A verdadeira história sobre Einstein e a criação da bomba atômica

O lendário físico incentivou os Estados Unidos a construir uma arma nuclear devastadora durante a Segunda Guerra Mundial – e acabou sendo assombrado pelas consequências.

Por Erin Blakemore
Publicado 23 de fev. de 2024, 08:00 BRT, Atualizado 14 de mar. de 2024, 10:00 BRT
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Uma nuvem em forma de cogumelo se ergueu sobre Nagasaki após a detonação de uma bomba atômica em 1945. Albert Einstein lutou contra seu papel na criação da bomba e a devastação causada pelo bombardeio de Hiroshima e Nagasaki pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Foto de U.S Army Air Force via Library of Congress

Albert Einstein talvez seja mais famoso por ter apresentado ao mundo a equação E=mc². Basicamente, ele descobriu que a energia e a massa são intercambiáveis, preparando o terreno para a energia nuclear e as armas atômicas. Sua participação no drama da guerra nuclear poderia ter terminado aí se não fosse por uma simples geladeira.

Na década de 1920, enquanto Einstein morava em Berlim, na Alemanha,  físico colaborou com o assistente de pós-graduação húngaro Leo Szilárd para desenvolver e patentear uma geladeira com eficiência energética. 

Embora seu projeto nunca tenha sido comercializado, o trabalho da dupla acabou envolvendo Einstein – um pacifista declarado – na corrida para criar uma bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial.

Mais tarde, Einstein passou a defender com veemência a proibição das armas nucleares em todo o mundo, enquanto lutava contra as consequências mortais de sua criação científica.

"Seu brilhantismo também foi sua ruína", diz Ari Beser, explorador da National Geographic. "A revolução que veio com a divisão do átomo requer uma revolução moral também.

A carta de Einstein para Roosevelt

Mesmo depois que Szilárd e Einstein terminaram sua parceria por causa de aparelhos, os dois cientistas mantiveram contato.

Em 1933, no mesmo ano em que Adolf Hitler se tornou chanceler da Alemanha, Szilárd descobriu a reação nuclear em cadeia – o processo que libera a energia contida nos átomos para criar enormes explosões. E, em 1939, ele se convenceu de que os cientistas alemães poderiam estar usando os desenvolvimentos científicos atuais para desenvolver uma arma atômica.

Assim, ele procurou seu antigo colega – na época, Einstein já era o cientista mais famoso do mundo – e pediu-lhe que alertasse o presidente dos Estados Unidos naquele momento: Franklin Delano Roosevelt.

Szilárd visitou Einstein em Nova York com dois colegas refugiados, os físicos húngaros Edward TellerEugene Wigner. Quando eles lhe contaram sobre a possibilidade de uma reação nuclear em cadeia, Einstein ficou chocado com o perigo representado por sua teoria da relatividade especial de 1905.

"Ele certamente não estava pensando nessa teoria como uma arma", afirma Cynthia Kelly, presidente da Atomic Heritage Foundation, uma organização sem fins lucrativos que ela fundou para preservar e interpretar o Projeto Manhattan e seu legado mais amplo. Mas "ele rapidamente entendeu o conceito".

Juntamente com outros cientistas, Einstein redigiu uma carta a Roosevelt que alertava sobre o que poderia acontecer se os cientistas nazistas conseguissem uma bomba atômica antes dos Estados Unidos.

"Parece quase certo que [uma reação nuclear em cadeia] poderia ser alcançada em um futuro imediato", escreveu ele, soando o alarme sobre "bombas extremamente poderosas de um novo tipo" e aconselhando Roosevelt a financiar uma iniciativa para pesquisar a energia atômica.

Roosevelt levou o aviso a sério. Em 21 de outubro de 1939, dois meses depois de receber a carta e apenas alguns dias após a invasão da Polônia pela Alemanha, o Advisory Committee on Uranium (Comitê Consultivo sobre Urânio), nomeado por Roosevelt, reuniu-se pela primeira vez. Esse foi o precursor do Projeto Manhattan, o projeto ultrassecreto do governo que acabou criando a primeira bomba atômica funcional.

O problemático legado de Einstein

O comitê recebeu apenas 6 mil dólares em financiamento, então Einstein continuou a escrever para o presidente, auxiliado por Szilárd, que escreveu grande parte das cartas. Uma carta chegou a advertir que Szilárd publicaria as principais descobertas nucleares em uma revista científica se a iniciativa não recebesse mais financiamento.

Dessa forma, Einstein ajudou a desencadear o Projeto Manhattan, revela Kelley, mas "seu envolvimento real foi muito marginal, não direto". O arquivo do FBI sobre o cientista – que criticava abertamente o racismo, o capitalismoa guerra – acabou  tendo mais de 1.800 páginas.

"Em vista de seu histórico radical", escreveu o FBI, "este escritório não recomendaria a contratação do Dr. Einstein para assuntos de natureza secreta". No final, Einstein nunca recebeu autorização de segurança para trabalhar no Projeto Manhattan.

Ainda assim, seu nome está para sempre ligado à arma nascida de sua maior descoberta. Ele ficou arrasado com a notícia do bombardeio de Hiroshima – e humilhado por uma capa da revista Time de 1946 que o mostrava em frente a uma nuvem em forma de cogumelo com sua famosa equação.

Embora Einstein tenha trabalhado para alertar o mundo sobre os perigos da proliferação nuclear pelo resto de sua vida, ele lutou para dar sentido à sua responsabilidade. "Ele é o pai" da bomba atômica, diz Beser, que é neto do único militar americano a bordo dos dois aviões que levaram as bombas atômicas ao Japão.

Beser usa sua narrativa para ilustrar as consequências das armas nucleares. Por exemplo, ele visitou Auschwitz com um sobrevivente de Nagasaki, que ficou surpreso com as conexões entre a bomba, que matou ou feriu centenas de milhares de civis, e um dos outros horrores da história – Holocausto.

"Eu estava bem ciente do terrível perigo para toda a humanidade, caso esses experimentos fossem bem-sucedidos", escreveu Einstein sobre o desenvolvimento da bomba em uma revista japonesa em 1952. "Eu não via nenhuma outra saída."

Para Beser, o dilema de Einstein ilustra as contradições da condição humana: "A divisão do átomo mudou tudo, exceto a maneira como pensamos", lamenta ele.

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