O Fundo Florestas Tropicais (TFFF) é uma ação de proteção ambiental liderada pelo Brasil que busca ...

TFFF: o Fundo Florestas Tropicais realmente pode ajudar na preservação das florestas do mundo? NatGeo explica

O novo modelo de financiamento feito para manter as principais florestas tropicais do mundo em pé será a proposta-chave da COP30 do Brasil, realizada na Amazônia, para combater o avanço das mudanças climáticas.

O Fundo Florestas Tropicais (TFFF) é uma ação de proteção ambiental liderada pelo Brasil que busca manter "em pé" as principais florestas do mundo (como as existentes na América do Sul, no Congo e em parte da Ásia) remunerando a sua preservação. 

Foto de Ana Cláudia Lira-Guedes Embrapa
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 6 de nov. de 2025, 09:15 BRT

Mais de 70 países que possuem florestas tropicais e subtropicais úmidas localizadas no Sul global em breve poderão se tornar elegíveis para receber recursos financeiros do Tropical Forest Forever Facility (o TFFF, sigla do nome em inglês que tem identificado o novo instrumento) — ou Fundo Florestas Tropicais para Sempre, em português —, que será lançado oficialmente na Cúpula de Líderes – um evento preparatório da COP30 do Brasil que ocorre a partir de 6 de novembro em Belémcapital do Pará, sede da Comissão das Partes este ano.

O novo modelo de financiamento climático visa modificar a forma de como o mundo enxerga a conservação ambiental, com uma solução inédita que foi proposta inicialmente pelo Brasil na cúpula climática realizada nos Emirados Árabes Unidos, a COP28, realizada em Dubai em 2023 e, agora, será lançada na primeira COP realizada na América do Sul entre 10 e 21 de novembro, como explica o site oficial do TFFF.

National Geographic explica o que é e como funciona o TFFF, de que forma o novo modelo pode auxiliar no combate ao desmatamento e na preservação de importantes áreas florestais do mundo e quais as expectativas para o seu lançamento (e aceitação) na COP30

Uma vista do Centro de Convenções para a Cúpula do Clima na Amazônia, a COP30.

Uma vista do Centro de Convenções para a Cúpula do Clima na Amazônia, a COP30.

Foto de Sergio Moraes/Cop30 Brasil Amazônia

O que é e como funciona o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, o TFFF?

Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) visa criar um novo formato de financiamento climático em que os países que preservam suas florestas tropicais sejam recompensados financeiramente por meio de um investimento global. Assim, em vez da destruição, a conservação da floresta se torna economicamente mais vantajosa, gerando desenvolvimento social e econômico, como explica o site do Ministério da Fazenda do do Brasil – país que encabeça a proposta. 

A ideia é que o fundo funcione da seguinte forma: 

  • O TFFF captará, inicialmente, cerca de 25 bilhões de dólares norte-americanos no mercado a juros reduzidos como um ativo de baixo risco.
     
  • Esses recursos serão reinvestidos em projetos com maior taxa de retorno de cada local, gerando lucro
     
  • A diferença será repassada aos mais de 70 países com florestas tropicais, proporcionalmente à área preservada de cada um deles, enquanto que o dinheiro que foi emprestado será devolvido aos investidores com lucro

Na prática, o modelo inovador do TFFF inverte a lógica tradicional de financiamento. Ao contrário do mecanismo que usa carbono como unidade de medida, o novo fundo pagará por hectare preservado, monitorado via satélite. 

Os recursos serão geridos pelo Banco Mundial, aplicados com retorno esperado de 7% a 8%, dos quais 4% retornariam aos investidores âncora e o restante seria transferido aos países detentores de florestas tropicais

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    Foto de Fabiano Marques Dourado Bastos/Embrapa

    TFFF: uma recompensa em dinheiro para quem mantiver a floresta em pé

    Não é doação, mas uma iniciativa que opera com lógica de mercado, alavancando recursos privados a partir de investimentos diversos. É uma nova forma de financiar a conservação das florestas, com responsabilidade compartilhada e visão de futuro", afirma Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, reforçando que este é o momento de mudar a forma como a humanidade lida com os recursos naturais do planeta em uma entrevista dada ao site oficial do ministério brasileiro.

    Já o secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda (MF), Rafael Dubeux, busca esclarecer o fundo sob o olhar do mercado, para que um proprietário de terras, por exemplo, entenda que as matas têm valor real sendo preservadas.

    “Para quem é proprietário de terra em uma área florestal em qualquer parte do mundo, há uma espécie de ‘custo de oportunidade’ — para usar uma expressão econômica. Ele poderia considerar destruir aquela área para colocar gado, ou para fazer uma plantação. Para quem é dono daquela área, não é tão visível o valor monetário daquela floresta preservada”, detalha Dubeux. 

    “O TFFF está criando uma solução para que a gente deixe claro que não é apenas um slogan a ideia de que ‘a floresta em pé vale mais do que é derrubada’. A gente vai verdadeiramente monetizar, viabilizar, pagar pelo serviço de preservação da floresta”, frisou o secretário-executivo em um artigo sobre a TFFF no site oficial do ministério do Meio Ambiente.

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      Foto de Federico Rios, National Geographic

      Como o TFFF pode ser decisivo na conservação das principais florestas do mundo

      O TFFF considera os países com florestas tropicais como detentores de um bem público global essencial, que fornece serviços ecossistêmicos fundamentais para todo o mundo. Os pagamentos anuais aos países com florestas tropicais são baseados no desempenho por hectare preservado e não dependem de subsídios de curto prazo, ou de projetos sujeitos a ciclos políticos ou mudanças de prioridades.

      A proposta é de um formato de financiamento em que todos saem ganhando, especialmente o meio ambiente. É um instrumento de financiamento ambiental que visa garantir desenvolvimento sustentável para comunidades locais (reservando 20% para povos indígenas e comunidades tradicionais locais) e viabilidade econômica para que os países com florestas gerem divisas preservando a mata; além de retorno financeiro para quem investiu, afirma o site oficial do TFFF. 

      Ao realizar pagamento por florestas em pé, protegidas de desmatamento e degradação em biomas como a Mata Atlântica e a Amazônia, no Brasil; e as florestas tropicais da Bacia do Congo, do Mekong e de Bornéu,  no Sudeste Asiático, o TFFF reconhecerá os serviços ambientais prestados por estes lugares em todo o mundo e sua importância para a sustentação de atividades econômicas.

      Segundo o site do próprio TFFF, os países participantes terão soberania sobre como gastar os pagamentos, desde que eles contribuam para resultados de conservação

      Além disso, o fundo complementará outros programas de financiamento florestal, incluindo o chamado REDD+: “trata-se de um incentivo desenvolvido no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) para recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados de Redução de Emissões de gases de Efeito Estufa provenientes do Desmatamento e da Degradação florestal, considerando o papel da conservação de estoques de carbono florestalmanejo sustentável de florestas e aumento de estoques de carbono florestal (+)”, como explica o site do Ministério do Meio Ambiente.

      “Nós sabemos que as florestas tropicais são fonte da estabilidade climática, porque elas retêm carbono e garantem ciclos hídricos (como os rios voadores na Amazônia, por exemplo). Mais de 80% da biodiversidade terrestre de todo o mundo está nas florestas tropicais. O que o TFFF busca é que o mundo remunere parte desses serviços. É remunerar as florestas como base da vida e da economia, pelo nosso bem-estar”, comentou o assessor especial de Economia e Meio Ambiente do Ministério do Meio Ambiente, André Aquino, no site do ministério.

      As expectativas para o lançamento do TFFF na COP30 e sua aceitação mundial

      proposta do Fundo Florestas Tropicais para Sempre vem obtendo boa aceitação pelos demais países, conforme disse o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, durante conversa com jornalistas no último dia 4 de novembro, antes de participar de um debate no evento COP30 Business & Finance Fórum, promovido pela Bloomberg Philanthropies, na cidade de São Paulo.

      “Estamos colocando na mesa de negociação uma proposta prática de sustentabilidade das florestas tropicais que está sendo bem recebida. Com as primeiras manifestações de apoio de alguns países que virão para a COP30, nós entendemos que, no ano que vem, 2026, podemos ter um ano muito proveitoso para angariar os primeiros recursos” disse ainda Haddad, como relata um artigo da Agência Brasil (a agência de comunicação oficial pública brasileira).

      “Esse fundo capta a uma taxa de juro baixaempresta a uma taxa de juro maior e, com a diferença, com o lucro, você remunera por hectare as florestas tropicais preservadas dos países aderentes à proposta de combater o desmatamento geral”, explicou Haddad.

      Na avaliação de Gustavo Souza, diretor de políticas públicas da Conservation International, uma instituição ambiental sem fins lucrativos, em entrevista à Agência Brasil, os aportes da TFFF podem representar um recurso de investimento anual de 2 bilhões de dólares só na Amazônia, por exemplo. 

      “A gente tem uma lacuna de financiamento na Amazônia de 7 bilhões de dólares ao ano, segundo o Banco Mundial. Nos últimos 10 anos, a gente conseguiu, por meio da ajuda internacional, filantropia e setor privado, uma ordem de 10% desses 7 bilhões. É muito pouco”, explica.

      Com o TFFF, Souza acredita que esses valores triplicariam os investimentos para que a conservação florestal não seja vencida por modelos de desenvolvimento predatórios. “Então isso dá uma capacidade para os países detentores de florestas tropicais conseguirem preservar e manejar suas florestas no longo prazo”, reforça.

      Até o momento, outros cinco países que têm florestas tropicais integram a iniciativa, além do Brasil: ColômbiaGanaRepública Democrática do CongoIndonésiaMalásia. Além disso, cinco países potencialmente investidores também participam do processo de fundação do mecanismo: AlemanhaEmirados Árabes UnidosFrançaNoruegaReino Unido.

      No dia 4 de novembro, o ator e ativista ambiental norte-americano Leonardo DiCaprio fez a postagem de um vídeo em suas redes sociais oficiais chamando a atenção dos líderes globais para a COP30 que está prestes a começar no Brasil e ressaltou também a importância da preservação das florestas tropicais, especialmente da Amazônia, e o potencial do TFFF em contribuir com a conservação dessas matas em todo o mundo. 

      “Eu peço aos líderes mundiais que contribuam com os sistemas florestais que dão suporte à vida no planeta, apoiando as comunidades indígenas e locais na preservação ambiental. Nosso futuro depende disso”, finalizou DiCaprio, em sua mobilização de apoio ao fundo. 

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