Os 5 dados sobre a história do carnaval no Brasil que você não sabia
Em blocos de rua, na passarela do samba - a Marquês de Sapucaí, com abadás, ouvindo axé, samba e até as antigas marchinhas: o carnaval no Brasil é uma construção cultural que reflete a diversidade do país.
A origem do carnaval é antiga e alinhada com preceitos da Igreja Católica, tal como o costume de vestir fantasias para celebrar a festa, como já se fazia na época do Império Romano.
Mas apesar de ser celebrada em diversos lugares do mundo 40 dias antes da Quaresma (período em que os cristão se abstém de carne e outros prazeres considerados mundanos), foi no Brasil que essa manifestação popular envolvendo dança e música ganhou contornos de patrimônio cultural e números impressionantes.
Por isso, e para saber mais sobre o carnaval no Brasil, acompanhe esses 5 dados curiosos que provavelmente você não sabia sobre a história do carnaval no país e surpreenda-se com a maneira como ele influencia a cultura brasileira.
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O carnaval de rua no Rio tem blocos que começaram a desfilar ainda no fim da década de 1910.
A origem dos primeiros blocos de carnaval vêm das… Procissões católicas
Segundo o artigo "A Origem do Carnaval", disponível na biblioteca do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), os blocos de rua surgiram de comemorações populares decorrentes de procissões e outras manifestações católicas dias anteriores ao período da Quaresma.
No Brasil, mais especificamente, o ato de celebrar o carnaval nas ruas descende dos chamados “entrudos” portugueses. De acordo com um artigo de National Geographic, os entrudos chegaram ao Brasil por volta do século 17. Eram comemorações bastante populares nas quais as pessoas brincavam jogando água, ovos, farinha, frutas podres e restos de comida umas nas outras.
“A brincadeira na rua, no entanto, era principalmente feita por pessoas negras escravizadas, enquanto as famílias brancas se divertiam em suas casas derramando baldes de água suja em passantes desavisados”, cita o artigo.
Nada de samba! As primeiras músicas de carnaval foram as marchinhas
Foi ainda no século 19, quando as manifestações carnavalescas iam se popularizando nas diversas camadas da sociedade que as marchinhas eram o ritmo oficial do carnaval, como informa o artigo “A Origem do Carnaval”, publicado no site oficial da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
O ritmo descendia das marchas populares portuguesas, reproduzindo algumas de suas características como o compasso binário e cadência militar, explica um artigo sobre o tema publicado com por um docente em música da Universidade Metodista de Piracicaba.
O nome mais popular dentre os compositores desse gênero musical no Brasil é o da carioca Chiquinha Gonzaga, pianista e autora da música “Ó Abre-alas”, até hoje tocada nos festejos.
O samba, por sua vez, teria se colado à festividade apenas na década de 1910, com a música “Pelo Telefone”, de autoria de Donga e Mauro de Almeida, lançada em 1916. A partir daí, enquanto a composição de marchinhas foi diminuindo, o samba ganhou espaço como o gênero musical considerado o legítimo representante musical do carnaval, reforça o documento da universidade baiana.
(Leia também: Dia do Samba: quais são as origens e quem criou o samba?)
Vista da Marquês de Sapucaí, avenida desenhada pelo arquiteto Oscar Niemeyer para ser o palco do carnaval do Rio de Janeiro.
A palavra sambódromo foi criada por causa do carnaval brasileiro
A existência da Marquês de Sapucaí, ou seja, da avenida exclusiva onde ocorrem os desfiles das escolas de samba cariocas, é um exemplo concreto de como a festividade influencia a cultura brasileira.
Isso porque o lugar desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, um ícone do modernismo, e inaugurado em 1984, se tornou o espaço oficial de exibição carnavalesca, tirando os desfiles das ruas do centro do Rio de Janeiro, como a Avenida Presidente Vargas e a Avenida Rio Branco, por onde passava. Com a existência do sambódromo, o carnaval carioca alcançou outro status de importância na cidade e até mesmo para o país, como conta um documento oficial da prefeitura do Rio de Janeiro sobre a história do carnaval na cidade.
Justamente por isso, coube ao antropólogo, professor e escritor Darcy Ribeiro, que era vice-governador do Rio na época da inauguração da passarela do samba, difundir a palavra “sambódromo”. Ela é a combinação da palavra “samba” com o sufixo grego “dromo”, que significa “corrida” ou “local para correr”, explica o documento da Riotur. A partir de então, o sambódromo virou o lugar oficial para o “maior espetáculo da Terra”, como é conhecido o carnaval carioca.
O afoxé Filhos de Gandhy é um dos mais populares do Brasil e já existe há mais de 70 anos.
Sem os afoxés não haveria o carnaval no Brasil como se conhece hoje
A presença da cultura africana no carnaval brasileiro é o que fez dele uma manifestação cultural única, ainda que suas origens remontem a tradições católicas e européias.
E uma das melhores mostras de como essa influência é rica e essencial à festa rítmica da atualidade está na música e no ritmo dos afoxés – cortejos de manifestação afro-brasileira ligados à religiosidade do candomblé, cujas roupas, cantoria e instrumentos musicais carregam a cultura iorubá, como define um artigo sobre o tema publicado pela Escola Paulo Freire, entidade de educação oficial da prefeitura do Rio de Janeiro.
É do iorubá, inclusive, que vem a palavra afoxé, cujo significado é “a fala que faz”, explica o site. Os afoxés surgiram na Bahia (o estado do país com a maior parte da população que se autodenomina preta (cerca de 22,4% de acordo com o último censo do IBGE, de 2022). Eles são também resultado da mistura cultural dos diversos povos africanos que foram escravizados para vir ao Brasil, informa a mesma fonte.
Ainda de acordo com o artigo, o primeiro grupo de afoxé surgiu em 1885, em Salvador, capital baiana, e se chamava Afoxé Embaixada da África. “Os primeiros afoxés foram o Embaixada Africana e os Pândegos da África. Por volta do mesmo período, o frevo passou a ser praticado no Recife, e o maracatu ganhou as ruas de Olinda”, descreve o artigo “A Origem do Carnaval”.
Entre os grupos de afoxé em ação mais notórios da atualidade estão o Filhos do Congo, Kambalagwanze, Laroye Arriba, Filhos de Gandhy e Filhos de Korin Efan, como site a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.
A multidão que segue o Galo da Madrugada, o bloco de carnaval do Recife que ganhou o título de maior do mundo.
Qual é o maior bloco de carnaval do mundo? Ele começou desfilando com 75 pessoas
Reconhecido como o maior bloco de carnaval do mundo pelo “Guinness Book”, o livro dos recordes, o bloco pernambucano Galo da Madrugada começou sua existência desfilando com apenas… 75 pessoas. Elas estavam acompanhadas por 22 músicos, e esse desfile aconteceu em 4 de fevereiro de 1978, como informa o site oficial do Galo da Madrugada.
Destes mais de 40 anos de existência para os dias de hoje, os números de foliões que perseguiram o bloco pelas ruas centrais do Recife foram crescendo até passar dos milhões. Em 1994, anos em que o livro dos recordes mundiais listou o Galo da Madrugada como o maior bloco de carnaval do mundo, ele havia reunido cerca de 1,5 milhão de pessoas.
Já em 2009, a cifra dos 2 milhões de foliões seguindo o Galo havia sido ultrapassada, e nesse mesmo ano o governo estadual declarou o bloco como Patrimônio Imaterial de Pernambuco. Em 2018, bateu a marca de 2,3 milhões de pessoas no bloco, ostentando uma estrutura que deixa aquele cordão carnavalesco inicial de 22 pessoas bastante no passado. De acordo ainda com o site oficial do Galo, são cerca de 30 trios elétricos e 30 bandas com orquestras de frevo.
O desfile exige fôlego e dura 9h30 de duração. Sua contribuição cultural para o país foi reconhecida pelo governo federal em 2017, quando premiou o Galo da Madrugada com Medalha da Ordem do Mérito Cultural (OMC), honraria que reforça a importância dessa manifestação artística do Nordeste brasileiro.