O que é insegurança alimentar e quais são suas causas

Novo relatório da ONU coloca em foco os inúmeros desafios que o Brasil e o mundo vêm enfrentando com o aumento da insegurança alimentar de milhões de pessoas. Mas de que trata esse conceito e como é possível combater a fome?

Um cozinheiro corta salsa para as refeições de pessoas necessitadas. Queens, New York, Estados Unidos.

Foto de Natalie Keyssar
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 12 de jul. de 2023, 16:40 BRT

A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou, nesta quarta-feira (12/07), o relatório que aponta para o crescimento da fome no Brasil e no mundo.

Cerca de 70,3 milhões de brasileiros (32,8% da população) encontram-se em situação de insegurança alimentar. Já o número de pessoas que não têm o que comer (um estado mais grave de insegurança alimentar) é estimado em 21 milhões (9,9%), de acordo com informações coletadas entre 2020 e 2022. 

Os números representam um aumento em comparação com os dados de 2014 a 2016. Naquele período, a porcentagem da população que enfrentava  insegurança alimentar estava em 18,3% (contra os 32,8% atuais).

No mundo, são 3,1 bilhões de pessoas em insegurança alimentar e 783 milhões passando fome, revelam os dados da ONU. A região mais afetada é a África, continente em que um a cada cinco indivíduos sofre de fome. Esse número é mais do que o dobro da média mundial.

Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu três ambiciosas metas: acabar com a fome mundial, alcançar a segurança alimentar e a melhoria da nutrição global – tudo até o fim da década. Os pontos integram o objetivo número 2 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU.

Cenários de insegurança alimentar

Nos últimos anos, vários fatores desviaram o mundo desse objetivo pleiteado pela ONU, aumentando os cenários de insegurança alimentar no mundo. Conflitos cada vez mais violentos, crises econômicas e os efeitos da pandemia de Covid-19 são alguns dos fatores apontados pela organização como responsáveis pela piora na alimentação mundial. 

O relatório O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição do Mundo 2021, feito pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), mostra que o número de pessoas afetadas pela fome globalmente subiu para cerca de 828 milhões em 2021, um aumento de 150 milhões desde 2019, ou seja, antes da pandemia. 

O relatório de 2021 também mostra que, no mundo, cerca de 2,3 bilhões de pessoas estavam em insegurança alimentar moderada ou grave e quase 924 milhões enfrentam níveis mais preocupantes de falta de alimentos. Mas para entender a gravidade do problema, primeiro é preciso analisar o que significa dizer que uma pessoa está em situação de insegurança alimentar – e como ela se relaciona com a questão da fome. 

Voluntários embalam alimentos para distribuição no CENTI. Queens, New York, Estados Unidos.

Voluntários embalam alimentos para distribuição no CENTI. Queens, New York, Estados Unidos.

Foto de Natalie Keyssar

O que é a insegurança alimentar?

A insegurança alimentar acontece quando as pessoas não têm acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficiente para sua sobrevivência, como define a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Isso quer dizer que a pessoa em estado de insegurança alimentar passa por incertezas de quando, como e quanto irá comer em sua próxima refeição, colocando em risco sua nutrição, saúde e bem-estar. 

Tipos de insegurança alimentar

A FAO detalha ainda mais a situação e separa os níveis de insegurança alimentar em quatro categorias – moderada, grave, crônica e aguda. 

A insegurança alimentar moderada, por exemplo, acontece quando a pessoa tem sua capacidade de obter alimentos prejudicada devido a fatores como renda ou acesso a recursos. Os indivíduos que estão nesse estágio do problema de alimentação acabam obrigados, em determinadas épocas do ano, a reduzir a quantidade ou a qualidade dos alimentos que consomem. 

No estado grave de insegurança alimentar se enquadram as pessoas que não têm acesso à comida, podendo passar fome durante o dia e, nos casos mais extremos, passar dias sem comer. 

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    “Um terço dos alimentos produzidos são desperdiçados diariamente, reforçando os cenários de insegurança alimentar. ”

    por FAO

    Já a crônica é a insegurança alimentar que persiste ao longo do tempo, ou seja, uma pessoa que vive por grandes períodos em que há incerteza em relação às suas refeições. Esse nível é comumente relacionado a causas estruturais da sociedade, como o alto preço dos alimentos. 

    Por fim, a insegurança alimentar aguda é aquela que se estabelece em um nível no qual a falta de alimentos é suficiente para ameaçar a vida ou meios de subsistência de uma pessoa, independentemente da causa, contexto ou duração. Por exemplo, quando a pessoa sofre de desnutrição, com risco de óbito.

    Diferença entre insegurança alimentar e fome

    Como os dois conceitos são bastante próximos, por vezes eles acabam se confundindo. A insegurança alimentar considera não só a quantidade de alimentos a que a pessoa tem acesso, mas também a qualidade e quais as causas para essa incerteza no que está disponível para comer. 

    Já a fome é definida pela FAO como um desconforto físico ou dor causada pelo consumo insuficiente de energia alimentar. Entretanto, quem passa fome por conta de causas sociais e estruturais, também se encontra em algum nível de insegurança alimentar. 

    O termo “fome” também costuma ser usado como sinônimo de subalimentação crônica, ou seja, a condição persistente – que dura muito tempo – na qual o consumo alimentar habitual de um indivíduo é insuficiente para fornecer a quantidade de calorias necessárias para manter uma vida normal, ativa e saudável.

    O que causa insegurança alimentar

    O relatório O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição do Mundo 2021, feito pela FAO, destaca que os principais fatores para o aumento da insegurança alimentar e a desnutrição são os conflitos, as temperaturas extremas no clima e as crises econômicas. 

    Como exemplos, o documento destaca a guerra na Ucrânia e os demais conflitos que geram ondas de refugiados; a tendência de desaceleração econômica e estagnação em economias mundiais, principalmente com os efeitos da pandemia de Covid-19, que colocou vários países em recessão econômica.  

    Outro destaque é o aumento da frequência e intensidades de eventos climáticos extremos, os quais geram desastres e colocam milhares de pessoas em situações de vulnerabilidade. 

    Além disso, o documento também indica que essas causas, combinadas com um aumento das desigualdades sociais, geram um cenário complexo, impactando negativamente a segurança alimentar e a nutrição.

    Funcionários e voluntários da Igreja Luterana do Calvário distribuem comida para longas filas de carros. Mineápolis, ...

    Funcionários e voluntários da Igreja Luterana do Calvário distribuem comida para longas filas de carros. Mineápolis, Estados Unidos.

    Foto de David Guttenfelder

    Como combater a insegurança alimentar

    Olhando para o futuro, as projeções do relatório da FAO indicam que cerca de 670 milhões de pessoas, ou seja, 8% da população mundial, ainda enfrentarão a fome em 2030. 

    O número, de acordo com o relatório, se igualaria aos patamares de 2015, quando a meta de acabar com a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição até o final desta década foi lançada na Agenda 2030 da ONU. 

    Considerando as causas para a insegurança alimentar, a FAO indica algumas medidas para combater a fome no mundo. Entre elas estão a integração de políticas humanitárias em áreas de conflito, ampliar a proteção dos sistemas alimentares, como a produção de pequenos agricultores, às mudanças climáticas, e o fortalecimento de programas econômicos voltados a pessoas em situação de vulnerabilidade

    Além desses objetivos, evitar o desperdício de alimentos também é uma forma apontada para diminuir o problema. De acordo com a FAO, um terço dos alimentos produzidos são desperdiçados diariamente, reforçando os cenários de insegurança alimentar. 

    A boa notícia, é que a maior parte do desperdício acontece em casa e, por isso, é possível diminuí-lo com simples medidas do dia a dia. Confira algumas recomendações de especialistas para evitar a perda de alimentos e colaborar com o combate à fome. 

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