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Quem é Oppenheimer? O controverso homem por trás da bomba atômica

Conheça melhor a real história de Julius Robert Oppenheimer, o lendário físico norte-americano que desenvolveu a bomba. Será que ele realmente viveu para se arrepender?

Um físico teórico brilhante, J. Robert Oppenheimer foi escolhido para dirigir um laboratório em Los Alamos, Novo México, como parte dos esforços dos Estados Unidos para desenvolver armas nucleares. Ele foi bem-sucedido, mas acabou se tornando um defensor contra o desenvolvimento de bombas ainda mais potentes.

Foto de Corbis Historical Getty Images
Por Erin Blakemore
Publicado 11 de mar. de 2024, 05:54 BRT

Novas descobertas científicas podem despertar a curiosidade, explicar o desconhecido e até melhorar o mundo. Mas o que acontece quando um cientista acaba se arrependendo do conhecimento que liberou?

Essa é a questão retratada em um filme sobre o cientista norte-americano J. Robert Oppenheimer, que foi o principal nome no projeto de construção de uma bomba atômica em um laboratório ultrassecreto no deserto do Novo México, nos Estados Unidos, nos anos 1940 – e suas dúvidas ao longo da vida sobre a era nuclear que ele inaugurou.

Será que o lendário físico realmente se arrependeu de sua criação nuclear? A verdade é tão complicada quanto a ciência por trás da bomba. Veja como Oppenheimer criou - e questionou - a bomba atômica.

De criança prodígio ao Projeto Manhattan

Nascido na cidade de Nova York em 1904Julius Robert Oppenheimer era filho de imigrantes judeus alemães que encontraram riqueza no comércio de importação de tecidos. Ele se formou na Universidade de Harvard após apenas três anos de estudo, depois estudou física teórica na Universidade de Cambridge, também nos Estados Unidos, e na Universidade de Göttingen, na Alemanha, onde obteve seu doutorado aos 23 anos.

jovem físico "Oppie" logo conviveu com as maiores figuras científicas de sua época, e seu trabalho acadêmico avançou a teoria quântica e previu tudo, desde o nêutron até o buraco negro. Ele também era um voraz aprendiz fora das ciências, aprendendo sânscrito, estudando religião e se alinhando a diversas causas progressistas.

Depois que os Estados Unidos se juntaram aos Aliados em 1941Oppenheimer foi convidado a participar do ultrassecreto Projeto Manhattan, cujo objetivo era desenvolver uma bomba atômica. Enquanto se esforçava para descobrir o que precisaria acontecer para desencadear e sustentar o tipo de reação de cadeia de nêutrons necessária para criar uma explosão nuclear, os superiores de Oppenheimer ficaram impressionados com seu amplo conhecimentoambição e capacidade de trabalhar com outros cientistas e inspirá-los. Em 1942, o Exército dos Estados Unidos chamou Oppenheimer para chefiar o laboratório secreto onde a bomba seria testada.

Los Alamos e o teste Trinity

Enquanto os oficiais do Exército procuravam locais apropriados para esse laboratório, Oppenheimer, que adorava o sudoeste americano e possuía um rancho no Novo México, sugeriu o local da Los Alamos Ranch School, uma escola particular para meninos perto de Santa Fé. Logo, ele supervisionou centenas, e depois milhares, de trabalhadores no que ficou conhecido como o Laboratório de Los Alamos.

Oppenheimer não se limitou a reunir um grupo das mentes científicas mais brilhantes de sua época – ele os inspirou, estimulou, organizou e os incentivou a trabalhar. "Ele estava intelectualmente e até fisicamente presente em cada etapa decisiva", lembrou o físico Victor Weisskopf mais tarde. Essa presença resultou em "uma atmosfera única de entusiasmo e desafio" e em uma reação em cadeia de descobertas científicas que produziu a primeira arma nuclear do mundo.

Em 16 de julho de 1945Oppenheimer e outros se reuniram no local de testes Trinity, ao sul de Los Alamos, para a primeira tentativa de explosão nuclear do mundo. Foi um momento de tensão: os cientistas sabiam que a bomba que eles apelidaram de "Gadget" moldaria o futuro do mundo.

Técnicos trabalham no Laboratório de Los Alamos, no Novo México. O Exército dos Estados Unidos contratou Oppenheimer para estabelecer o laboratório em 1942. Com o codinome "Projeto Y", essa instalação remota reuniu as mentes mais brilhantes da física teórica com um único objetivo: criar uma bomba atômica.

Foto de Corbis Historical Getty Images

Mas eles também acreditavam que isso poderia pôr um fim à Segunda Guerra Mundial. Embora a guerra na Europa tivesse terminado, as autoridades americanas temiam que a fase mais sangrenta da guerra ainda estivesse por vir: ataques contra o próprio Japão. A esperança era que a nação pudesse forçar o Japão a se render ameaçando usar a nova arma.

Realizado em segredo, o teste funcionou. Como Oppenheimer contou mais tarde em uma entrevista de 1965, o momento lembrou uma frase do livro hindu Bhagavad Gita: "Vishnu está tentando persuadir o príncipe de que ele deve cumprir seu dever e, para impressioná-lo, assume sua forma com vários braços e diz: 'Agora me tornei a Morte, o destruidor de mundos'. Suponho que todos nós pensamos isso, de uma forma ou de outra."

Bombardeio do Japão e as consequências morais

Em 06 e 09 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram duas das bombas que Oppenheimer havia ajudado a desenvolver sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. Acredita-se que pelo menos 110 mil pessoas tenham morrido nas explosões, que dizimaram as duas cidades em uma escala de devastação nunca vista antes ou depois.

Oppenheimer fez parte do comitê científico que recomendou que o Departamento de Guerra usasse a bomba o mais rápido possível contra o Japão. Ainda há debates históricos sobre se o governo deu ouvidos aos apelos dos cientistas para que a bomba fosse usada somente contra alvos militares ou até mesmo testada publicamente antes, em uma tentativa de forçar a rendição do Japão.

Na noite do bombardeio de HiroshimaOppenheimer foi aplaudido por uma multidão de colegas cientistas em Los Alamos e declarou que seu único arrependimento era o fato de a bomba não ter sido concluída a tempo de ser usada contra a Alemanha.

No entanto, embora estivessem entusiasmados com suas realizações, os cientistas ficaram horrorizados com a perda de vidas civis no ataque, preocupados com o fato de que o futuro das armas incentivaria futuras guerras em vez de impedi-las. Algumas semanas após o bombardeio, Oppenheimer escreveu uma carta ao Secretário de Guerra alertando que "a segurança desta nação... Não pode estar totalmente, ou mesmo principalmente, em suas proezas científicas ou técnicas. Ela pode se basear apenas em tornar impossíveis as guerras futuras".

Mas Oppenheimer também defendeu o Projeto Manhattan e a bomba que ele havia sido encarregado de construir, argumentando que era necessário entender completamente as possibilidades da ciência nuclear.

Oposição à bomba de hidrogênio

No entanto, Oppenheimer passou grande parte de sua vida após a guerra fazendo lobby em favor da dissuasão nuclearopondo-se veementemente às tentativas dos Estados Unidos de desenvolver uma bomba de hidrogênio mais potente depois que a antiga União Soviética fez progressos com sua própria bomba. Em vez disso, disse Oppenheimer, os norte-americanos deveriam considerar o uso de armas nucleares apenas taticamente e buscar outros usos da tecnologia nuclear, como a geração de energia.

Isso lhe rendeu inimigos políticos e o colocou na mira do Red Scare, uma era política americana de histeria anticomunista durante a Guerra Fria. Em uma audiência em 1954 para investigar suas supostas simpatias comunistas, a Comissão de Energia Atômica revogou sua autorização de segurança. A medida só foi revertida em 2022, depois que funcionários do governo revisaram o caso de Oppenheimer e descobriram que a investigação havia sido falha e ilegal.

"Ele não se encaixa em categorias fáceis de pró-nuclear, antinuclear ou algo do gênero", disse o historiador Alex Wellerstein ao PBS NewsHour. "Ele é uma figura complicada."

Oppenheimer nunca mais retornou ao serviço governamental e, em vez disso, fundou a Academia Mundial de Artes e Ciências e deu palestras sobre ciência e ética até sua morte em 1967. Embora tenha ajudado a criar a arma que pôs fim a uma guerra, destruiu duas cidades inteiras e deu início a uma nova era perigosa, ele também fez lobby contra a proliferação nuclear pelo resto de sua vida.

"Em um sentido grosseiro que nenhuma vulgaridade, nenhum humor, nenhum exagero pode extinguir", disse ele em 1950, "os físicos conheceram o pecado; e esse é um conhecimento que eles não podem perder".

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