Estudo do Inpe mostra que as ondas de calor no Brasil saltaram de sete ocorrências para ...

Mais seca e altas temperaturas: estudo comprova que número de ondas de calor e dias sem chuva aumentaram no Brasil

Os termômetros em alta da primavera no país refletem dados do Inpe, os quais mostram que as ondas de calor saltaram quatro vezes nos últimos 30 anos. Os dias sem chuva também cresceram.

Estudo do Inpe mostra que as ondas de calor no Brasil saltaram de sete ocorrências para 32 nos últimos 30 anos. 

Foto de Reprodução Windy.com
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 24 de set. de 2024, 11:50 BRT

Um estudo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que se debruçou em 60 anos de dados climáticos no Brasil mostrou que o número de ondas de calor no país aumentou mais de quatro vezes nos últimos 30 anos, tornando esses eventos climáticos extremos mais recorrentes e perigosos. Os dados também mostram que também em seis décadas a média de dias seguidos sem chuva saiu de 80 para 100, mostrando um cenário propício para temporadas de seca e refletindo a chegada da primavera 2024 no país como uma temporada seca e quente.

A instituição científica brasileira destaca que nas últimas três décadas, eventos climáticos como ondas de calor foram sete para 32, mostrando como o clima no Brasil pode estar mudando. A investigação foi feita a pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com base em cálculos que mapearam o período de 1961 a 2020. 

Na foto, um registro dos grandes focos de incêndio que atingiram áreas do importante Parque Nacional de Brasília, no Distrito Federal, a partir da segunda semana de setembro de 2024. O mês foi um dos mais críticos em queimadas em todo o país, com a vegetação sofrendo com a seca que atinge boa parte do território.

Foto de Marcelo Camargo Agência Brasil

Clima extremo no Brasil: mais calor, menos chuva   

O Inpe também investigou como andam as precipitações de chuvas nos três períodos avaliados e os dados ajudam a explicar a seca extrema que o país vem enfrentando em 2024, e que é a maior dos últimos 60 anos, afirma o Inpe. 

"Enquanto houve queda na taxa média de precipitação, com variações entre –10% e –40% do Nordeste até o Sudeste e na região central do Brasil, foi observado aumento entre 10% e 30% na área que abrange os estados da região Sul e parte dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Esses números coincidem com eventos como as enchentes que atingiram o Sul do Brasil em maio deste ano, bem como com o recorde de queimadas e incêndios florestais verificado nos meses de agosto e setembro em mais de 60% do território nacional.

Outro dado diz respeito ao número de dias consecutivos secos (da sigla em inglês CDD) e que define as condições excessivamente secas por vários dias, com ausência de chuva. "O CDD foi calculado estimando-se o número de dias seguidos com precipitação inferior a 1mm", segue o estudo. "No período de referência, entre 1961 e 1990o CDD era em média de 80 a 85 dias. Na década mais recente, o número subiu para cerca de 100 dias, especialmente nas áreas que abrangem o norte do Nordeste e o centro do país".

Quase todas as regiões do país experimentaram um aumento significativo na frequência dos dias consecutivos secos desde 1960. Estamos vivenciando períodos de seca mais prolongados”, afirma o pesquisador do Inpe Lincoln Alves, responsável pelo estudo, no site do Ministério do Meio Ambiente. As áreas com maior número de dias secos na última década estão nas regiões Nordeste e no Centro-Oeste

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    O mapa mostra a situação pluviométrica no Brasil em setembro de 2024: chuva apenas na região do extremo-sul do país, parte que já foi castigada por inundações no começo do ano. 

    Foto de Reprodução Windy.com

    "Os especialistas estabeleceram 1961 a 1990 como período de referência, e efetuaram análises segmentadas sobre o que aconteceu com o clima para três períodos: 1991-2000, 2001-2010 e 2011-2020", detalha a página oficial do Inpe sobre o tema.

    O refinamento dos dados mostram que o Brasil vem enfrentando aumentos constantes de temperatura. "Entre 1991 e 2000, as anomalias positivas de temperatura máxima não passavam de cerca de 1,5°C. Porém, atingiram 3°C em alguns locais para o período de 2011 a 2020, especialmente na região Nordeste e proximidades". 

    "No período de referência, a média de temperatura máxima no Nordeste era de 30,7°Csobe, gradualmente, para 31,2°C em 1991-2000, 31,6°C em 2001-2010 e 32,2°C em 2011-2020", diz a fonte.

    O mapa presente no estudo do Inpe mostra o avanço das temperaturas nos últimos 60 anos no Brasil e chama a atenção, em especial, para regiões do Centro-Oeste, do Norte e Nordeste do país. 

    Foto de Reprodução INPE

    Ondas de calor e outros eventos: o que caracteriza o clima extremo   

    As ondas de calor estão na lista do que se consideram eventos climáticos extremos. Junto a tufões, ciclones, deslizamentos e inundações, esse tipo de manifestação da natureza tem se intensificado por causa da mudança climáticaficando mais violentos e também ocorrendo em maior quantidade

    “Popularmente conhecido como ‘desastre natural’, um evento climático ou meteorológico extremo resulta de uma séria interrupção no funcionamento normal de uma comunidade, afetando seu cotidiano”, detalha um documento do Observatório de Clima e Saúde da FioCruz (instituição de pesquisa científica do governo federal brasileiro). 

    Já um artigo sobre o tema da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que os  eventos climáticos extremos causam perdas materiais, humanas, animais, danos ao meio ambiente e risco à saúde”, como detalha um artigo de National Geographic sobre o tema. 

    “O mais recente relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas) destacou que as mudanças climáticas estão impactando diversas regiões do mundo de maneiras distintas. Nossas análises revelam claramente que o Brasil já experimenta essas transformações, evidenciadas pelo aumento na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos em várias regiões desde 1961 e irão se agravar nas próximas décadas proporcionalmente ao aquecimento global”, disse Lincoln Alves, do Inpe, no site oficial do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

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