Os gorilas-das-montanhas, uma espécie ameaçada de extinção, têm demonstrado uma resiliência incrível, apesar do conflito de ...

Gorilas protegidos a custo de sangue: por dentro do parque onde vive um dos maiores primatas do planeta

No Dia Mundial dos Gorilas, veja retratos de sobrevivência e violência contra os gorilas do Parque Virunga e de seus protetores, no Congo. O explorador de National Geographic Brent Stirton registrou imagens impactantes e exclusivas

Os gorilas-das-montanhas, uma espécie ameaçada de extinção, têm demonstrado uma resiliência incrível, apesar do conflito de longa data em seu habitat entre os rebeldes do M23, apoiados por Ruanda, e as forças armadas congolesas. Seu número tem até crescido lentamente. Considerando o conflito e sua extrema suscetibilidade a doenças humanas, isso é considerado uma espécie de milagre da conservação.

Foto de Brent Stirton
Por Sarah Gibbens
Publicado 23 de set. de 2025, 16:10 BRT

Preservar o maior primata do planeta é urgente. Diante desta tarefa, a cada 24 de setembro, anualmente se celebra o Dia Mundial dos Gorilas, data estabelecida em 2017 pelo Fundo Internacional Dian Fossey para o Estudo de Gorila para coincidir com o aniversário do seu Centro de Pesquisa Karisoke, em Ruanda, na África – um dos principais locais no mundo no estudo destes grandes primatas que foi fundado pela prestigiada zoóloga norte-americana Dian Fossey.

Justamente nessa data, a National Geographic apresenta uma história impressionante de alguns dos últimos gorilas-das-montanhas em imagens exclusivas do fotógrafo  e Explorador da NatGeoBrent Stirton.

Há 100 anos, o Parque Nacional Virunga, na República Democrática do Congo, protege uma área natural impressionante de 7.770 km², que inclui florestas exuberantesvulcões ativosanimais selvagens raros, como elefantes, hipopótamos, leões e… Alguns dos últimos gorilas-das-montanhas.

Guarda-florestais cobrem uma gorila-das-montanhas morta

Guarda-florestais cobrem os buracos de bala em uma gorila-das-montanhas fêmea antes de evacuar os corpos de nove gorilas mortos em circunstâncias misteriosas no parque em 2007. Um macho de costas prateadas chamado Senkwkwe foi baleado várias vezes. Duas das fêmeas tinham filhotes e a outra estava grávida. Um dos filhotes, mais tarde chamado Ndakazi, foi resgatado. 

Foto de Brent Stirton
Um dos três caçadores furtivos capturados em um acampamento próximo ao Lago Edward, no parque. Os ...

Um dos três caçadores furtivos capturados em um acampamento próximo ao Lago Edward, no parque. Os elefantes estavam entre os animais visados. Muitos desses caçadores furtivos têm ligações com grupos rebeldes que exploram o parque para obter lucro e sobrevivência.

Foto de Brent Stirton

Como o genocídio em Ruanda se conecta com a vida dos gorilas no Parque Virunga

Mas também espreita na parte sul do parque congolês a ameaça de violência por parte de organizações paramilitares e grupos rebeldes insurgentes. Isso porque o parque faz fronteira com algumas das zonas de conflito mais sangrentas da África

Em 1994, o genocídio ruandês criou cerca de 4 milhões de refugiados, muitos dos quais buscaram refúgio no parque, do outro lado da fronteira. Hoje, metade do parque é controlada pelo grupo rebelde M23, apoiado por Ruanda.

Proteger o Parque Virunga requer 800 guardas florestais altamente qualificados, dispostos a arriscar suas vidas por uma causa perigosa — cerca de 240 guardas florestais morreram nos últimos 20 anos enquanto estavam de serviço no parque.

Ao longo de 18 anos, o fotojornalista e Explorador da National GeographicBrent Stirton fez 13 viagens para documentar as promessas e os perigos do Parque Nacional Virunga. Suas imagens do parque e de outros refúgios de vida selvagem foram amplamente publicadas, inclusive na capa da revista norte-americana da National Geographic.

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      Guardas florestais de uma unidade anti-caça furtiva do Parque Nacional Virunga trabalham com moradores locais para evacuar os corpos de gorilas-das-montanhas gravemente ameaçados de extinção, mortos no parque. Eles carregam Senkwekwe, um macho de costas prateadas, líder do grupo. Ele e sete fêmeas foram baleados e mortos.

      Foto de Brent Stirton

      Em Virunga, ele acompanhou como, apesar de enfrentar imensos desafios, o parque persistiu. Virunga ajudou a proteger alguns dos poucos gorilas-das-montanhas que restam no mundo, uma população global que contava com apenas 300 indivíduos em 2007 e, agora, já soma mais de mil animais

      A gerência do parque também liderou iniciativas para criar energia hidrelétrica sustentável e pequenas propriedades agrícolas que oferecem à comunidade local alternativas financeiras às indústrias extrativas, como mineração e produção de carvão vegetal.

      Para homenagear os 100 anos de resiliência do parque, Stirton criou um livro de fotos com imagens tiradas dentro das fronteiras de Virunga. Elas mostram alguns dos registros mais comoventes de Stirton do parque: uma procissão para um gorila mortalmente ferido, o forte vínculo entre uma gorila-das-montanhas órfã e seu cuidador, o custo humano do conflito político e a determinação necessária para defender a conservação desse lugar único no mundo.

      **Esta conversa foi editada para maior clareza e concisão.

      Um cuidador de gorilas abraçado a um gorila doente salvo por ele

      Andre Bauma, o principal cuidador do orfanato Senkwekwe Mountain Gorilla, senta-se calmamente com o gorila Ndakasi, um órfão terminalmente doente que ele resgatou de um massacre de gorilas há 14 anos. Na época, Andre o tirou de sua mãe morta, que ele tentava mamar, e tornou-se seu companheiro diário, passando mais tempo com ele do que com seus próprios filhos. Ndakasi desenvolveu uma doença prolongada devido a uma infecção e, apesar dos melhores esforços dos Gorilla Doctors, morreu poucas horas depois desta fotografia.

      Foto de Brent Stirton
      Um cuidador com um bebê gorila

      Os cuidadores do Orfanato de Gorilas Senkwekwe interagem com gorilas-das-montanhas órfãos na sede de uma divisão de conservação administrada pela República Democrática do Congo. Os gorilas aqui ficaram órfãos depois que seus pais foram mortos. Os filhotes são frequentemente capturados com a intenção de serem vendidos no comércio ilegal de animais selvagens. Quando os caçadores ilegais não conseguiam vender os filhotes, os órfãos eram abandonados e posteriormente resgatados. Este é o único orfanato de gorilas das montanhas do mundo, liderado por Andre Bauma, um dos maiores especialistas mundiais nesses animais.

      Foto de Brent Stirton
      Guarda-florestais e soldados do exército congoleses patrulham o parque

      Guarda-florestais e soldados do exército congoleses patrulham o parque em busca do FDLR, um movimento militante liderado pelos hutus ruandeses que fugiu para o parque após o genocídio ruandês em 1994. Apesar de décadas de violência, os protetores do parque têm demonstrado uma incrível resiliência e compromisso com a proteção dos direitos da natureza.

      Foto de Brent Stirton

      Como você começou a trabalhar no Parque Nacional Virunga?


      Brent Stirton: Em 2007, eu trabalhava para a revista norte-americana Newsweek cobrindo o conflito na República Democrática do Congo. Eu e o jornalista Scott Johnson recebemos a missão de cobrir os guardas florestais que passaram por um treinamento extensivo para trabalhar no que é essencialmente uma zona de combate

      Em poucos dias lá dentro do Parque Nacional Virunga , soubemos que nove gorilas haviam sido mortos. Naquela época, eu não sabia que havia menos de 300 gorilas-das-montanhas no mundo, e nove mortos era uma enorme perda.

      Caminhamos profundamente pela floresta e encontramos várias fêmeas mortas. Um dos guardas florestais encontrou um filhote, ainda vivo, e o colocou dentro de sua camisa. Estava bastante frio naquele momento. Eu não sabia que continuaria fotografando esse filhote pelos próximos 13 anos, incluindo o dia em que ele morreu.

      Um guarda-florestal atravessa um campo de lava

      Um guarda-florestal solitário avança à frente de sua patrulha enquanto atravessa um campo de lava formado por um novo cone de cinzas vulcânicas dentro do Parque Nacional Virunga. À medida que a crosta de lava esfria, ela pode suportar cada vez mais peso. O guarda florestal solitário caminha sozinho para testar o terreno.

      Foto de Brent Stirton

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        A foto mostra os vulcões ativos dos Montes Nyiragongo e Nyamuragira

        Imagens iluminadas pelo luar dos vulcões ativos, Monte Nyiragongo e Nyamuragira, dentro do Parque Nacional Virunga. Virunga tem alguns dos vulcões mais ativos da África e, em tempos de paz, oferece viagens turísticas únicas ao Nyiragongo.

        Foto de Brent Stirton
        Guardas florestais realizam uma patrulha

        Os guardas florestais realizam uma patrulha anti-carvão vegetal na região de Kibati, no Parque Nacional Virunga. Eles estavam explorando uma área que lhes tinha sido vedada durante um ano devido a um conflito. A floresta tinha sido devastada e as árvores queimadas para produzir carvão vegetal. Esta área é um antigo habitat de chimpanzés e nunca poderá ser restaurada após um nível de devastação tão elevado. 

        Foto de Brent Stirton

        Muitas de suas fotos mostram os gorilas-das-montanhas do parque. Como é ver esses animais de perto?


        Brent Stirton: Acho que a impressão mais profunda é o quanto eles são “humanos”. É como ser olhado por uma pessoa. Os gorilas-das-montanhas, que são incrivelmente poderosos, são incrivelmente gentis. Mesmo quando demonstram agressividade, estão apenas tentando proteger suas famílias.

        Também são muito engraçados de se observar. As pessoas que cuidam deles conhecem suas características individuais. Sempre digo que, se tivesse recursos ilimitados, gostaria de oferecer a todos no mundo a oportunidade de vivenciar a natureza em primeira mão. Quando você faz isso, percebe por que vale a pena protegê-los.

        Eles têm todo o direito de estar neste planeta. Os mesmos direitos que nós temos.

        O conteúdo da bolsa de um único caçador furtivo, apreendida pelos guardas florestais após um tiroteio. ...

        O conteúdo da bolsa de um único caçador furtivo, apreendida pelos guardas florestais após um tiroteio. O caçador furtivo pertencia ao grupo rebelde Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda – que foi formada em 1995, quando os genocidas hutus fugiram para o que hoje é a República Democrática do Congo após perpetrarem o genocídio ruandês.

        Foto de Brent Stirton
        Um guarda-florestal morto dentro do parque

        O guarda-florestal Kambale Kalibumba foi morto por um soldado congolês renegado, que disparou cinco tiros contra Kalikumba à queima-roupa. Na altura, Kalikumba encontrava-se no parque a caminho de um posto avançado com rações para a patrulha. Nos últimos 20 anos, 240 guardas florestais morreram no cumprimento do seu dever.

        Foto de Brent Stirton
        Um enorme grupo de mais de 540 elefantes

        Um enorme grupo de mais de 540 elefantes mudou-se de Uganda para o Parque Nacional Virunga, em 2020, o maior rebanho de elefantes do mundo. Desde então, os elefantes dispersaram-se em grupos menores, mas permanecem dentro do Virunga.

        Foto de Brent Stirton

        Você trabalha em Virunga há 18 anos, desde aquela viagem em 2007. Por que continuou voltando?


        Brent Stirton: Após essa missão inicial, Virunga tornou-se uma história mais pessoal para mim. Já trabalhei em muitos parques florestais pelo mundo, mas este é o mais complexo.

        Tenho lembranças dolorosas de ter participado de funerais de guardas florestais assassinados, mas também vi de perto uma resiliência e uma visão incríveis da liderança do parque. Por causa do conflito, eles tiveram que mudar sua sede três vezes nos últimos três anos, mas continuam apesar desses desafios. Eles se dedicam totalmente 100%, não importa o que aconteça.

        É um daqueles lugares onde é fácil ver quem é bom e quem é mau. Senti-me compelido a manter um registro do que está acontecendo aqui. Em um lugar como Virunga, você vê toda a gama da condição humana. Grande coragem e grande vilania também. 

        Como é o pensamento visionário. A resiliência sob fogo cruzado é notável. Teria sido tão fácil tomar conta deste parque e transformá-lo em agricultura, mas, graças a essas pessoas, ele continua sobrevivendo. Senti o dever de registrar tudo isso.

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          A vida nos arredores do Parque Nacional Virunga
          O general tutsi Laurent Nkunda, líder de um grupo rebelde
          Rebeldes do M23, apoiados por Ruanda, vistos em uma estrada
          À esquerda: No alto:

          O general tutsi Laurent Nkunda, líder do grupo rebelde CNDP, é visto em seu quartel-general com guarda-costas. Os rebeldes apoiados por Ruanda ocuparam grande parte do Parque Nacional Virunga, incluindo o setor dos gorilas. A ocupação do CNDP manteve as autoridades de conservação afastadas durante 18 meses, enquanto tentavam criar a sua própria infraestrutura turística. O movimento CNDP ressurgiu como M23 em 2012, novamente em 2017 e mais uma vez em 2022. Em 2025, o M23 controlava grandes setores do Parque Nacional Virunga.

          À direita: Acima:

          Rebeldes do M23, apoiados por Ruanda, vistos em uma estrada que atravessa o Parque Nacional Virunga. A violência recente na região permitiu ao M23 expandir seu poder na região. Em 2025, eles controlavam mais de 50% do parque, incluindo todo o setor sul.

          fotos de Brent Stirton
          Um agricultor de cacau perto do Parque Nacional Virunga
          Uma mulher atacada por rebeldes
          À esquerda: No alto:

          O agricultor de cacau Noe Borase, 74 anos, inspeciona as colheitas na sua fazenda em Mutsora. Noe foi vítima dos rebeldes em várias ocasiões. Este grupo usa o terror para forçar os agricultores a fugir e depois rouba as suas lucrativas colheitas como forma de apoiar a sua agenda fundamentalista. O aumento da segurança e as fábricas sustentáveis apoiadas pelo Parque Nacional Virunga puseram fim a este problema. O parque gere fábricas de sabão, café, chocolate e óleo de palma que respeitam o ambiente. Todas elas são alimentadas por energia hidroelétrica sustentável produzida pelo parque.

          À direita: Acima:

          Georgette Ndovya Kavugho, 32 anos, foi atacada por membros do grupo islâmico ADF na sua aldeia agrícola. Eles atacaram-na com machetes, deixando cortes profundos nos braços e nas costas e abandonando-a à morte enquanto continuavam a saquear a sua aldeia. O ADF é um grupo terrorista ligado ao ISIS que tem bases dentro do Parque Nacional Virunga há mais de 15 anos.

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          Um grupo de mulheres congolesas que trabalham na indústria do carvão vegetal
          Uma cirurgia de parto feita na região em torno do Parque Nacional Virunga
          À esquerda: No alto:

          Um grupo de mulheres congolesas que trabalham na indústria do carvão vegetal permanece na estrada enquanto o carvão produzido ilegalmente é confiscado. A região é extremamente pobre e o carvão vegetal é uma das poucas formas de ganhar dinheiro. Para proteger o parque, a RDC apoiou projetos de energia hidrelétrica e agricultura sustentável.

          À direita: Acima:

          Um bebê nascido de cesariana de emergência à meia-noite é visto nos braços de uma enfermeira congolesa, enquanto os médicos cuidam da mãe ao fundo. O hospital Mutwanga foi uma das primeiras instalações da região a se beneficiar da eletricidade fornecida por uma usina hidrelétrica do Parque Nacional Virunga. Anteriormente, essas cirurgias de emergência eram realizadas à luz de lamparinas a parafina e lanternas de cabeça.

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