Saiba como estas moscas peludas respiram embaixo d'água

"Pulmão externo" permite que estas moscas vivam em um ambiente que quase nenhuma outra criatura tolera: o lago Mono, na Califórnia. 

Publicado 26 de dez. de 2017, 16:51 BRST, Atualizado 21 de mar. de 2018, 19:07 BRT
Estas moscas peludas conseguem respirar embaixo d'água

Estamos acostumados a ver moscas o tempo inteiro. Na maioria das vezes, elas estão sobrevoando nossos pratos de comida ou latas cheias de lixo, mas quão raro é observá-las fazendo algo tão impressionante quanto respirar embaixo d'água? 

O lago Mono, na Califórnia, abriga a bizarra e peluda mosca-alcalina (Ephydra hians). Pesquisadores descobriram que essas moscas "mergulhadoras" conseguem se alimentar e botar ovos nas águas altamente alcalinas do lago. Os pelos ajudam a criar uma bolha de ar ao redor da mosca que funciona como um pulmão externo. 

A pesquisa foi conduzida por Floris van Breugel, bolsista da National Geographic Society (NGS) e pós-doutorando na Universidade de Washington. A NGS financiou van Breugel para que ele estudasse as moscas-alcalinas que habitam o lago Mono. Trata-se da mesma espécie, segundo van Bruegel, sobre a qual Mark Twain escreveu há 150 anos em Roaghing it, livro inédito no Brasil – "porque elas são realmente muito divertidas de se observar", disse van Breugel.

A quantidade de moscas que vive nas margens do lago impressiona. Elas são tantas e tão compactadas que uma área do tamanho de um cartão-postal pode conter 2 mil moscas. van Breugel estima que o ápice do verão pode receber cerca de 100 milhões de moscas-alcalinas no lago Mono.

As coisas começam a ficar interessante, no entanto, quando se olha mais de perto. "Você pode começar a vê-las mergulhando embaixo da superfície d'água em pequenas bolhas de ar", ele disse.

O mistério da mosca

van Breugel e sua equipe queriam entender como as moscas-alcalinas do Mono são capazes de mergulhar na água do lago – três vezes mais salgada e muito mais alcalina que o oceano – sem se molhar. As únicas criaturas conhecidas que habitam o lago durante todo o ano são algas fotossintéticas e uma espécie de camarão pequeno. O estudo foi publicado em 20 de novembro pelo periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

Os cientistas criaram um sensor capaz de medir pequenas forças e então mergulharam as moscas-alcalinas em uma série de soluções diferentes. Eles ficaram surpresos ao descobrir que a água mais concentrada do lago contribuía para que as moscas afundassem, ao contrário de outras soluções com menos sais minerais. O culpado: o carbonato de sódio – solução usada não só como produto de limpeza mas também utilizado historicamente para pré-processar múmias no Egito Antigo.

O carbonato de sódio dificulta que moscas-alcalinas se mantenham secas porque a água é atraída com mais facilidade para os espaços entre os pelos. A resposta evolutiva das moscas alcalinas foi produzir mais pelo – 36% a mais do que outras moscas testadas pela equipe, para ser exato. Os pelos também são tratados com uma cera especial, que também ajuda a deixá-las secas. É como passar cera no carro ou nos sapatos para deixá-los menos vulneráveis ao tempo.

Efeito cascata

"Por causa dessas pequenas adaptações, as moscas-alcalinas conseguem ocupar um nicho que poucos animais podem tolerar", disse van Breugel.

A modificação dos pelos levou a efeitos significativos na ecologia global porque o lago Mono é ponto de parada para mais de 2 milhões de aves migratórias todos os anos. Isso inclui 85% de todas as gaivotas-da-califórnia, que nidificam no lago.

As descobertas de van Breugel são apenas um exemplo de como uma pequena mudança evolutiva (até coisas tão minúsculas como os pelos de uma mosca) pode ter grande impacto no ecossistema e além.

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