Cinco vitórias que trouxeram esperança para a causa ambiental em 2021

Em um ano em que as notícias ruins pareciam não ter fim, há muitos motivos para ter esperança em relação ao meio ambiente.

Por Kieran Mulvaney
Publicado 22 de dez. de 2021, 07:00 BRT
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Motorista faz um test drive com um Toyota Land Cruiser, transformado em veículo elétrico na Estação de Energia Eólica de Ngong Hills, no Quênia. A utilização de veículos elétricos está aumentando conforme os países passam a dar a devida importância à redução das emissões de combustíveis fósseis.

Foto de Nichole Sobecki, National Geographic

É inevitável ficar desanimado com a situação global do meio ambiente em 2021. Mais de um milhão de espécies estão em risco de extinção, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera continuam crescentes e o planeta foi abalado por uma série de eventos climáticos extremos causados pelas mudanças climáticas. Em meio a tudo isso, o mundo continua lutando contra uma pandemia mortal que parece nunca ter fim.

Mas, com o fim do ano se aproximando, ainda que comedidamente, há motivos para o otimismo em relação às vitórias ambientais em 2021.

É importante lembrar que mesmo esses avanços promissores envolvem promessas que ainda podem ser deixadas de lado ou não serem cumpridas. Mesmo assim, há indicativos de sucesso nessa jornada longa e difícil. Veja cinco motivos para ter esperança.

1. Resistência ao consumo de combustíveis fósseis

Carvão sendo vendido nas ruas de Ulan Bator, na Mongólia, que provoca a poluição do ar ao ser consumido. Os países presentes na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em Glasgow, na Escócia, em novembro, prometeram reduzir a quantidade de carvão que produzem.

Foto de Matthieu Paley, Nat Geo Image Collection

Adiada um ano por causa da pandemia de covid-19, a COP26 de novembro — a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, realizada em Glasgow — voltou a receber o segundo maior emissor de combustível fóssil do mundo, os Estados Unidos, após quatro anos de inação nas mudanças climáticas. Ao fim da cúpula, os Estados Unidos e a China realizaram uma declaração inesperada de trabalho em conjunto para o cumprimento das metas do Acordo de Paris.

Embora o nível de ambição em Glasgow tenha enfrentado muitas críticas, especialmente em termos de proteger os países em desenvolvimento dos impactos do clima e apoiar suas transições para sistemas de energia limpa, a meta de manter o aquecimento em 1,5 graus Celsius é, sem dúvidas, mais possível agora. De fato, países concordaram em “reduzir” seu uso de carvão — que ficou aquém de um projeto inicial para “eliminar” o carvão — e mais de cem países concordaram em reduzir suas emissões de metano em 30% até 2030.

Longe de Glasgow, o governo Biden cancelou o polêmico oleoduto Keystone XL e suspendeu os arrendamentos de perfuração de petróleo no Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico, embora também esteja abrindo milhões de hectares para a exploração de petróleo e gás. O governo estabeleceu a meta de gerar 30 gigawatts de energia eólica offshore até 2030 e anunciou a intenção de reduzir os custos de energia solar em 60% na próxima década; as duas declarações são parte de um plano para que os Estados Unidos sejam alimentados por uma rede limpa até 2035. Além disso, o presidente Joe Biden decretou em agosto que, até 2030, metade de dos veículos novos vendidos nos Estados Unidos devem ser elétricos.

A expectativa é de que a utilização global de energia renovável em 2021 apresente um aumento de 8%. Seria o crescimento anual mais rápido desde a década de 1970, enquanto nos Estados Unidos, um novo relatório revelou que esse número havia quase quadruplicado na última década.

Na Holanda, a justiça determinou que, até 2030, a Royal Dutch Shell reduzisse suas emissões de carbono em 45% em relação aos níveis de 2019, resultado que um advogado descreveu como um “ponto de virada na história”.

2. Avanços em relação ao consumo de plástico

Diversos estados dos Estados Unidos aprovaram novas leis para a redução da poluição plástica no meio ambiente. Alguns estados enviam seus resíduos plásticos para países como as Filipinas, conforme retratado na imagem. Os Estados Unidos são o país que mais gera poluição por plástico do mundo.

Foto de Randy Olson, Nat Geo Image Collection

No último ano, foi aprovada uma série de leis que têm como objetivo reduzir a crescente poluição por plástico. No estado de Washington, o governador Jay Inslee assinou uma lei que proíbe produtos de poliestireno, como caixas de isopor e embalagens de salgadinho. A lei também exige que utensílios descartáveis — canudos, tampas de copos e condimentos — sejam oferecidos aos clientes e determina a reciclagem mínima após o consumo, incluindo embalagens de produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica.

O estado da Califórnia aprovou projetos de lei que, entre outras medidas, proíbem os fabricantes de colocar o símbolo de reciclagem ou a palavra “reciclável” em itens que não sejam de fato recicláveis; proíbem que resíduos plásticos misturados e exportados para outros países sejam contabilizados como produtos reciclados — o que poderia ser praticado pelas prefeituras para burlar as leis estaduais; exigem produtos rotulados como “compostáveis” para aqueles que se decompõem em condições reais; e proíbem o uso de substâncias per e polifluoroalquil (PFAS, na sigla em inglês), conhecidos como “produtos químicos eternos”, em produtos infantis.

Essas medidas podem repercutir no âmbito federal após a introdução da Lei para Libertação da Poluição por Plástico. A proposta de dois parlamentares dos Estados Unidos visaria a proibição de alguns produtos plásticos descartáveis e suspenderia as licenças de funcionamento de novas fábricas de plásticos.

Em novembro, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony Blinken, anunciou que o país apoiaria um tratado global para combater a poluição por plástico; o governo Trump havia se oposto à iniciativa. O apoio dos Estados Unidos é fundamental, visto que o país é o que mais contribui para a poluição por plástico no mundo, conforme a resolução de um relatório aprovado pelo Congresso e divulgado em dezembro. O tratado parece pronto para avançar , e uma reunião das Nações Unidas está programada para fevereiro, em Nairóbi, para dar início às negociações formais.

Em dezembro, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos realizou um pedido urgente ao país, que produz mais poluição por plástico do que todos os estados da União Europeia juntos, para desenvolverem uma estratégia de redução, incluindo um limite nacional para a produção de plástico virgem.

3. Proteção de florestas

Alguns governos estaduais na Indonésia estão retirando licenças de extração de óleo de palma de empresas que planejavam plantar dendezeiros em áreas florestais.

Foto de Pascal Maitre, Nat Geo Image Collection

A promessa de acabar com o desmatamento até 2030, realizada na COP26 da ONU em Glasgow foi, de longe, a notícia mais importante envolvendo a conservação das florestas. O compromisso firmado na ocasião também menciona o fornecimento de US$ 12 bilhões em financiamento para “ajudar a estimular o potencial das florestas e o uso sustentável da terra”. No entanto, a promessa foi recebida com ceticismo generalizado, até porque as taxas de desmatamento na verdade aumentaram após um acordo de 2014, que possuía o mesmo objetivo.

Em todo caso, 2021 tem sido um ano de muitas vitórias. Em outubro, o presidente Felix Tshisekedi, da República Democrática do Congo convocou uma auditoria de suas vastas concessões florestais e a suspensão de todos os “contratos questionáveis” até que a auditoria seja feita. Algumas semanas depois, o governo desistiu do plano de suspender uma moratória de 19 anos sobre a concessão de novas licenças de extração de madeira na Floresta da Bacia do Congo. “Não queremos mais contratos com parceiros que vieram cortar nossas florestas com violência; vamos eliminar esse tipo de contrato”, disse a ministra do Meio Ambiente, Eve Bazaiba. Grupos ambientalistas ainda agem com cautela e o Greenpeace solicita que a moratória da República Democrática do Congo se torne permanente.

O governo da província indonésia de Papua Ocidental revogou licenças para 12 contratos de extração de óleo de palma, cobrindo mais de 267 mil hectares (uma área duas vezes maior que Los Angeles), três quintos dos quais permanecem cobertos por florestas. Grupos relacionados à luta pelos direitos ambientais e indígenas estão pedindo ao governo que vá além e reconheça os direitos dos povos indígenas de cuidarem das florestas. Três dos 12 detentores de contrato continuam se opondo à decisão do governo no tribunal.

E a Suprema Corte do Equador determinou que projetos de mineração de cobre e ouro em uma reserva de floresta nublada prejudicaria sua biodiversidade e violaria os direitos da natureza, que estão consagrados na constituição equatoriana. A decisão significa que as concessões de mineração e licenças ambientais e hídricas na floresta devem ser canceladas.

4. Restauração de habitats

Um tetraz-cauda-de-faisão em Wyoming, Estados Unidos. Neste ano, um tribunal anulou uma decisão do governo Trump que impactou o habitat do tetraz-cauda-de-faisão.

Foto de Charlie Hamilton James, Nat Geo Image Collection

O governo Biden passou parte de seu primeiro ano restaurando as proteções de habitat que haviam sido canceladas por seu antecessor. Talvez o mais proeminente tenha sido o restabelecimento da proteção total dos monumentos Bears Ears e Grand Staircase-Escalante, no sul de Utah, e o Northeast Canyons and Seamounts National Monument, na Nova Inglaterra.

O governo restaurou a proteção de mais de 1,2 milhões de hectares de floresta no noroeste do Pacífico, habitat crítico para a coruja-pintada-do-norte. Além disso, reverteu uma medida que enfraqueceria o Tratado de Aves Migratórias que a Casa Branca instaurou nos últimos dias do governo Trump. Nesse ínterim, um tribunal anulou uma decisão do governo Trump de retirar proteções de mais de quatro milhões de hectares, principalmente nos estados de Nevada e Idaho, para permitir a mineração em habitat crítico para tetrazes-cauda-de-faisão.

Em maio, o governo Biden anunciou uma iniciativa chamada America the Beautiful que, entre outras coisas, estabeleceu a primeira meta nacional de conservação: conservar 30% das terras e águas dos Estados Unidos até 2030. Reflete o objetivo das Nações Unidas de proteger a mesma porcentagem de terra e oceano, um objetivo com o qual mais de cem nações se comprometeram em setembro deste ano.

Em novembro, a Colômbia prometeu preservar 30% de suas terras até 2022. E o Panamá deu passos importantes em direção ao mesmo objetivo, triplicando o tamanho da Área Marinha Protegida da cordilheira de Coiba. Também em novembro, Portugal estabeleceu a maior reserva marinha totalmente protegida da Europa.

5. Apoio para a vida selvagem

Populações de pandas-gigantes se recuperaram o suficiente para a China removê-los da lista de espécies ameaçadas de extinção.

Foto de Ami Vitale, Nat Geo Image Collection

Populações de algumas das espécies mais emblemáticas do mundo estão se recuperando devido a medidas de proteção. Em julho, a China anunciou que não considera mais o panda-gigante, símbolo da organização não governamental World Wildlife Fund, uma espécie ameaçada de extinção, e passou a classificá-lo como vulnerável. Pouco mais de 1,8 mil pandas estão na natureza: um crescimento importante na população da espécie em relação aos 1,1 mil que viviam na natureza até 2000. Enquanto isso, a China anunciou a criação do Parque Nacional do Panda-Gigante, que será parte de um sistema de novos parques que cobrirão uma área que se aproxima da área total do Reino Unido. Os parques são projetados para proteger espécies nativas, como o tigre-siberiano, o leopardo-de-amur e o gibão-de-topete, da província de Hainan.

As populações de baleias-jubarte que, com suas melodias assustadoras, inspiraram a arrecadação de fundos para a campanha “Salve as baleias”, que deu início ao movimento ambientalista moderno, estão aumentando em suas áreas de distribuição, como na região da Austrália (onde o governo está considerando sua remoção da lista de animais ameaçados de extinção do país) e em suas áreas de alimentação do Atlântico Sul. Ainda assim, o número de crias de baleias-jubarte no Atlântico Noroeste diminuiu nos últimos 15 anos.

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, diversas espécies de atum não estão mais correndo risco de extinção. Duas espécies de atum-rabilho, uma de atum-amarelo e outra de albacora, não são mais classificadas como espécies criticamente ameaçadas de extinção foram retiradas da lista internacional de espécies ameaçadas de extinção como resultado de décadas de esforços para limitar os impactos da pesca comercial.

Sete demônios-da-tasmânia nasceram em uma reserva na Austrália continental três mil anos depois de a espécie ter sido eliminada de todos os lugares, exceto da ilha homônima. Os cientistas esperam que, se um dia os marsupiais novamente se estabelecerem no continente, eles possam desempenhar um papel vital no controle de espécies invasoras.

Por fim, no Reino Unido, um relatório do governo concluiu que lagostas, caranguejos e polvos são seres sencientes, ou seja, que sentem dor e, portanto, devem receber proteção sob o projeto de lei de bem-estar animal (Senciência) do país.  

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