta de mudança na legislação referente ao trabalho da mulher e infantil, visando, além de igualdade salarial, a licença de três meses para a gestante e a redução da jornada de trabalho, então de 13 horas diárias.

Com o regime do Estado Novo, implantado em 1937, e o fechamento das casas legislativas, Bertha permaneceu ocupando importantes cargos públicos, entre os quais a chefia do setor de Botânica do Museu Nacional, cargo no qual se aposentou em 1964. Em 1975, Ano Internacional da Mulher estabelecido pela ONU, Bertha foi convidada pelo governo brasileiro a integrar a delegação do país no primeiro Congresso Internacional da Mulher, realizado na capital do México. 

Este foi seu último ato público em defesa da condição feminina. Bertha Lutz faleceu no Rio de Janeiro em 16 de setembro de 1976, aos 84 anos.

2. Carolina Martuscelli Bori, a cientista que consolidou a psicologia como ciência no Brasil

Carolina Martuscelli Bori, paulista nascida em 1924, é um destaque na ciência brasileira por ter contribuído pela consolidação da psicologia como ciência nas universidades e na sociedade. 

Segundo o livro da SBPC, Carolina graduou-se em 1947 em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) e foi convidada a lecionar psicologia na instituição em 1948.

Enquanto docente e pesquisadora, Carolina teve papel fundamental no estabelecimento do estudo científico da Psicologia no Brasil, tendo sido uma das pioneiras na investigação experimental em Psicologia. Foi também a grande responsável pela introdução da Análise de Comportamento no país. 

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    Carolina Bori recebe título de Dra. Honoris Causa da Universidade de Brasília em outubro de 2000.

    Foto de Universidade de Brasília Arquivo Central, AtoM UnB

    Ainda no campo da psicologia, a cientista liderou o movimento que defendeu a regulamentação da profissão de psicólogo no país, que ocorreu em 1962, recebendo o registro número 1 do Conselho Regional de Psicologia. 

    Ela também esteve à frente das principais iniciativas no campo institucional da psicologia, participando da fundação da Sociedade Brasileira de Psicologia, da Sociedade de Psicologia de São Paulo, do programa de pós-graduação do Instituto de Psicologia da USP – o qual coordenou durante 15 anos –, e da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia.

    Além disso, Carolina Bori foi presidente da SBPC entre 1986 e 1989. Ela teve destaque na tarefa de divulgar a ciência para o público em geral e, após o término de seu mandato, foi aclamada presidente de honra da entidade.

    3. Maria da Conceição Tavares: uma brilhante economista que lutou contra a desigualdade brasileira

    Nascida em Portugal, em 1930, Maria da Conceição Almeida Tavares, veio para o Brasil em 1954 – um ano após se diplomar em matemática pela Universidade de Lisboa – por se sentir sufocada pelo regime fascista português, segundo conta o livro da SBPC. 

    Naturalizou-se brasileira e ingressou no curso de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se graduou com suma cum laude (Com a Maior das Honras, em latim) em 1960. Hoje em dia, ela ainda é amplamente considerada como a mais brilhante economista brasileira, diz a publicação. 

    Sua trajetória conta com passagens pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), onde, ainda como estudante de economia, fez um estudo matemático sobre a distribuição de renda no Brasil. 

    De acordo com o livro “Pioneiras”, foi neste trabalho que Maria da Conceição se deparou com a desigualdade brasileira. “Compreendi então as dificuldades das tentativas de construção de uma ‘democracia nos trópicos’. Não dá para pensar o país com as categorias européias”, teria dito a economista anos depois, de acordo com o livro. Nessa época, a pesquisadora também trabalhou na elaboração do Plano de Metas do então presidente Juscelino Kubitschek.

    Também segundo o livro, Maria da Conceição é uma cientista rigorosa e foi professora de várias gerações de economistas, lecionando no atual Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ) e no Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp). 

    A economista Maria da Conceição Tavares participa de ato com lideranças femininas de movimentos sociais e sindicais em defesa do governo da presidenta Dilma Rousseff, no Rio de Janeiro, em 2016.

    Foto de Fernando Frazão Agência Brasil

    No meio acadêmico, um dos seus ensaios mais reconhecidos é o artigo intitulado “Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações”, publicado em 1972. Segundo o livro da SBPC, o trabalho é um marco no estudo do processo de industrialização do Brasil e tornou-se um clássico na literatura econômica da América Latina. 

    Além deste, diversos outros trabalhos da pesquisadora a credenciaram como a principal estudiosa do desenvolvimento nacional. Hoje, segundo o livro, ela é leitura obrigatória para os pesquisadores da economia brasileira contemporânea.

    Fora da academia, a professora tornou-se conhecida como militante da causa democrática e crítica feroz da política econômica do regime militar, chegando a ser presa em 1975.  “Seus livros e artigos escritos ao longo de mais de 40 anos de atividade intelectual, demonstram sua preocupação permanente em pensar o Brasil”, informa a publicação. 

    Ela também ficou conhecida nacionalmente pela forma apaixonada com que defende suas idéias e ataca a pobreza e a exclusão. Recentemente, algumas de suas aulas gravadas na Unicamp viralizaram nas redes sociais por esse motivo. Hoje, Maria da Conceição, com 92 anos, é professora emérita da UFRJ. 

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