Viajar sozinha: uma mulher poderia dar a volta ao mundo de forma segura na atualidade?
Mulheres aventureiras revelam como a desigualdade de gênero pode limitar a liberdade de ir e vir – e a imaginação.
A jornalista Bhavita Bhatia é uma das 14 mulheres que se juntaram a Paul Salopek em sua jornada global de narração de histórias. Ela diz que percorrer dois estados indianos conhecidos por seu conservadorismo e violência a deixou confiante de que "poderia voltar e fazer isso" novamente sozinha.
Nellie Bly, uma célebre jornalista, entrou na sala de seu editor e lhe disse que tinha uma ideia. O ano era 1888. Ela propôs viajar ao redor do mundo para bater o recorde fictício que o escritor Júlio Verne havia registrado no livro “A Volta ao Mundo em 80 Dias”.
O editor respondeu que isso era impossível: afinal, ela precisaria de ter um “acompanhante”, porque carregaria muita bagagem, falava apenas inglês e, além disso, somente um homem poderia fazer tal viagem.
Bly respondeu: "Comece a viagem com um homem no seu jornal, e eu começarei no mesmo dia para algum outro jornal e o vencerei".
O jornal era o antigo New York World, de Joseph Pulitzer (famoso jornalista e empresário que virou nome de prêmio), e eles acabaram enviando Bly ao redor do mundo. Ela viajou sozinha em pleno século 19, usava um único vestido, carregava ouro no bolso e notas de libra esterlina em uma bolsa em volta do pescoço, e levava uma única bolsa de mão – que continha produtos de higiene pessoal, roupas íntimas, lenços, agulha e linha, papel e canetas, um copo para beber água.
Bly navegou de Hoboken, em New Jersey (Estados Unidos) em direção a Londres (Inglaterra) e depois de 72 dias, 6 horas e 11 minutos, chegou de trem a Jersey City, onde uma multidão de milhares de pessoas se reuniu para recebê-la. Sua viagem estabeleceu um recorde mundial.
Bly não recebeu uma tarefa tão ambiciosa a despeito de quem ela era, mas por causa de quem ela era. Dois anos antes, ela havia alcançado fama nacional ao se infiltrar por 10 dias no famoso manicômio da cidade de Nova York. Seus relatórios detalhados em textos para o jornal sobre as condições insalubres e os maus-tratos às mulheres internadas provocaram indignação e pedidos de desculpas, e depois reformas.
A viagem ao redor do mundo foi um empreendimento igualmente sensacional, mas foi menos uma história do que uma façanha – os textos publicados por Bly sobre a viagem consistem principalmente em esboços de personagens de companheiros de viagem e observações superficiais de culturas estrangeiras; eles não fizeram nada para desafiar os estereótipos raciais da época.
Os horários dos navios a vapor e dos trens não deixavam tempo para relatar histórias, e claro, esse não era o objetivo. A viagem mostrava aos leitores do mundo as maravilhas do transporte mecânico e que o império colonial ocidental era acessível a eles.
As últimas décadas do século 19 foram uma época lucrativa para o jornalismo, e o desafio de Bly foi bem-sucedido em termos de publicidade para o jornal que ela trabalhava, que realizou um concurso para os leitores que conseguissem adivinhar seu tempo total na empreitada – quase um milhão de pessoas participaram. Houve até um jogo de tabuleiro inspirado na jornada de Bly.
Em 1888, Nellie Bly estabeleceu o recorde de circunavegação do mundo em 72 dias, 6 horas e 11 minutos, assegurando seu legado como uma mulher pioneira.
A jornalista pioneira em viagens
Nellie Bly continuou a publicar trabalhos jornalísticos melhores do que seu relato de “Volta ao mundo em 72 dias”. Mesmo assim, admiro a exigência que ela fez ao seu editor: "Quero dar a volta ao mundo!... Posso tentar?" A pergunta seria ousada para uma jovem mulher – Bly tinha apenas 24 anos na época – até mesmo nos dias de hoje.
Ainda hoje somos levados a acreditar que uma mulher sozinha é um problema esperando para acontecer. Uma mulher em lugares estranhos e entre pessoas que não conhece, causa suspeita e medo. Mesmo no mundo atual, em algumas partes do mundo, uma mulher viajando desacompanhada desafia as normas sociais ou culturais – em algumas partes do mundo, esse ato desafia a lei. O jornalismo, uma profissão que se baseia em sair pelo mundo e seguir o rastro de uma história até seu final desconhecido, é prejudicado por essa divisão de gênero.
O (injusto) privilégio de gênero para viajar
Gerencio as contas de mídia social da organização sem fins lucrativos Out of Eden Walk, um projeto de jornalismo imaginado por Paul Salopek. Paul está percorrendo um caminho que circunda o globo e escrevendo sobre as pessoas e os lugares que encontra. Ele não está sempre sozinho – tem a companhia de guias de caminhada, animais de carga, companheiros de caminhada e escritores, mas sua rota é frequentemente isolada e solitária.
O projeto inspirou algumas perguntas que vejo com frequência em nossos canais: “Uma mulher poderia dar a volta ao mundo a pé? Esse projeto depende da masculinidade? Ou da branquitude? Ou no privilégio do visto ocidental?”
A resposta é sim: esses marcadores de identidade servem como uma moeda valiosa. Mas também pode ser não: contar histórias não é só um megafone para aqueles que ocupam posições de poder e privilégio – ou não deveria ser. Então, como seria uma caminhada liderada por uma mulher? Eu mesma não posso responder totalmente a essa pergunta, nem o Paul – então perguntei a algumas de suas parceiras de caminhada.
Paul sempre caminha com pelo menos um acompanhante local de onde está, geralmente um jornalista, um intérprete ou um guia de trekking. Nos 16 países que atravessou até agora, ele teve a companhia de dezenas de pessoas, das quais 14 eram mulheres. Durante o ano passado, na Índia, ele caminhou com cinco mulheres. Falei com elas por telefone e e-mail nos lugares para onde foram: Nepal, Turquia, Jamaica, Seattle. Todas elas se lembravam vividamente da trilha de caminhada.
Na maior parte das vezes, nossas conversas não foram sobre segurança. Se a mulher que viaja sozinha inspira medo por sua segurança, isso acontece com outras pessoas – normalmente sua mãe, seu companheiro (a), ou seja, seus autoproclamados “protetores” – e não tanto por ela mesma. Uma matéria do The New York Times documenta um aumento no número de mulheres que viajam sozinhas e relata incidentes em que algumas dessas mulheres foram assassinadas, feridas ou agredidas sexualmente.
Esse tipo de medo é um denominador comum, tanto na imprensa quanto na linguagem coloquial. A mulher que saiu para caminhar depois da meia-noite e acabou em uma vala tornou-se uma mitologia passada de mãe para filha. Presume-se que os homens, que também são vítimas de ataques, aprendam a ter “coragem e a ser mais espertos” nas ruas com essas experiências negativas, enquanto a mulher, teoricamente, ficará para sempre traumatizada – ou pior.
Não se trata de menosprezar a realidade da violência de gênero, que é generalizada em todo o mundo. (Mais de um terço das mulheres em todo o mundo são violadas física ou sexualmente durante sua vida, a maioria por parceiros íntimos). Mas a preocupação se torna seu próprio fardo.
Ita Skoblinski, uma jornalista que se juntou a Paul na criação de um mapa de histórias de Jerusalém, em Israel, me disse que quando está em um lugar novo, ela fica extremamente atenta ao seu ambiente. "Minhas antenas estão ligadas", disse ela. "Um homem pode pensar: posso ser assaltado. Uma mulher pensa: posso ser estuprada. É um medo muito diferente."
A casualidade com que um homem pode entrar em um lugar desconhecido é um luxo que nem sempre é oferecido às mulheres. Arati Kumar-Rao, uma escritora e fotógrafa indiana que caminhou pela região de Punjab, no país, disse: "Percebi que Paul podia dormir, sentar, tomar banho, fazer cocô em qualquer lugar sem perigo, enquanto eu não podia fazer nada disso sem me preocupar com minha segurança".
Quanto desse medo é internalizado e quanto é projetado por outras pessoas? Camille Framroze, uma advogada radicada nos Estados Unidos, caminhou no ano passado no estado indiano de Madya Pradesh. Ela não estava nervosa com a viagem até que sua família e amigos começaram a bombardeá-la com precauções de emergência. Mas ela nunca se sentiu insegura. "Ficar com outras pessoas, pedir orientações e depender de estranhos para tudo, a fim de ir do ponto A ao ponto B, não foi nada assustador", disse ela.
Moro em Nova York, e o assédio de rua com o qual me deparo diariamente me lembra que as mulheres são alvos móveis de atenção não solicitada. A pé, é claro, com um homem branco e um burro a reboque, as mulheres que caminhavam com seus parceiros eram recebidas com uma curiosidade descarada. Para as mulheres, as perguntas geralmente sondavam a natureza de seus relacionamentos com os homens do grupo.
Loveleen Mann, uma advogada indiana e ex-capitã do exército, que mora no estado rural e conservador de Rajasthan, na Índia, descreveu Paul como seu chefe. Arati disse: "As pessoas sempre perguntavam quem era Paul, o que estávamos fazendo, quem eu era, se eu era casada, onde estava meu marido, se ele permitia que eu fizesse isso, quem estava cuidando da minha filha enquanto eu estava fora, se Paul era casado, por que eu estava com ele, se ele era cristão, de que casta eu era."
Loveleen Mann (à esquerda) e Priyanka Borpujari fazem uma pausa com Paul Salopek na trilha na Índia.
Os desafios das mulheres viajando pelo mundo
Em minhas conversas com as mulheres, notei um padrão de questionamento e interrogação. "As pessoas me perguntavam por que você escolheu esse trabalho, não é difícil, podemos ajudá-la em alguma coisa", contou Furough Shakarmamadova, uma guia profissional de trekking no Tajiquistão. "Eles me disseram que poderiam encontrar um carro para mim. Tentei explicar, mais de cem vezes, a ideia de Paul, por que ele está andando assim. Eles não conseguiram aceitar o que eu disse."
Furough e Safina Shohaydarova, ambos especialistas em caminhadas, caminharam com Paul, em momentos diferentes, por mais de 160 quilômetros ao longo da rodovia Pamir, no Tajiquistão. O esforço físico foi fácil, eles me disseram, a única parte difícil foi a saudade de casa. Caminhando pela estrada, Safina disse: "Muitos motoristas paravam e perguntavam se era minha própria vontade, se eu era obrigada a fazer isso ou se era por causa de dinheiro. Eles não conseguiam entender que eu gosto de estar nas montanhas e que gosto de ser forte."
Onde há mulheres em público, há homens para questioná-las. Para policiá-las, às vezes, ou para oferecer conselhos bem-intencionados ou expressar uma opinião. Nem todos os questionamentos são maliciosos ou prepotentes, mas o espaço público é a arena dos homens, seja em Teerã ou no Brooklyn. As mulheres não podem se movimentar livremente, sem estarem sujeitas a olhares, comentários, perguntas, ameaças. Elas são vistas em todos os lugares.
Esse policiamento do espaço é inseparável do policiamento dos corpos femininos. Priyanka Borpujari, que é jornalista há 13 anos e fez muitas reportagens em toda a Índia, não se preocupou com danos físicos ou em entrar em um terreno desconhecido em sua caminhada com Paul. Ela disse: "O maior desafio para mim foi algo com que todas as mulheres lidam, mas Paul não: que é o corpo. Eu simplesmente cresci com muitas noções preconcebidas horríveis sobre o que meu corpo pode ou não fazer. Houve um dia, no início da caminhada, em que senti que a alça da minha bolsa e a alça do meu sutiã estavam competindo para me matar."
Priyanka Borpujari atravessa uma ponte de bambu no estado indiano de Bengala Ocidental.
As mulheres sempre foram atormentadas pela crença pseudocientífica de que o corpo feminino não está equipado para o movimento. "A crença de que as mulheres andam pior é amplamente difundida em toda a literatura sobre a evolução humana", escreve Rebecca Solnit em “Wanderlust”, seu livro extraordinariamente abrangente sobre a história da caminhada.
O corpo feminino é um espetáculo, projetado para ser visto; ou um item de uso único, projetado para o parto; ou uma fraqueza, sem a força e a virilidade masculinas. O corpo masculino, por outro lado, é simplesmente neutro – um estado assumido de ser.
Paul escreve com frequência sobre seu corpo no sentido de se sentir parte integrante das paisagens pelas quais se move – a espécie humana construída como um motor para o movimento e o pensamento. Seu foco é intelectual, porém, mais do que físico. Priyanka observou que, embora Paul sofra grande estresse físico durante a caminhada, ele evita falar sobre os efeitos reais em seu corpo. Ele não quer que as dificuldades físicas se tornem o tema da história.
Para ela, no entanto, "é a coisa mais importante e necessária falar sobre como meu corpo está se sentindo". Ela acrescentou: "Fico encolhida porque sei que Paul nunca falaria sobre esse tipo de coisa. Eu sempre penso: será que está tudo bem falar sobre isso?"
Existe alguma mulher viva que nunca tenha sentido vergonha de seu corpo? Para as mulheres, o simples fato de ter um corpo é um tipo especial de horror. E, no entanto, nenhuma verdade existe sem um corpo que a expresse. É uma ideia feminista fundamental que a experiência vivida de estar no corpo molda a perspectiva e a maneira de pensar de uma pessoa.
Conversando com Priyanka, lembrei-me da escrita de Jamaica Kincaid, Kathy Acker, Noelle Chatelet, da arte de Carolee Schneemann – trabalho no qual os corpos das mulheres são exibidos em toda a sua bagunça, feiura e visceralidade. Mas e quanto a fazer parte da paisagem? Priyanka disse: "Pense em uma paisagem que foi pisoteada, isso é o que os corpos das mulheres são."
Muito menos mulheres participaram da Out of Eden Walk – como caminhantes, escritoras, entrevistadas – do que homens. Como Paul escreveu, a desigualdade de gênero é uma história global: é a injustiça mais comum e mais profundamente arraigada que ele encontrou em seis anos de caminhada. Outros grupos perseguidos sofrem limitações em sua liberdade de movimento – basta olhar para a violência policial dirigida contra homens negros nos Estados Unidos – mas, como Solnit observa, a opressão baseada em gênero é indiscutivelmente mais ampla do que a opressão mais localizada baseada em raça, classe, religião, etnia e orientação sexual, tendo sido parte integrante da identidade de gênero por milênios na maior parte do mundo.
"Aqueles que não puderam caminhar até onde seus pés os levariam tiveram negada não apenas a prática de exercícios ou recreação, mas uma grande parte de sua humanidade", escreve Solnit.
A questão maior aqui, para este projeto de jornalismo, diz respeito à autoria: quem pode contar quais histórias? Para um jornalista, contar as histórias de outras pessoas requer ter acesso a um mundo externo. Que histórias perdemos quando aceitamos que o mundo externo não tenha mulheres?
"Uma coisa que percebi na caminhada e em minhas próprias histórias ambientais é que os homens sempre falam pelas mulheres. Isso precisa mudar e eu pretendo mudar", afirmou Arati. "Há maneiras desiguais em que o que acontece no local, da política, das desigualdades à economia, das mudanças climáticas à deterioração ambiental – afeta as mulheres. Essas histórias precisam ser contadas, e até mesmo enfocadas, pois estão definindo o que está acontecendo na Índia rural."
Muitas das companheiras de Paul são jornalistas. Elas me disseram que os efeitos do preconceito de gênero em seu trabalho raramente são tão claros como a negação de entrevistas ou a demissão total. Mas falar com os entrevistados exige respeito e confiança, que podem ser menos facilmente concedidos às mulheres. Elas observaram que Paul era geralmente tratado com mais seriedade do que elas – nunca ficou claro se era homem, mais velho, norte-americano ou apenas uma curiosidade. "Eu estaria falando em hindi, mas todos estariam olhando para ele", disse Camille Framroze. "Todos os olhos nele. Eu nunca sabia dizer o quanto isso era sexista e o quanto era apenas o fato de ele ser estrangeiro."
Noa Burshtein, uma jornalista israelense que edita a P.SEE, uma revista que publica exclusivamente títulos femininos, me disse: "As pessoas deixam os homens serem o que quiserem". Para ela, no entanto, "sempre há perguntas pessoais: como você conseguiu esse emprego? Qual é a sua história? Quem é você? Não posso ser apenas uma jornalista, apenas uma profissional. Sou sempre uma mulher que é jornalista". Ela ressaltou, no entanto, a clareza oferecida pela perspectiva de uma mulher: "Quando você pertence a um grupo que não é o grupo de controle, o grupo no poder, você é capaz de ver a influência do poder."
Esse é um ativo. Uma mulher que é jornalista também tem acesso a espaços femininos. "Paul não pode simplesmente entrar na cozinha e ficar com as mulheres que estão fazendo chapatis. Ele teria que ficar com os homens rajput, os homens ‘machos e dignos’", disse Bhavita Bhatia, uma jornalista que participou da caminhada este ano.
Que tipo de pessoa é preciso ser para andar pelo mundo?
Que tipo de pessoa é preciso ser para ir atrás do horizonte, dia após dia? Para Paul, foram necessárias décadas de trabalho e experiência, apoio institucional, relativa liberdade da vida doméstica e insatisfação suficiente com o status quo para embarcar em algo radicalmente diferente, entre inúmeras outras coisas. Eu acrescentaria: confiança. A confiança, conquistada ou não, é um poder tremendo.
Embora ninguém esteja imune à dúvida (nenhuma pessoa sã, pelo menos), os homens têm sido muito mais capazes de adquirir essa habilidade. E é uma habilidade dar a si mesmo permissão para falar com autoridade, ser ouvido, discordar – aprendida por meio da educação, maturidade e treinamento profissional. Os homens têm maior probabilidade de receber a aprovação da família e dos colegas e de estudar e trabalhar em instituições estabelecidas.
Todas as mulheres com quem conversei são bem-sucedidas, capazes e se beneficiam de seus vários privilégios. Elas conhecem a si mesmas. E, no entanto, a maioria me disse que não tinha certeza de que poderia fazer a caminhada com Paul até depois de tê-la feito. Bhavita, que caminhou por dois estados indianos conhecidos pelo conservadorismo e pela violência, disse: "A razão pela qual me inscrevi para isso é que, embora eu tenha viajado por todo o país, não fui a Uttar Pradesh e Bihar. Não conseguia imaginar outra chance de simplesmente passar por lá. Pensei, esse cara é meu único caminho. Mas agora sinto que poderia voltar e fazer isso".
Com isso, ela quer dizer caminhar sozinha e em seus próprios termos. Depois de se juntar a Paul, quase todas as mulheres com quem conversei conseguiram se imaginar em seu lugar. Há inúmeros motivos pelos quais elas talvez nunca façam isso – outras ambições profissionais, compromissos familiares, projetos maiores e melhores em mente – mas, fundamentalmente, o medo não é um deles.
Ela acrescentou: "Quero acordar em um dia em que eu veja uma mulher fazendo o que Paul está fazendo. Durante minha vida, espero ver uma jovem mulher dizendo: "Eu também farei isso".
Nellie Bly não se deteve em sua condição de viajante solitária em seu livro, “Volta ao Mundo em 72 Dias”. (Embora ela observe os muitos homens que assumiram o dever de zelar por sua segurança). Em vez disso, ela escreve o que vê com inteligência e autoconfiança. Inúmeras outras mulheres na história, como Bly, caminharam (ou navegaram, ou voaram) à frente: Sacagawea, que guiou Lewis e Clark pelo território da Louisiana, nos Estados Unidos; Ida Pfeiffer, que deu a volta ao mundo duas vezes (e ainda assim não foi aceita como membro da Royal Geographical Society de Londres).
Eliza Scidmore, escritora e fotógrafa que se juntou à National Geographic Society em 1890 porque seus "devaneios eram sempre sobre outros países"; Freya Stark, que escreveu mais de duas dúzias de livros sobre suas expedições no Oriente Médio; a pirata da dinastia Qing, Ching Shih, que comandou a maior tripulação da história; Gertrude Bell, que, por meio de suas caminhadas no deserto do Oriente Médio e da construção de confiança com chefes tribais, exerceu o maior poder político de todas as mulheres do Império Britânico. Acrescente a elas as mulheres da antiguidade que saíram da África, que cruzaram o Estreito de Bering, que navegaram para as ilhas invisíveis e desconhecidas do remoto Pacífico.
Paul é frequentemente descrito como um desbravador de trilhas. As mulheres que participaram do projeto também estão traçando novos caminhos, abrindo caminho para aquelas que virão depois. Loveleen me contou sobre uma noite em Rajasthan, quando desapareceu em um campo para tomar banho com privacidade. Ao voltar para a aldeia, acompanhada por Priyanka, ela encontrou um grupo de alunas esperando por elas, com os olhos brilhando no crepúsculo. "Como você entrou no exército? Como você é advogado? Como você é jornalista?", perguntaram. Elas não estavam querendo se intrometer, contestar ou provar nada. Queriam saber como, para que pudessem fazer o mesmo.
Camille Bromley é editora de mídia social da Out of Eden Walk. Ela é editora colaboradora da Columbia Journalism Review e editora de recursos da Believer Magazine. Siga-nos no Twitter e no Instagram: @outofedenwalk