Por que o Dia da Mulher é celebrado em 8 de março?

A origem da data está intimamente ligada aos movimentos trabalhistas da virada do século 19 para o 20.

Por Redação National Geographic
Publicado 7 de mar. de 2023, 17:20 BRT, Atualizado 6 de mar. de 2024, 12:00 BRT
Membros da Liga Sindical Feminina (WTUL, na sigla em inglês) de Nova York, Estados Unidos, em ...

Membros da Liga Sindical Feminina (WTUL, na sigla em inglês) de Nova York, Estados Unidos, em protesto.

Foto de Kheel Center Cornell University Library

Comemorado anualmente em 8 de março, o Dia Internacional da Mulher é um dia que, para muitos, significa homenagear e presentear as mulheres. Entretanto, a data celebrada há mais de um século tem suas origens longe de festas e presentes, sendo marcada por luta, fortes movimentos de reivindicação política trabalhista, greves, passeatas e perseguições.

É o que explica o artigo 8 de março: conquistas e controvérsias, escrito pela socióloga Eva Alterman Blay, em 2001, e publicado na revista Estudos Feministas. Segundo Blay, que é professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), a proposta para o Dia Internacional da Mulher partiu de uma líder comunista alemã em 1910, consolidando uma luta que começou com movimentos de operárias na virada do século 19 para o 20

Hoje, a data representa uma reivindicação global por direitos igualitários entre mulheres e homens. 

A relação dos movimentos trabalhistas com o Dia da Mulher

Segundo resgata o artigo de Blay, que também foi a criadora do primeiro curso de graduação e pós-graduação sobre a mulher na USP, a origem do Dia da Mulher pode ser traçada nos movimentos operários do fim do século 19 e início do 20, principalmente nos Estados Unidos e Europa

Em um contexto de início da industrialização fabril, os trabalhadores – que eram em sua maioria mulheres e crianças – realizavam sucessivas manifestações por melhores condições de trabalho e salários, redução das jornadas e proibição do trabalho infantil

Nos Estados Unidos, por exemplo, o movimento trabalhista era liderado por setores da produção mineira, ferroviária, de tecelagem e vestuário em uma economia industrial instável e marcada por crises. Por sua vez, muitas fábricas trancavam as portas dos estabelecimentos durante o expediente, cobriam os relógios e controlavam a ida aos banheiros para desmobilizar o apelo das organizações e controlar a permanência dos trabalhadores. 

Nesse cenário, surge, em 1903, a Liga Sindical Feminina (WTUL, na sigla em inglês), uma organização de trabalhadoras assalariadas estruturada por mulheres socialistas, sufragistas e profissionais liberais norte-americanas. No último domingo de fevereiro de 1908, mulheres dessa união fizeram uma manifestação batizada de “Dia da Mulher”, em que reivindicavam o direito ao voto e melhores condições de trabalho. O ato foi repetido no ano seguinte, em Manhattan, em Nova York, reunindo duas mil pessoas. 

Mulheres cientistas. Em pé: Nellie A. Brown. Da esquerda para a direita: Lucia McCollock, Mary K. Bryan e Florence Hedges.

Foto de Biblioteca do Congresso em Washington, D.C.

8 de março: Revolução Russa e o Dia da Mulher 

No início do século 20, paralelamente aos protestos norte-americanos, trabalhadoras organizavam movimentos em várias partes do mundo, como Berlim, (Alemanha), Viena (Áustria) e São Petersburgo (Rússia). 

De acordo com a publicação de Blay, um momento marcante foi a participação da alemã Clara Zetkin, integrante do Partido Comunista Alemão, no 2º Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, que ocorreu em 1910, em Copenhague, na Dinamarca. Na ocasião, Zetkin propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher sem definir uma data precisa. 

A partir disso, a data foi celebrada pela primeira vez em 19 de março de 1911 na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. Entretanto, Blay aponta outros acontecimentos que acabaram por consolidar a data atual do Dia da Mulher.

Um deles, segundo a professora, foi o incêndio que acometeu a fábrica da Companhia de Blusas Triângulo, em Nova York, no dia 25 de março de 1911. Na época, a empresa empregava 600 trabalhadores, a maioria mulheres imigrantes judias e italianas, de 13 a 23 anos

No dia do incêndio, algumas portas da fábrica, que ocupava os três últimos pisos de um prédio de dez andares, estavam fechadas a fim de evitar a saída de trabalhadores para as greves. Morreram 146 pessoas, 125 mulheres e 21 homens. 

Mas, o momento mais importante, considerado por Blay em seu artigo, foi uma greve organizada por trabalhadoras russas do setor de tecelagem, realizada com apoio de metalúrgicos. 

No dia 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário Juliano, que ainda era adotado pela Rússia até então), cerca de 90 mil operárias manifestaram-se contra as más condições de trabalho, a fome, a participação russa na Primeira Guerra e o czar Nicolau 2º. O protesto ficou conhecido como “Pão e Paz” e foi considerado como um dos primeiros momentos da Revolução Bolchevique

Após esses acontecimentos, segundo o artigo de Blay, o dia 8 de março passou a ser escolhido constantemente como o dia da mulher e se consagrou nas décadas seguintes. Mas, o Dia Internacional das Mulheres só surgiu oficialmente em 1975, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou a data e inaugurou uma “nova etapa do feminismo”, de acordo com a autora.

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