Mergulhe abaixo da ‘Terra Incógnita’ da Groenlândia

O terreno cinza e branco extenso pode parecer estéril, mas cientistas dizem que a vida está nas profundezas das águas do Ártico.

Por Sarah Gibbens
fotos de Jean Gaumy
Publicado 6 de out. de 2018, 12:20 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Iceberg na Groenlândia.
Iceberg na Groenlândia.
Foto de Jean Gaumy, Magnum Photos

O terreno é descampado na Groenlândia Ártica.

Todos os lugares que olhamos são em algum tom de cinza ou azul. Quando o vento sopra em um campo gelado, é difícil distinguir a terra do céu. O fotógrafo Jean Gaumy descreve o cenário como uma “abstração”. Para o ecólogo francês, Frédéric Olivier, é uma “terra incógnita”, ou território inexplorado.

Ao longo dos últimos anos, os dois se uniram para explorar a região com o ecólogo Laurent Chauvaud.

Olivier e Chauvaud esperam documentar a vida selvagem pouco compreendida da região enquanto é possível. A região Ártica está sofrendo os efeitos mais severos da mudança climática. No último mês de julho, um pedaço de gelo do tamanho de Manhattan se soltou da Geleira Helheim na Groenlândia. Eles temem que esse derretimento crescente possa impactar seu campo de trabalho perfeito.

É o que fica abaixo da superfície de gelo que interessa aos dois cientistas. Algumas das regiões com maior biodiversidade do mundo estão nas águas geladas do Ártico. Eles pesquisam a zona bentônica, as maiores profundezas dos oceanos, cheias de moluscos, vermes, crustáceos, artrópodes e estrelas do mar. Eles retiram amostras da água para buscar espécies completamente desconhecidas.

Um pouco mais de duas mil espécies diferentes foram descobertas no Ártico, mas Olivier estima que o número possa ser mais do que o dobro disso.

Em águas tão geladas, não é fácil colher dados.

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    Laurent Chauvaud, um ecólogo marinho da CNRS, mergulha abaixo do gelo marinho para colher amostras.

    O processo é trabalhoso e perigoso. Ursos polares, às vezes, passam pela região e as condições climáticas são imprevisíveis. O retorno não é imediato; muitas vezes é inexistente. Olivier, Chauvaud e os outros membros de sua equipe de pesquisa usam roupas apropriadas para mergulhar nas águas congelantes abaixo do gelo. Depois de colher suas amostras, eles as levam de volta para o laboratório para análise. Um ou dois anos podem se passar até que eles saibam se descobriram uma espécie nova.

    Afípodes são coletados durante mergulhos abaixo do gelo. Chauvaud e Olivier esperam poder usá-los para entender respostas biológicas para a mudança climática.
    Foto de Jean Gaumy, Magnum Photos

    “Cada amostra é uma luta contra as condições extremas e o tempo que temos”, diz Olivier.

    Apesar da paisagem gelada e extensão estéril de terras, Olivier diz que a vida abaixo do gelo é das mais diversas que ele já viu, mais do que em qualquer outra região Ártica. Estudando bivalves, um tipo de moluscos, a dupla acredita que possa entender melhor os organismos que vivem nas profundezas do Ártico e como podem já estar sendo afetados pela mudança climática.

    Não é apenas a misteriosa zona bentônica que Olivier e Chauvaud vêm estudando na Groenlândia. A região também apresenta a oportunidade de estudar o som, ou a falta dele.

    Animais marinhos, mamíferos em particular, são sensíveis a sons altos. Baleias, por exemplo, se comunicam com longos chamados a grandes distâncias, mas o barulho submarino de grandes embarcações ou atividades como perfuração podem atrapalhar sua comunicação e movimentação.

    Em sua estação em Daneborg, cientistas devem remover a neve várias vezes por dia para acessar sua base.
    Foto de Jean Gaumy, Magnum Photos

    Diferente de outras regiões árticas onde está acontecendo um aumento de ocorrência de barcos turísticos e embarcações de carga, o Nordeste da Groenlândia ainda é relativamente isolado. Durante as expedições, Olivier e Chauvaud fizeram gravações dois sons submarinas da região. Eles esperam um dia usar isso como comparativo para outras regiões mais barulhentas.

    Dito isso, o trabalho de amostragem do que é por enquanto uma região Ártica intocada pode ser cansativo. Para Gaumy, de 70 anos, vale a pena testar seus limites para documentar a pesquisa.

    “Os movimentos e o ritmo de trabalho são muitas vezes difíceis de combinar com o tempo e exigências de viagem da equipe”, diz Gaumy. “Este é meu desafio.”

    Do ar, é possível ver como a região é extensa e nua, mascarando a abundância de vida submarina.
    Foto de Jean Gaumy, Magnum Photos

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