A pintura de uma mulher negra feita pelo artista francês Félix Vallotton ("Femme noire assise de ...

Quem foi Tereza de Benguela e qual a sua importância para a história das mulheres negras?

Sua trajetória surpreendente é lembrada no Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, instituído pela ONU em 25 de julho. No Brasil, essa efeméride ocorre na mesma data que o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

A pintura de uma mulher negra feita pelo artista francês Félix Vallotton ("Femme noire assise de face"), foi feita em 1911 e é associada, no Brasil, à figura de Tereza de Benguela. Trata-se de uma arte de óleo sobre tela e de uma coleção privada. Domínio Público.

Foto de Domínio público Wikimedia Commons
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 24 de jul. de 2024, 15:38 BRT

Tereza de Benguela é um nome que aos poucos vem se tornando mais conhecido na historiografia brasileira, principalmente graças à atuação dos movimentos negros e pelo regaste de memória dessas personalidades feito por datas importantes como o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, e o Dia Nacional de Tereza de Benguela, ambos celebrados anualmente em 25 de julho

Segundo um artigo do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, não se sabe oficialmente onde Tereza de Benguela nasceu – se em algum país da África ou até mesmo no Brasil. Mas o que já se conhece é que ela foi uma mulher colocada em condição de escravidão e viveu no século 18 em uma região que hoje estaria dentro do estado do Mato Grosso, perto do Pantanal brasileiro.

Ainda de acordo com o documento, Tereza foi casada com um homem conhecido como José Piolho, que também viveu em condição de escravidão, e chefiava o Quilombo de Quariterê (ou “Quilombo Grande”). Quando ele foi assassinado por soldados do Estado brasileiro, Tereza assumiu o posto de líder da comunidade quilombola, que tinha cerca de 100 pessoas de origem indígena e negra, e conseguiu resistir à invasão e à escravidão por 20 anos. 

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Foto de Tyrone Turner

A trajetória da "Rainha Tereza" virou sinônimo de resistência

Na liderança do Quariterê entre 1750 e 1770, Benguela coordenou sua defesa e uma estrutura social que permitia aos integrantes ali viverem do cultivo de algodão, milho, feijão, mandioca, banana, e da venda dos excedentes da produção, bem como de tecidos feitos com o algodão de outra parte da colheita, segue explicando o artigo da universidade baiana.

Historicamente, se tornou notável o fato de Benguela ter montado uma administração dentro do quilombo que contava com um espaço destinado ao conselho, o qual funcionava parecido a um parlamento, destaca a fonte. "Tereza comandou a estrutura política, econômica e administrativa do quilombo, mantendo um sistema de defesa com armas trocadas com os brancos ou roubadas das vilas próximas. Os objetos de ferro utilizados contra a comunidade negra que lá se refugiava eram transformados em instrumentos de trabalho, visto que dominavam o uso da forja", completa o texto do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas.

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    Foto de Tyrone Turner

    Como Tereza Benguela morreu?

    Tereza de Benguela foi capturada em 1770, quando o quilombo foi invadido e destruído pelas forças de bandeirantes contratadas por Luiz Pinto de Souza Coutinho, governador da capitania do Mato Grosso. Parte da  população (79 negros e 30 indígenas) foi assassinada e outra, aprisionada, detalha um documento do site da Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade do governo federal do Brasil.

    Já segundo o artigo da Universidade da Bahia, não existe registro oficial de como Tereza de Benguela morreu. Suspeita-se que ela possa ter se suicidado depois de ser capturada por bandeirantes a mando da capitania do Mato Grosso ou assassinada ainda no quilombo

    Um terceiro artigo, por sua vez, defende que Benguela teria sido capturada e levada para a prisão, onde teria definhado até morrer: "Presa na cadeia de Vila Bela, sua desaventura fica ainda pior ao ser tomada pela melancolia e tristeza profundas, em tormento, segundo alguns, negando a alimentar-se, recusando-se retornar à escravidão", diz o texto da plataforma online de história "Impressões Rebeldes", da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. Depois de morta, a cabeça de Tereza teria sido cortada e colocada em meio a praça do antigo quilombo para servir de exemplo a todos que a vissem, finaliza o documento. Ou seja, de todas as formas, é praticamente certo que em seu fim de vida ela enfrentou a violência.

    (Vale a pena ler também: Dia da Consciência Negra: o que é e por que se celebra em 20 de novembro)

    Por que se celebra o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e caribenha

    Reconhecido pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1992, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, tem o objetivo de fortalecer e reconhecer a união entre mulheres negras, latinas e caribenhas no combate ao racismo e machismo enfrentado nas Américas, como explica um artigo da Fundação Palmares – entidade oficial do governo federal brasileiro para a promoção da da afro-brasilidade.

    No Brasil, em especial, soma-se a essa data a criação do Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em 2014, cujo propósito é "dar visibilidade ao papel da mulher negra na história brasileira", explica a Fundação Palmares. "Este dia deve ser fortalecido com ações em reconhecimento ao protagonismo dessas mulheres na manutenção e preservação das tradições culturais afro-brasileiras", defende o texto.

    Benguela também foi homenageada em 1994 durante um desfile de carnaval da escola de samba Unidos do Viradouro, no Rio de Janeiro. A tradicional agremiação carioca escolheu a líder quilombola como tema de seu samba enredo. Ele tinha o nome de "Tereza de Benguela – Uma Rainha Negra no Pantanal". Já em 2020 foi a vez da escola de samba Barroca Zona Sul, de São Paulo, homenagear a líder negra com um desfile sob o samba-enredo: “Benguela… a Barroca Clama a Ti, Tereza!”.

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