Roma Antiga: Nero, Calígula e mais imperadores que viraram tema de histórias de fantasmas

Calígula, Agripina e Nero deixaram para trás mais do que intrigas políticas no Império Romano – eles se tornaram lendas fantasmagóricas as quais causam arrepios ainda hoje.

Por Lanta Davis, Vince Reighard
Publicado 11 de mar. de 2025, 07:00 BRT
Esta pintura a óleo da era barroca mostra o Imperador Nero confrontando o corpo de sua ...

Esta pintura a óleo da era barroca mostra o Imperador Nero confrontando o corpo de sua mãe, Agripina, a Jovem, que ele ordenou que fosse assassinada. A morte dela assombrou Nero, gerando uma das lendas fantasmagóricas que ecoaram pela história romana.

Foto de Painting by Antonio Zanchi, Hessen Kassel Heritage, Ute Brunzel, Bridgeman Images

A família de CalígulaAgripina, a Jovem, e Nero – descendentes de Augusto, o primeiro imperador de Roma – deixou uma marca indelével na história e nas lendas. Seus reinados foram repletos de intrigas políticas e violência, ações que os historiadores antigos muitas vezes consideravam não romanas e até antinaturais

Plínio, o Velho, certa vez os descreveu como “tições lançados entre a raça humana”, figuras cujas vidas e mortes continuam a ecoar através do tempo. De espíritos vingativos a aparições assombrosas, essas histórias de fantasmas sobre alguns dos governantes mais infames de Roma ainda cativam quase dois milênios depois.

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Calígula: a sombra inquieta do “Deus Imperador”


Calígula, o primeiro Imperador Romano a se declarar um “Deus” durante sua vida, afirmava ter comunhão com Júpiter (o rei dos deuses romanos) e se gabava de ter relações sexuais com a Lua. Sua crescente megalomania e desdém pela população romana eram notórios, uma vez lamentando que a cidade não tinha “um único pescoço” para ele cortar. 

Mas as ambições divinas do Imperador Calígula tiveram um fim brutal. De acordo com o antigo historiador Cassius Dio, em seus momentos finais, Calígula soube que: “Ele tinha apenas um pescoço”, enquanto Roma tinha ‘muitas mãos’ – uma referência ao poder coletivo do povo e de seus assassinos. Esfaqueado repetidamente, seus assassinos supostamente mutilaram seu cadáver, enfiando “suas espadas em suas partes íntimas”, enquanto um relato sensacionalista dizia que eles “provaram de sua carne”.

Após seu assassinato, seus restos mortais foram cremados às pressas em uma pira improvisada e jogados em uma cova rasa. Não demorou muito para que seu espírito começasse a “assombrar o Monte Palatino”, onde ocorreu seu assassinato. Noite após noite, espectros sinistros assolavam os jardins onde ele foi sepultado, sem que nenhuma noite passasse sem alguma “aparição assustadora”.

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Agripina, a Jovem: ela também ficou conhecida como a mãe vingativa


Antes de ser assassinado, Calígula exilou sua irmã Agripina nas Ilhas Poncianas, onde lhe enviou cartas ameaçadoras lembrando-a de que ele não possuía apenas ilhas para seus inimigos, mas também “espadas”. Apesar disso, Agripina retornou a Roma para dar ao irmão um enterro adequado – talvez uma manobra política, mas também uma tentativa de acalmar seu espírito malévolo devido ao enterro inadequado.

Ela também se casou com o imperador seguinte, Cláudio, que por acaso era seu tio, um ato que “mesmo naquela época não era aceitável”, comenta Debbie Felton, autora do livro “Haunted Greece and Rome” (“Grécia e Roma Assombradas”, em tradução livre).

Agripina era “implacavelmente ambiciosa”, diz Felton. Como irmã, sobrinha, esposa e mãe de imperadores, sua influência sobre Roma era inigualável.

No entanto, sua busca pelo poder tornou-se mortal. No dia do nascimento de seu filho Nero, o historiador Tácito compartilhou uma profecia sobre Agripina de que Nero um dia governaria Roma – e a mataria. Destemida, Agripina declarou: “Que ele me mate, desde que governe”.

Quando Nero subiu ao trono ainda adolescente, Agripina “ocupou uma posição de poder totalmente inédita para uma mulher, explica Anthony Barrett, autor do livro “Agripina: Sex, Power, and Politics in the Early Empire” (algo como “Agripina, Sexo, Poder e Política no início do Império”, em tradução livre). Mas, à medida que foi crescendo, Nero começou a se ressentir da influência dela.

Suas tentativas de assassinar a mãe se tornaram lendárias – primeiro com veneno, depois armando um teto para desabar sobre ela enquanto dormia. Quando ambas as tentativas falharam, Nero convidou Agripina para um banquete e a mandou embora em um barco projetado para se despedaçar no mar.

No entanto, Agripina, que havia se tornado uma forte nadadora durante seu exílio na ilha, nadou para um lugar seguro. Uma de suas servas não teve tanta sorte. Ela gritou que era Agripina para que os marinheiros ficassem mais ansiosos para resgatá-la. Em vez disso, eles bateram em sua cabeça com remos.

Por fim, os assassinos localizaram Agripina em sua vila. Suas últimas palavras foram de arrepiar: “Fira o meu ventre!”, ordenou ela, exigindo que atingissem o ventre que havia dado à luz o filho que a traiu.

Após sua morte, lamentos misteriosos foram ouvidos perto de seu túmulo e visões de Fúrias empunhando tochas teriam assombrado Nero. Atormentado pela culpa e pela paranoia, ele até tentou entrar em contato com o fantasma de sua mãe por meio de uma sessão espírita, buscando o perdão do além-túmulo.

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Nero: o imperador amaldiçoado


espiral de loucura de Nero se acelerou após a morte de sua mãe. Ele demonstrou pouco interesse em governar, preferindo cantar e atuar no teatro, atividades que teriam sido “uma marca de infâmia” para os antigos romanos e o tipo de “aspiração incomum que pode ter levado os historiadores antigos a retratá-lo como um mestre do fingimento, mesmo fora do palco”, diz Shadi Bartsch, professor de clássicos da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.

Logo, os aliados começaram a abandonar o Imperador Nero em massa. Certa noite, ele acordou e encontrou seu palácio vazio. Marcado para morrer pelo Senado, que o havia declarado inimigo público, Nero fugiu da cidade. Diante da perspectiva de ser despido e espancado até a morte, ele optou pelo suicídio, cravando um punhal em sua garganta.

Mas a morte fez pouco para diminuir a presença de Nero na memória romanaOs primeiros cristãos romanos, perseguidos durante seu reinado, o classificaram como o Anticristo – uma figura que retornaria para desencadear a batalha final entre o bem e o mal, conforme predito no Livro do Apocalipse.

Dizia-se que o fantasma de Nero também assombrava a Roma medieval. Segundo a lenda, uma nogueira perto da Basílica de Santa Maria del Popolo tornou-se o epicentro da atividade demoníaca, onde se dizia que os demônios surgiam e aterrorizavam os peregrinos. 

De acordo com a lenda, uma magnífica nogueira ficava perto da Basílica de Santa Maria del Popolo, onde, segundo se dizia, sob a árvore estava o esqueleto de NeroPapa Pascoal 2º mandou cortar a árvore para livrar Roma de seu espírito, e os ossos de Nero foram jogados no rio Tibre.

“Com todas as torturas, assassinatos violentos e outros homicídios, seria de se esperar que houvesse muitos fantasmas rondando a Roma Antiga”, afirma Felton, mas histórias de fantasmas sobre pessoas famosas não eram comuns. Ela diz que “esses três notórios membros da família” assombravam os romanos, se encaixando em suas “vidas especialmente sombrias”.

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