Amazônia está pegando fogo em taxas recordes — e o desmatamento é responsável pela tragédia ambiental

As chamas são tão grandes que a fumaça pode ser vista do espaço. Especialistas afirmam que os incêndios podem ter grandes impactos climáticos.

Por Sarah Gibbens
Publicado 21 de ago. de 2019, 19:20 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A fumaça dos incêndios na Amazônia foi registrada nesta imagem de satélite tirada pela Nasa.
A fumaça dos incêndios na Amazônia foi registrada nesta imagem de satélite tirada pela Nasa.
Foto de NASA Earth Observatory, Lauren Dauphin, usando informações da MODIS, NASA EOSDIS/LANCE e GIBS/Worldview e VIIRS - e Suomi National Polar-orbiting Partnership

O FOGO ESTÁ TÃO INTENSO NA AMAZÔNIA que a fumaça das chamas cobriu cidades com uma névoa escura.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) do Brasil registrou um recorde de 72.843 incêndios este ano, um aumento de 80% em relação ao ano passado. E mais de 9 mil desses incêndios foram vistos na semana passada.

O tamanho das queimadas ainda não é preciso, mas elas se espalham pelos estados que compreendem a floresta na região Norte e Centro-Oeste do Brasil. Em 11 de agosto, a Nasa mostrou que os incêndios eram tão grandes que podiam ser vistos do espaço. 

"Isto é, sem dúvida alguma, uma das duas únicas ocasiões em que houve incêndios como estes”, afirma Thomas Lovejoy, ecologista e National Geographic Explorer-at-Large, sobre a Amazônia.

"Não há dúvida de que é uma consequência do recente aumento do desmatamento", diz ele.

Como isso está relacionado às políticas ambientais pró-empresas do Brasil?

Sempre houve pressão nos governos sobre o tema. Mas ambientalistas estão ainda mais alertas sobre a escalada do desmatamento desde que o atual presidente do país, Jair Bolsonaro, foi eleito em 2018. Uma grande parte de sua mensagem de campanha pedia a abertura da Amazônia para negócios e, como ele está no poder, tem exercido sua promessa.

Números do Inpe indicam que os focos de incêndios florestais no Brasil aumentaram 83% neste ano quando se compara os períodos entre janeiro e agosto de 2018 e 2019.

“Nos anos anteriores, [incêndios florestais] estavam muito relacionados à falta de chuva, mas este ano tem sido bastante úmido”, argumenta Adriane Muelbert, ecologista que estudou como o desmatamento na Amazônia desempenha um papel na mudança climática.

"Isso nos leva a pensar que isso é um incêndio causado pelo desmatamento", diz.

Além da colheita de madeira, muitas árvores na Amazônia são derrubadas para plantar soja ou abrir caminho para pastagens lucrativas. A queima é comumente usada para remover árvores rapidamente. Como os incêndios que assolam a Califórnia, nos Estados Unidos, a maioria é iniciada por seres humanos e, depois, foge totalmente do controle.

Lovejoy descreve um sistema cíclico no qual o desmatamento alimenta a perda florestal, tornando a região mais seca, estimulando ainda mais o desmatamento. Grande parte da chuva na Amazônia é gerada pela própria floresta tropical, mas, à medida que as árvores desaparecem, a chuva cai. Especialistas temem que essa espiral descendente possa secar cada vez mais a floresta e empurrá-la para um ponto sem retorno, no qual se parece mais com a savana do que com a floresta tropical.

“A Amazônia tem esse ponto de inflexão porque faz metade de sua própria chuva”, diz Lovejoy. É por isso, explica o ecologista, que "precisa ser gerenciada como um sistema.”

O que esses incêndios têm a ver com a mudança climática?

Se o desmatamento e o manejo florestal pelo fogo continuarem, os incêndios florestais dessa escala também seguiriam, advertem Lovejoy e Muelbert. Tal perda massiva de floresta seria sentida em escala global.

A proteção da Amazônia é muitas vezes apontada como uma das formas mais eficazes de mitigar o efeito da mudança climática. O ecossistema absorve milhões de toneladas de emissões de carbono todos os anos. Quando essas árvores são cortadas ou queimadas, elas não apenas liberam o carbono que estavam armazenando, mas uma ferramenta para absorver as emissões de carbono desaparece.

“Qualquer floresta destruída é uma ameaça à biodiversidade e às pessoas que usufruem dessa biodiversidade”, diz Lovejoy. Ele ainda acrescenta que "a grande ameaça é que muito carbono vai para a atmosfera.“

Muelbert diz que é muito cedo para calcular quanto carbono pode ser emitido pelos incêndios florestais deste agosto. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas divulgou um relatório no início deste mês dizendo que o mundo não tem floresta de sobra se quiser evitar os piores impactos da mudança climática.

“É uma tragédia”, lamenta Muelbert sobre os incêndios e o desmatamento por trás deles. Ela afirma: "um crime contra o planeta e um crime contra a humanidade".

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