Um vulcão com cerca de 450 mil km de extensão pode ter sido descoberto em Marte
Essa foto composta de Marte foi criada a partir de mais de 100 imagens tiradas pela Viking Orbiters na década de 1970. Apesar de ter sido bem fotografada, os cientistas acreditam ter encontrado um novo vulcão, visível próximo às gravuras de uma grande rede de cavernas e túneis à esquerda.
Não é todo dia que se descobre um novo vulcão gigantesco em outro planeta, mas é exatamente isso que dois pesquisadores afirmam ter feito. Com mais de 9 mil metros de altura (um pouco mais alto que o Monte Everest, no Himalaia) e talvez 450 km de comprimento em sua base (mais longo que a distância entre as cidades norte-americanas de Washington D.C. a Nova York), ele é um verdadeiro colosso.
Como todos os vulcões de Marte, não há sinais de que esteja ativo no momento. E ele pode ser extremamente antigo – uma testemunha vulcânica da maior parte da história de vários bilhões de anos do Planeta Vermelho.
"Nós dois não acreditávamos que se tratava realmente de um vulcão gigante e que ninguém parecia ter relatado isso antes", diz Pascal Lee, cientista planetário do Instituto Seti (nos Estados Unidos) – um dos dois co-descobridores do vulcão. "Acho que é justo dizer que ficamos entusiasmados."
Lee e seu colega apresentaram suas descobertas na Conferência de Ciência Lunar e Planetária em The Woodlands, no Texas. Encontrado sobre um extenso labirinto de cavernas e túneis erodidos pela água, denominado Noctis Labyrinthus – que significa "Labirinto da Noite" – a equipe deu ao seu suposto vulcão o nome provisório de “Noctis”, aguardando análises adicionais da comunidade científica. A arquitetura vulcânica foi fortemente erodida por eras de água e movimento glacial, e eles afirmam que é por isso que o Noctis foi ignorado até agora.
O passado magmático de Marte
Nem todos concordam que um vulcão colossal tenha sido realmente descoberto. O trabalho ainda não foi revisado por pares, mas aqueles que viram a apresentação na conferência estão intrigados, mas céticos.
"Os pesquisadores apresentaram um caso interessante, mas não totalmente convincente", comenta Rosaly Lopes, cientista planetária do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa que não esteve envolvida no novo trabalho. "A área é altamente erodida. É difícil dizer com certeza". Mas, acrescenta ela, "acho que a maioria de nós ainda pensa que é uma ideia interessante e digna de mais estudos".
Marte já foi um mundo vulcanicamente ativo, apresentando uma miríade de erupções explosivas e efusivas – e a construção de alguns vulcões verdadeiramente enormes, incluindo o famoso Olympus Mons, que é três vezes mais alto que o Everest. Ele é tão pesado que até afundou um pouco no planeta.
Este mapa topográfico mostra o que alguns cientistas estão chamando de vulcão Noctis. Ele não tem o formato clássico de cone porque foi desgastado pela erosão durante milhões de anos.
Embora existam alguns sinais tentadores de que futuras erupções no planeta possam ocorrer, a maioria dos cientistas suspeita que o vizinho da Terra já passou de seu apogeu eruptivo. E, embora pequenos grupos de características vulcânicas sejam ocasionalmente encontrados por pesquisadores com olhos de águia, presume-se que os vulcões maiores já tenham sido identificados.
Marte tem uma atmosfera essencialmente transparente e, além da estranha tempestade de poeira global, sua superfície tem sido quase continuamente examinada por naves espaciais em órbita, desde o satélite Mariner 9 da Nasa que chegou acima do mundo ocre em 1971.
Portanto, quando Lee e seu colega de equipe, Sourabh Shubham, um estudante de doutorado da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, afirmaram ter descoberto um vulcão gigante, foi uma surpresa.
Em busca de um vulcão antigo
Usando um conjunto de mapas de missões orbitais criados ao longo do último meio século, eles se concentraram em um campo de depósitos criados por atividade vulcânica explosiva, um campo que havia sido cortado pelos restos de uma geleira.
Perguntando-se de onde esse material vulcânico poderia ter entrado em erupção, eles olharam para as proximidades, para a extensão leste de Noctis Labyrinthus, e "vimos algo notável", diz Lee: a forma do que eles acham que é um vulcão erodido, encimado por um poço semelhante a um caldeirão em seu pico parcialmente desmoronado e adornado com antigos fluxos de lava, coberturas de cinzas vulcânicas e manchas minerais cozidas por água corrente magmaticamente aquecida.
Com base na extensão avançada de sua erosão, na estratificação de sua matéria em erupção e na comparação de suas fraturas com as do Noctis Labyrinthus (cujo tempo de formação é amplamente conhecido), eles suspeitam que o vulcão tenha tomado forma há mais de 3,7 bilhões de anos, depois efervesceu e entrou em erupção talvez há apenas 10 milhões de anos.
"Estamos olhando para um vulcão cuja atividade abrange a maior parte da história geológica de Marte", afirma Lee. E a presença de uma fonte de calor prolongada em uma área conhecida por ter sido adornada por geleiras também implica que essa pode ser uma área interessante para ser explorada por um futuro rover - um antigo local de piscinas quentes no qual um detetive robótico pode encontrar sinais de vida microbiana passada.
No entanto, apesar da confiança de Lee, outros não estão convencidos. As características identificadas como depósitos de erupção ou formas de relevo vulcânicas não são inequivocamente vulcânicas, e ainda não está claro o quanto elas são contínuas ou não.
"Isso não é suficiente para me convencer de que se trata de um vulcão", diz Tracy Gregg, vulcanóloga planetária da Universidade de Buffalo, também nos Estados Unidos. "Uma cratera de impacto que foi preenchida e erodida poderia apresentar semelhanças."
Embora a possibilidade de um vulcão titânico negligenciado em Marte seja tentadora, são necessárias mais evidências para confirmar se essa é realmente uma nova descoberta explosiva.