Dia Internacional dos Povos Indígenas: quantas línguas nativas ainda são faladas no Brasil?
Os povos originários já foram mais de 6 milhões de pessoas onde hoje é o Brasil. Hoje, a situação é distinta, mas um projeto irá traduzir a Constituição para algumas línguas indígenas para preservar sua cultura e tradição.

Acima, mulheres indígenas do povo Makuxi em Brasília (DF) na 4ª Marcha das Mulheres Indígenas que ocorreu no início de agosto de 2025.
O Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado a cada 9 de agosto no mundo inteiro, é uma data instituída pela Organização das Nações Unidas, a ONU, e criada justamente para reconhecer a importância dos povos originários, bem como a necessidade de protegê-los. Trata-se também de uma oportunidade para falar sobre as diversas línguas dos povos indígenas brasileiros, algo essencial na manifestação de sua cultura.
O Brasil é o país que ainda possui a maior população indígena da América do Sul, segundo dados do último Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). São cerca de 0,83% da população total do país, aproximadamente 1,7 milhões de indígenas de 305 diferentes etnias.
Mesmo com um crescimento em relação ao Censo de 2010 (em que ocupavam 0,4% da população geral), o número atual de indígenas e de suas línguas originárias é notavelmente menor do que o país teve antes do processo de colonização. Naquele momento, cerca de 6 milhões de indivíduos falavam mais de uma língua indígena diferente, de acordo com um artigo sobre o tema publicado pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Descubra quantas línguas indígenas ainda são faladas atualmente no Brasil e o que tem sido feito para preservá-las e valorizá-las para que não se percam como muitas outras extintas ao longo do tempo.
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Indígenas de diversas etnias se reuniram em um evento no Museu da República, no Rio de Janeiro em 2024.
Quantas línguas indígenas são faladas no Brasil hoje?
Segundo dados do Museu da Língua Portuguesa, da Unicamp e do site Povos Indígenas no Brasil (que faz parte do portal do Instituto Socioambiental) não há um consenso de um número exato, mas todos afirmam que há cerca de 170 línguas indígenas faladas atualmente no país – o que faz do Brasil um dos países mais multilíngues do mundo.
Ao longo do processo de colonização, iniciado pouco depois da chegada dos portugueses às terras brasileiras, em 1500, a língua Tupinambá (mais conhecida como Tupi-Guarani) era a mais falada pelos indígenas de toda a costa atlântica. Por isso mesmo, foi incorporada por grande parte dos colonos e missionários portugueses, conta o site Povos Indígenas do Brasil.
A presença da língua Tupi era tão forte no dia a dia do Brasil Colônia que muitas de suas palavras foram aprendidas pelos colonizadores e passadas adiante por gerações. Tanto que mesmo na atualidade, várias delas fazem parte da língua portuguesa falada no Brasil, o “brasileiro”, tais como anta, caipira, Paraná, Ibirapuera, arara, canoa, carioca, capivara, mandioca, oca, açaí – só para citar algumas delas.

Na foto, mulheres indígenas do povo Rikbaktsa trabalham em um projeto sustentável de castanha-do-pará sob a organização da Associação Indígena da Aldeia Barranco Vermelho, em Mato Grosso.
Conforme explica o artigo da Unicamp, nos primeiros anos de colonização, os 6 milhões de indígenas falavam mais de mil línguas. As políticas colonizadoras resultaram no desaparecimento de cerca de 85% dessas línguas – principalmente aquelas praticadas em áreas em que o processo colonizador foi mais longo e intenso, como a região Sudeste e a maior parte das regiões Nordeste e Sul, sobretudo no litoral.
O contato entre povos indígenas faz com que suas línguas estejam em constante modificação. Além de guardar entre si origens comuns, integrando troncos e famílias linguísticas, explica o site de povos indígenas. No Brasil, há dois grandes troncos (Tupi e Macro-Jê) e 19 famílias linguísticas, que não apresentam graus de semelhanças suficientes para que possam ser agrupadas em troncos.
(Leia também: Dia dos Povos Indígenas: qual é a maior nação indígena do Brasil?)
Constituição traduzida para línguas indígenas e outras ações de preservação
Atualmente, apenas 25 povos indígenas brasileiros têm mais de 5 mil falantes de suas respectivas línguas, de acordo com a fonte mantida pelo Instituto Socioambiental. São eles: Apurinã, Ashaninka, Baniwa, Baré, Chiquitano, Guajajara, Guarani (Ñandeva, Kaiowá, Mbya), Galibi do Oiapoque, Ingarikó, Huni Kuin, Kubeo, Kulina, Kaingang, Mebêngôkre, Macuxi, Munduruku, Sateré Mawé, Taurepang, Terena, Ticuna, Timbira, Tukano, Wapichana, Xavante e Yanomami.

Acima, uma versão impressa da Constituição Brasileira traduzida para uma língua indígena. A ação viabiliza a tradução da Carta Magna e de outros documentos legais nas três línguas indígenas mais faladas no país: Tikuna, Kaiowá e Kaingang.
Justamente as três línguas indígenas mais faladas no Brasil atualmente – Tikuna, Kaiowá e Kaingang – fazem parte de uma importante iniciativa da parceria da Advocacia-Geral de União com a organização Instituto Direito Global.
O acordo vai viabilizar a tradução da Constituição Brasileira e de textos legais para essas três línguas, a fim de facilitar a compreensão dos direitos desses povos, conforme foi informado pela Agência Brasil em março de 2025.
Outra importante ação para a valorização e conservação das línguas indígenas vem de uma parceria do Museu da Língua Portuguesa com o Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (MAE-USP): a criação do Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas, que pretende contribuir com pesquisa, documentação e difusão da diversidade linguística e cultural dos povos indígenas no país.
Já em abril de 2025, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) disponibilizou às suas unidades regionais quatro cartilhas lançadas pelo Grupo de Trabalho Nacional da Década Internacional das Línguas Indígenas e o Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Elas trazem os temas da cooficialização de línguas indígenas, das línguas indígenas de sinais e da Braslind (o português indígena).
