
Por que cada pessoa tem uma voz diferente? A ciência explica por que a voz humana é tão única e versátil
A versatilidade da voz é imensa, podendo expressar emoções variadas na voz e no canto. Na foto, um coral de vozes chamado Mannheimer Liedertafel se apresenta na cidade de Mannheim, na Alemanha.
Você não precisa ser um cantor de música clássica, tampouco uma cantora pop como Lady Gaga para perceber que o tom da sua voz é único, como uma digital – mesmo que tenha tons semelhantes aos de outras pessoas, como explica um artigo da “News in Health”, site de notícias do departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo dos Estados Unidos.
O que faz cada voz ser única e como ela pode ser versátil faz parte da ciência do corpo humano e isso também pode explicar como algumas pessoas têm a capacidade vocal para fazer locuções, dublagens e, claro, cantar profissionalmente – como os participantes da nova edição do reality show The Voice Brasil (que estreia neste 6 de outubro no Disney+).
Para quem tem curiosidade sobre o tema, National Geographic Brasil explica como a voz humana é produzida, por que cada pessoa tem uma voz única e por que ela é tão versátil em emitir diferentes sons.
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Como a voz humana é produzida?
Muitos animais, como os chimpanzés e os bonobos, transmitem informações básicas usando a voz, mas não demonstram toda a gama de habilidades vocais como os seres humanos, o que permite que a voz das pessoas seja usada tanto para comunicar como para entreter.

Ilustração que permite ver a estrutura da boca, nariz, laringe e, em seu interior, as pregas vocais.
A voz humana é produzida a partir de um som gerado na laringe, órgão localizado no pescoço e que é um tubo alongado com as pregas vocais (ou “cordas vocais”, como são chamadas popularmente) em seu interior, como descreve um artigo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
“Quando respiramos, as pregas vocais ficam abertas, ou seja, afastadas entre si, para permitir a entrada e a saída do ar. Porém, quando queremos produzir a voz, as pregas vocais se aproximam. O ar passa entre elas e as faz vibrar, produzindo o som. Portanto, o ar é essencial para que exista a voz, sendo o combustível energético da fonação”, afirma o artigo do HC-USP sobre saúde vocal.
De acordo com a fonte, o som básico produzido pela vibração das pregas vocais percorre um caminho dentro do corpo passando pelo trato vocal e por várias estruturas, até sair pela boca e/ou pelo nariz.
Esse som vai sendo amplificado através dessas cavidades de ressonância, que funcionam com um alto falante natural da voz e são constituídas por laringe, faringe, boca e nariz.
Os sons, então, são articulados principalmente na cavidade da boca, por movimentos de língua e lábios. Tais movimentos devem ser precisos para produzir sons claros e tornar inteligível a mensagem que se quer transmitir, seja ela em forma de fala ou música.
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A voz humana tem múltiplas funções e é capaz de expressar emoções variadas, seja falando ou cantando, como as meninas da foto acima estão fazendo em um evento na cidade de Bath, na Inglaterra.
Por que cada voz é única?
Como afirmam tanto a “News in Health” como o artigo da USP, a individualidade da voz de cada ser humano é um tipo de expressão sonora absolutamente exclusiva, tal como a impressão digital. Nascemos com determinadas características anatômicas e genéticas que produzirão um tipo de voz; porém, formamos uma identidade vocal ao longo da vida.
“A voz se forma com o tempo contando com principalmente com três bases: biológica, psicológica e sócio-educacional. Tanto nossa estrutura física, gênero, idade, como os grupos sociais e profissionais também moldam nossas vozes”, explica a fonte da USP.
Outro ponto importante que marca a individualidade de cada voz é a genética. Um estudo publicado em junho de 2023 na revista científica “Science Advances” foi a fundo nesta questão e buscou saber quais genes estão envolvidos e como eles exercem sua influência na formação da voz de cada um. A pesquisa combinou dados sobre a diversidade na sequência do genoma com a acústica da voz e das vogais em gravações de fala de 12.901 pessoas na Islândia.
Foi observado como o tom de voz e a acústica das vogais variam ao longo da vida e se correlacionam com características físicas, fisiológicas e cognitivas.
“Descobrimos que o tom de voz e a acústica das vogais têm um componente hereditário e descobrimos variantes comuns relacionadas no gene ABCC9 que se associam ao tom de voz. Ao mostrar que a voz e a acústica das vogais são influenciadas pela genética, demos passos importantes para compreender a relação da genética e a evolução do sistema vocal humano”, diz a pesquisa.
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A voz humana alcança diversos tons e timbres, sendo capaz de soar grave, agudo, intenso, suave e cada pessoa tem um registro próprio de voz. Acima, músico da banda canadense de indie rock July Talk canta no Orange Blossom Special Festival de 2022, em Toronto, Canadá.
A versatilidade da voz humana
Ao falar alto, sussurrar, gritar, cantar ou imitar outra voz, as pessoas exploram as variedades de tons, sons e timbres que sua própria voz permite. Isso porque essa é uma aptidão humana muito versátil, possibilitando a alguém cantar alcançando os tons graves de um barítono, por exemplo, ou os agudos como uma soprano, chegando ao som “rasgado” de um cantor de heavy metal, ou mais suave, como pede a bossa nova.
A formação da voz tem questões anatômicas e genéticas, como dito acima. Mas a parte acústica do corpo humano também influencia na assinatura individual e na versatilidade de cada voz, como afirma o sueco Johan Sundberg, estudioso da ciência e da acústica da fala em seu livro “The Science of a Singing Voice” (“A Ciência da Voz Cantada”, em tradução livre).
“A acústica é uma assinatura sonora, é o que faz duas pessoas cantarem a mesma nota com sons totalmente diferentes. Ela também permite que uma mesma pessoa emita sons variados. Isso por conta do tom (que pode ser agudo ou grave), determinado pela estrutura das cordas vocais; e o timbre, que se forma pela qualidade da voz, moldada por como a boca e o nariz amplificam as frequências de som”, conta Sundberg em seu livro.
Há diversos fatores que definem a singularidade e a versatilidade da voz humana, que “está menos na capacidade anatômica de produzir sons e mais na capacidade de coordenar com precisão os movimentos físicos e processar os sons em uma linguagem significativa”, explica um artigo do professor Nöel Hanna sobre o tema no site da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália.
As pregas vocais são duas membranas de tecido que vibram cerca de 100 a 300 vezes por segundo (em hertz) durante a fala, possibilitando a produção de diversos tipos de sons, diz a fonte australiana. Os sons da fala são modificados pelos articuladores (língua, lábios, palato mole, etc.) para filtrar o que é produzido pelas pregas vocais. Isso permite a cada pessoa modular o som de sua voz de acordo com sua própria capacidade vocal e fazer diferentes usos dele — seja para a fala, o canto, para uma imitação ou simplesmente para demonstrar como se sente.
