
Encontrado repleto de tesouros o túmulo de 1.700 anos de um rei maia: mas quem era ele?
Caana, que significa "palácio do céu" em maia, é a maior estrutura de Caracol, Belize, erguendo-se a mais de 42 metros acima da selva. Os investigadores encontraram recentemente um túmulo sob a copa das árvores numa acrópole imediatamente à direita de Caana.
Nas profundezas das densas selvas do Belize, na América Central, os arqueólogos que escavavam a antiga cidade maia de Caracol desenterraram o que acreditam ser o túmulo de 1.700 anos pertencente a um governante. Se for confirmada, a descoberta marcará o mais antigo enterro real conhecido na região e, possivelmente, o local de descanso do seu rei fundador, Te K'ab Chaak.
“Esta é uma descoberta extremamente importante”, afirma Francisco Estrada-Belli, arqueólogo da Universidade de Tulane e explorador da National Geographic, que não esteve envolvido na investigação. “É extremamente raro encontrar o enterro de um rei maia conhecido, quanto mais de um fundador de uma dinastia”.
Os investigadores dizem que o túmulo, juntamente com outros achados no local, pode oferecer provas de que os laços entre os maias e a distante metrópole de Teotihuacan começaram mais cedo do que se pensava. Mas sem inscrições com o nome do ocupante do túmulo ou análises de ADN que confirmem a sua identidade, alguns especialistas advertem que as afirmações continuam a ser especulativas.
A descoberta anunciada pela Universidade de Houston foi feita por Diane e Arlen Chase, dois arqueólogos casados que passaram quase quatro décadas desvendando os segredos de Caracol.
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A arqueóloga Diane Chase e seus colegas acreditam que a tumba em Caracol pertenceu a um membro da elite da sociedade maia com base nos artefatos da sepultura, incluindo um mineral vermelho chamado cinábrio (fundo), vasos de cerâmica (primeiro plano) e uma rara máscara de jade (encontrada à esquerda).
Por dentro do túmulo maia: máscaras mortuárias de jade e ossos
Arlen Chase e sua equipe encontraram este último túmulo no início de 2025, enquanto escavavam na acrópole nordeste do local, ou complexo palaciano. Ao reabrir uma trincheira de escavação de 1993, deparou-se com uma câmara grande e intacta com paredes revestidas de um mineral vermelho chamado cinábrio.
Encontrar túmulos em Caracol não é algo único, diz Arlen Chase. Já foram desenterrados mais de 850 enterramentos e cerca de 175 túmulos no local. Mas esta descoberta mais recente destaca-se de todas as outras.
“O conteúdo desta câmara não é comum”, diz ele. Isso, juntamente com o grande tamanho do túmulo – cerca de 2,5 metros de altura e 3 metros de comprimento – “nos diz que se tratava de alguém importante”, afirma.

Os desenhos nestas quatro contas de jade encontradas no túmulo retratam os rostos de macacos-aranha vivos e mortos.

Três conjuntos de brincos ou ornamentos de jade também foram descobertos na tumba de Caracol. Encontrar vários conjuntos de brincos é raro na arqueologia maia.
No interior, Chase encontrou os restos do esqueleto de um homem e um tesouro de artefatos maias, incluindo:
- Uma máscara mortuária em mosaico de jade e conchas que tinha sido quebradas em mais de cem pedaços;
- Três conjuntos de ornamentos de orelhas também feitos em jade;
- Quatro contas de jade com rostos de macacos-aranha;
- Cerâmica decorativa, algumas adornadas com motivos de animais e outra pintada com um governante segurando uma lança;
- Um crânio de cabeça para baixo em um vaso de cerâmica, como se tivesse rolado para fora do corpo.
A mandíbula do indivíduo também apresentava sinais de reabsorção dos dentes, indicando que provavelmente pertencia a uma pessoa idosa. Os pesquisadores acreditam que o homem falecido provavelmente estava deitado ou sentado em um palete que acabou se decompondo, causando o colapso de seu esqueleto.
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Esta tigela de cerâmica tem a forma de uma coruja. O estilo corresponde a outros recipientes do período clássico inicial da história maia e, com base nisso, os investigadores estimam que o túmulo seja de 350 d.C.
Quem era o rei maia enterrado no túmulo descoberto?
“Tudo nele diz que se trata de um governante”, diz Diane Chase. A constatação, explica ela, lhe causou arrepios. Era evidente que, "Uau! Isto deve ser mesmo um líder do povo maia – deve ser o Te K'ab Chaak".
Textos hieroglíficos encontrados em outros locais da cidade de Caracol referem-se a Te K'ab Chaak como o fundador da dinastia que governou a cidade por mais de 460 anos e dizem que seu reinado começou por volta de 331 d.C. A tumba em si não contém escritos que identifiquem quem foi enterrado lá, portanto os pesquisadores se baseiam no tempo para fazer essa afirmação.
A equipe datou a tumba recém-descoberta entre 330 e 350 d.C., aproximadamente, com base em duas observações importantes: o tipo de cerâmica no interior era típico do período Clássico Inicial dos maias, que vai de 280 a 380 d.C., e a datação por radiocarbono de um enterro de cremação próximo que eles escavaram anteriormente em Caracol em 2010.

Outra tampa de cerâmica encontrada na tumba inclui um possível retrato do indivíduo de elite segurando uma lança e recebendo oferendas.
Essa cremação, também datada de cerca de 330 a 350 d.C., foi colocada acima da tumba na estratigrafia do local, sugerindo que a tumba recém-encontrada veio na mesma época ou um pouco antes. Juntos, a equipe argumenta que esses indícios apontam para o enterro de um governante que se alinha de perto com o período em que Te K'ab Chaak estava no trono.
Os dois dizem estar “99,9%” confiantes de que a tumba pertenceu a Te K'ab Chaak. "Ainda vamos continuar procurando para verificar novamente? Com certeza", diz Diane Chase.
Stephen Houston, um arqueólogo da Universidade de Brown, em Rhode Island, nos Estados Unidos, não envolvido no trabalho, diz que a tumba foi um achado intrigante e concorda que pertencia à realeza. Mas ele acrescentou que precisava ser mais convincente para concluir que ela continha Te K'ab Chaak. “Talvez, em algum momento, um texto glifo apareça e confirme a identidade do falecido”, diz ele.

A alça da tampa desta peça de cerâmica tem como modelo a cabeça de uma arara, normalmente um sinal de status na cultura maia.
As conexões entre os maias e o povo teotihuacano
Diane e Arlen Chase também argumentam que suas descobertas em Caracol lançam luz sobre a dinâmica de poder entre os maias e Teotihuacan, uma antiga civilização localizada perto da atual Cidade do México que não é maia nem asteca (ou mexicana).
“A descoberta também esclarece o tipo de relacionamento que os teotihuacanos e os maias mantinham no início do século 4º, que parece se basear no comércio, nas peregrinações a Teotihuacan e na diplomacia”, diz David Carballo, arqueólogo da Universidade de Boston, também nos Estados Unidos, e que não participou da pesquisa.
A viagem entre as duas cidades mesoamericanas teria exigido uma caminhada de cerca de 1.200 quilômetros a pé.

Chase e seus colegas argumentam que esse vaso apresenta iconografia de beija-flor. Um motivo semelhante aparece em imagens de outra tumba na mesma área - sepultamentos que ocorreram com uma diferença de 30 a 50 anos entre si, estimam os pesquisadores.
“Não tenho certeza de qual coisa específica nesse local ou escavação em particular realmente o liga a Teotihuacan”, diz Anabel Ford, arqueóloga da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. “Muitas dessas coisas não são realmente falsificáveis, apenas seus sentimentos sobre as associações.”
Já Diane Chase, que está envolvida na descoberta, acrescentou que as próximas etapas incluem a tentativa de extrair o DNA antigo dos ossos, bem como a realização de testes de isótopos nos restos mortais.
Esses testes poderiam fornecer informações sobre a dieta do indivíduo e se ele viveu a maior parte de sua vida em Caracol ou se mudou muito, diz ela. Estas pistas, segundo ela, seriam fundamentais para confirmar se o homem enterrado na tumba é de fato Te K'ab Chaak.
