Produtos químicos escondidos em sua cozinha: veja quais são e o fazer para reduzi-los

Panelas antiaderentes, caixas de pizza e até mesmo alimentos possuem substâncias nocivas. É impossível evitar totalmente compostos químicos que fazem mal à saúde, mas os especialistas têm dicas sobre como limitar sua exposição.

Por Joel Mathis
Publicado 15 de mai. de 2024, 08:00 BRT
É hora de repensar seus utensílios de cozinha? Especialistas afirmam que panelas e frigideiras antiaderentes – ...

É hora de repensar seus utensílios de cozinha? Especialistas afirmam que panelas e frigideiras antiaderentes – mesmo aquelas que são anunciadas como livres de substâncias químicas nocivas  – ainda podem conter substâncias com efeitos negativos sobre sua saúde.

Foto de EzumeImages, Getty Images

Linda Birnbaum costumava ter um conjunto de panelas antiaderentes. Não tem mais. Ela se livrou delas

Mas por que ela fez isso? Porque Birnbaum – que é ex-diretora do National Institute of Environmental Health Science do governo dos Estados Unidos – ficou cada vez mais desconfortável com um fato essencial sobre essas panelas tão fáceis de limpar: muitas vezes, elas são fabricadas com Pfas, que são substâncias químicas per e polifluoroalquil, usadas para tratar uma série de produtos para torná-los resistentes ao caloróleo, manchaságua.  

Todas as funções são muito úteis, claro. Mas os Pfas também pertencem ao conjunto de compostos criados pelo homem conhecidos como “produtos químicos eternos”, que podem permanecer indefinidamente no meio ambiente e no corpo humano, às vezes com efeitos tóxicos. Eles podem ser encontrados em toda parte: nos recibos da farmácia, no tecido do sofá resistente a manchas, nas espumas de combate a incêndios, no suprimento de água e, sim, em diversas coisas na sua cozinha.

É por isso que as panelas de Birnbaum foram para o lixo. “Essa enorme classe de produtos químicos está em toda parte, em tudo e em todos nós”, afirma ela. “Eu não os uso mais porque não quero ser exposta a essas coisas.”

Os Pfas e outro produto químico muito usado, o BPA, têm sido cada vez mais o foco de preocupação entre pesquisadores e consumidores nos últimos anos. O que eles são? Quais são os seus efeitos na saúde? E como você pode proteger sua cozinha contra eles?

O que são os Pfas?

Os Pfas são uma “enorme família de produtos químicos”, diz Tasha Stoiber, cientista sênior do Environmental Working Group. Quão grande? Ninguém parece saber, as estimativas chegam a 15 mil compostos diferentes ou mais. 

Cada um deles contém uma ligação flúor-carbono “que lhes confere propriedades exclusivas de resistência a manchas, graxa e água”, explica Stoiber. E mais: “Quase todo mundo o tem em seu corpo”, acrescenta Stoiber.

Oficialmente, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos afirmam que os efeitos da exposição ao Pfas sobre a saúde humana são “incertos” e exigem mais pesquisas. Mas a agência também reconhece que os estudos existentes com animais indicam que os produtos químicos “podem afetar a reprodução, a função da tireoide, o sistema imunológico e prejudicar o fígado”.

“Seria difícil encontrar alguém que dissesse que isso não tem impacto na saúde”, diz Keith Vorst, diretor do Polymer and Food Protection Consortium da Iowa State University, nos Estados Unidos, que pesquisa essas questões para empresas do setor privado. “Já existe histórico médico suficiente para dizer que esses compostos causam alguns problemas de saúde bastante sérios.”

Qual a diferença entre os Pfas e os BPAs?

O bisfenol-A vem de uma classe totalmente diferente de produtos químicos, usados para fabricar plásticos de policarbonato duro. O produto químico também é encontrado em revestimentos protetores de latas de alimentos – incluindo latas de refrigerante e cerveja – bem como em selantes dentários, brinquedos de plástico e outros produtos.

Assim como os Pfas, o CDC afirma que os efeitos do BPA sobre a saúde são “desconhecidos”, embora acrescente que o produto químico “demonstrou afetar os sistemas reprodutivos de animais de laboratório”.

“É basicamente um estrogênio ambiental”, afirma Stoiber, do EWG. “Ele pode desregular os hormônios do corpo e causar problemas, como aumento do risco de câncer de mama, problemas de fertilidade e coisas do gênero.”

Onde esses produtos químicos podem ser encontrados na cozinha?

Em toda parte. As panelas antiaderentes tendem a chamar mais atenção, mas vários recipientes para alimentos podem conter alguma forma de Pfas ou BPA. “O plástico é um grande problema nas cozinhas atualmente”, diz Birnbaum.

Embora os consumidores pareçam ter percebido o uso do BPA em garrafas de água, mamadeiras e outros recipientes, os Pfas são mais “discretos”: eles podem ser encontrados em recipientes como caixas de pizza e sacos de pipoca para micro-ondas. “Sabemos que as pessoas que consomem mais fast food tendem a ter níveis mais altos de Pfas do que as pessoas que consomem mais alimentos preparados na hora”, diz Birnbaum.

É por isso que a FDA (U.S. Food and Drug Administration) anunciou em fevereiro de 2024 que as empresas estão eliminando voluntariamente o uso de Pfas nas embalagens de alimentos. Não se sabe ao certo quanto tempo levará até que os produtos feitos com essas substâncias sejam completamente retirados do mercado.

Ainda assim, os Pfas são tão difundidos no meio ambiente que são frequentemente encontrados nos alimentos e na água, independentemente da embalagem. “Os alimentos também podem ser contaminados com Pfas por meio do solo, da água e do ar onde são cultivados”, informa o Natural Resources Defense Council dos Estados Unidos. Isso inclui produtos agrícolas, mas também peixes e mariscos.

Como se proteger desses produtos químicos tão presentes no dia a dia?

“A resposta é: como indivíduo, não é fácil", afirma Birnbaum. Comece pelas panelas. “Você pode evitar isso optando por panelas sem revestimento, panelas sem antiaderente”, diz Vorst, ou seja, panelas feitas de vidroaço carbono e ferro fundido. Mas isso não é fácil - elas são mais difíceis de limpar “e também são mais caras”, comenta. 

Também pode haver mais trabalho para a preparação de alimentos. “Na medida do possível, recomendamos que você cozinhe em casa com ingredientes integrais”, disse Stoiber. Se você precisar usar panelas antiaderentes, tome cuidado para não aquecer demais os alimentos. “Pode ser que você queime os alimentos – cozinhe em altas temperaturas – e é aí que você pode ficar mais exposto aos produtos químicos da panela ou aos vapores”, diz ela.

Quanto às sobras, provavelmente é melhor manter os recipientes de plástico fora do micro-ondas. “Se você armazenar em plástico, isso não é terrível”, diz Birnbaum, “mas certamente não aqueça em plástico”.

Os rótulos nem sempre o ajudarão. Os especialistas descrevem um fenômeno conhecido como “substituição lamentável”, no qual uma substância prejudicial em um produto pode ser trocada por outra que também é prejudicial, mas menos conhecida. Um rótulo que indica que um produto é “livre de BPA” pode, em vez disso, conter bisfenol-s, uma substância química relacionada que também suscitou preocupações. Da mesma forma, utensílios de cozinha com rótulo “livre de Pfoa” podem ainda usar outra forma de Pfas. Em caso de dúvida, você pode consultar sites especializados, como os administrados pelo Green Science Policy Institute, para obter ajuda na tomada de decisões de compra.

Quais os próximos passos?

Essas dicas podem ajudar, mas provavelmente não produzirão uma cozinha completamente livre de contaminação, pois o mundo está simplesmente muito saturado de produtos químicos para sempre. “É impossível sair dessa situação atualmente”, diz Stoiber. 

Mas estudos mostram que pequenas mudanças  na alimentação – como comer menos pipoca de micro-ondas ou comida para viagem – podem reduzir as quantidades mensuráveis de PFAS no sangue de uma pessoa. “Muitos desses comportamentos de fato fazem diferença”, acrescenta Stoiber.

Considerando as preocupações, por que o Pfas e o BPA continuam sendo usados? Simples: eles são úteis. “Eles são muito bons no que fazem”, comenta Vorst. Ninguém quer que a gordura do hambúrguer vaze através da embalagem para o assento do carro, por exemplo, e ninguém encontrou uma maneira melhor de manter essa gordura contida. “Não acho que tenhamos encontrado uma química alternativa que seja tão econômica e tenha o desempenho desses materiais.”

Por enquanto, as escolhas são em grande parte deixadas para os consumidores individuais. “Se decidirmos que realmente precisamos deles, temos que nos perguntar se existe uma alternativa segura”, disse Birnbaum. “E se houver uma alternativa segura, mudaremos para a alternativa.”

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