Insetos estão desaparecendo a um ritmo alarmante – mas podemos salvá-los

Insetos são fundamentais para o planeta e nosso abastecimento alimentar, e cientistas afirmam que todos nós podemos ajudar a protegê-los.

Por Christine Peterson
Publicado 19 de jan. de 2021, 07:00 BRT
Insetos voadores noturnos pousam em um tecido iluminado em uma estação de campo no Equador.

Insetos voadores noturnos pousam em um tecido iluminado em uma estação de campo no Equador.

Foto de David Liittschwager, National Geographic

TODO ANO, O número de insetos voadores, rastejantes ou escavadores cai um ou dois pontos percentuais em algumas regiões do planeta. Isso significa que regiões com um grande declínio poderiam perder até um terço de todos os seus insetos em duas décadas.

Essa é a má notícia que os cientistas revelaram recentemente no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Dezenas de especialistas em insetos contribuíram com uma série de relatórios para o periódico sobre a situação dos insetos em todo o mundo, seja boa ou ruim.

A boa notícia — se é que existe — é que nem todas as espécies de insetos estão diminuindo tão rapidamente. Algumas até estão aumentando. E o mais importante é que pesquisadores afirmam que ainda há esperança para impedir que nosso planeta fique sem as suas mais abundantes e diversas criaturas.

Esse não é o único problema no mundo dos insetos, estimado em até 10 milhões de espécies. As ameaças vão desde o desmatamento, mudanças climáticas e espécies invasoras à agricultura industrializada e até mesmo o excesso de iluminação. 

“Extinção causada por diversos fatores”, é como David Wagner, entomologista da Universidade de Connecticut que contribuiu para o novo relatório, descreve a situação.

Populações de insetos resistentes são essenciais por diversos motivos, desde a colaboração com o abastecimento alimentar mundial à produção de flores ao ar livre por meio da polinização. Embora a maioria de nós prefira não encontrar as criaturas mais minúsculas do planeta, não podemos subestimar o papel delas em nossas vidas. Nem a necessidade de priorizar a salvação dos insetos, afirmam os cientistas.

“Os insetos estão diminuindo assim como cada componente da natureza”, declara Matthew Forister, ecologista de insetos da Universidade de Nevada, em Reno, que também contribuiu para o relatório. “Mas está claro que é possível a recuperação dos insetos. A situação é preocupante, mas ainda não é tarde demais.”

Além da hipérbole

Relatórios sobre o declínio global de insetos não são novidade. Durante os últimos anos, um crescente conjunto de estudos e artigos da mídia chamaram a atenção para o problema em termos totalmente diferentes — de um lado, declarações sobre o fim dos insetos e, do outro, relatórios que desafiam as noções da possível extinção dos insetos de seis patas.

Wagner conta que ele e outros pesquisadores que contribuíram para o novo relatório pretendem ir além da hipérbole, analisando o máximo de pesquisas possíveis referentes à situação global atual dos insetos.

Ele explica que “será uma avaliação muito mais restrita, cuidadosa e crítica” do que alguns dos relatórios anteriores que destacavam perdas extremas em determinadas regiões e as extrapolavam para o resto do mundo.

Borboleta Pontia protodice se alimenta de uma verbena, no Texas.

Foto de Rolf Nussbaumer, Nature Picture Library

Os insetos estão diminuindo a um ritmo alarmante? Ele diz que sim. É mais complexo do que um colapso global iminente? A resposta também é sim.

Como exemplo, Forister, que estuda borboletas no oeste do Estados Unidos, aponta duas espécies que representam situações bem diferentes.

A população da borboleta-pingos-de-prata, geralmente encontrada em regiões do sul dos Estados Unidos, México e América Central, agora está crescendo na Califórnia, devido ao cultivo de seu hospedeiro na região, a passiflora, uma planta ornamental popular.

Por outro lado, a borboleta Euchloe ausonides, que cresce em plantas de mostarda invasoras, era abundante, mas sua população despencou, provavelmente devido a três fatores: mudanças climáticas, perda de habitat e agrotóxicos.

O estudo de Forister foca especialmente em como as mudanças climáticas afetam as borboletas. Espécies estão sofrendo com incêndios florestais, estiagens e eventos climáticos extremos, e embora teorias anteriores postulassem que borboletas em regiões montanhosas poderiam simplesmente subir ou descer encostas de montanhas para tirar proveito de melhores condições climáticas, parece que não é bem assim, pelo menos não para todas as espécies.

Outras espécies, incluindo a famosa borboleta-monarca, enfrentaram os verões de 2011 a 2015 melhor do que o esperado, quando as condições mais quentes lhes proporcionaram mais tempo para sua reprodução. Mas isso não impediu o declínio contínuo das monarcas na região oeste.

Como podemos ajudar

Em meio a estatísticas devastadoras, Forister e Wagner afirmam que ainda há esperança.

A Alemanha investiu quase US$ 120 milhões para conservação, monitoramento e pesquisa de insetos em 2019. A Costa Rica apoiou organizações internacionais que investiram US$ 100 milhões para inventariar e sequenciar porções do DNA de “todas as criaturas multicelulares do país ao longo de uma década”, o que será particularmente importante para os incontáveis insetos tropicais desconhecidos, escreveu Wagner na introdução do relatório.

Os cientistas cidadãos estão se voluntariando para ajudar a expandir a base de conhecimento. Um aplicativo chamado iNaturalist, no qual os usuários podem inserir imagens para identificação e categorização, está se tornando uma das maiores fontes de observações de insetos.

Soluções para os problemas gerais, como as mudanças climáticas, dependem de legislação e novas políticas, mas as próprias pessoas podem fazer a diferença pelos insetos em seus quintais, bairros e comunidades, explicam Wagner e Forister. 

Uma maneira é reduzir o uso de agrotóxicos e herbicidas em gramados. Seria melhor ainda se as pessoas considerassem transformar parte de seu gramado em uma área natural. O habitat de insetos poderia aumentar em mais de 1,6 milhão de hectares nos Estados Unidos se em cada casa, escola e parque 10% de seus gramados fossem transformados, escreveu o entomologista Akito Y. Kawahara, da Universidade da Flórida em Gainesville, no relatório do periódico do PNAS. Cultivar plantas nativas e limitar a iluminação exterior que atrai e geralmente mata insetos noturnos.

Algo mais simples ainda seria deixar gravetos em jardins e um pouco de terra exposta no outono para as abelhas que nidificam no solo, explica Lusha Tronstad, zoóloga de invertebrados do Banco de Dados de Diversidade Natural de Wyoming, que estuda o declínio de mamangavas e não participou do relatório. Além de não recolher as folhas antes do inverno.

“As pessoas podem ter menos trabalho e isso beneficiará os insetos”, ela diz.

Tronstad também observa que o destino de uma espécie pode mudar rapidamente, para melhor ou para pior. A população de mamangavas diminuiu em 93% em apenas duas décadas.

Entretanto a borboleta-azul-de-karner (Plebejus melissa samuelis), ameaçada de extinção, e que foi batizada pelo escritor e entomologista Vladimir Nabokov, tem respondido bem aos esforços de recuperação, diz Wagner. A pequena borboleta sofre há tempos com a supressão de incêndios e o desenvolvimento residencial e comercial em seu habitat arenoso, desde as margens dos Grandes Lagos até a Nova Inglaterra. Os esforços para plantar e cultivar o tremoço – necessário para os adultos e as larvas– e outros projetos de melhoria do habitat estão ajudando.

Pequenas mudanças individuais, como restringir o uso de agrotóxicos no gramado, evitarão os piores efeitos das mudanças climáticas? Não, esclarece Forister. Mas fará uma diferença nas populações locais de insetos, e essa diferença conta.

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