
Dia Nacional da Mata Atlântica: qual a situação atual do bioma litorâneo do Brasil?
Na imagem, uma parte da Mata Atlântica registrada no Parque Estadual do Rio do Turvo, em São Paulo.
O vasto bioma litorâneo do Brasil celebra a cada 27 de maio o Dia Nacional da Mata Atlântica em referência a uma data em especial. Em 1560, o Padre José de Anchieta assinou a “Carta de São Vicente” – o primeiro documento que descreveu a biodiversidade das florestas tropicais nas Américas, como conta o site do Conselho Federal de Biologia do país.
A Mata Atlântica brasileira tem uma importância global em biodiversidade e abriga um grande número de espécies, algumas delas endêmicas da região. No entanto, sua longa história de ocupação por parte das pessoas – e que caminhou junto à história do país – culminou em na remoção de uma grande parcela da vegetação nativa, associada à urbanização litorânea do Brasil.
Isso deixou apenas cerca de 24% da cobertura florestal original, como relata o Mapbiomas (rede multi-institucional brasileira que reúne universidades, instituições e empresas de tecnologia). Em 2025, a Mata Atlântica registra a menor quantidade de mata nativa entre os biomas brasileiros – o que faz com que a efeméride dedicada ao bioma não traga muitos motivos para celebrar.
Conheça os dados mais recentes sobre o desmatamento da Mata Atlântica e as unidades de conservação que trabalham na preservação da flora e da fauna, inclusive de algumas de suas principais espécies endêmicas raras, como o mico-leão-dourado.
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Na imagem da Nasa (agência norte-americana de Espaço e Aeronáutica), é possível observar a ampla região que a Mata Atlântica compreende no litoral do Brasil.
Mata Atlântica: quais são os níveis atuais de seu desmatamento?
Os níveis de desmatamento da Mata Atlântica hoje não são tão alarmantes como já foram historicamente. Os últimos dados de importantes pesquisas apresentam um grau de estabilidade. Porém, é preciso atenção pois ainda há focos de desmatamento ao longo do bioma.
Em um estudo publicado em fevereiro de 2025 pela revista científica “Nature Sustainability”, cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Fundação SOS Mata Atlântica e da Universidade de São Paulo (USP) apontaram padrões alarmantes na perda de florestas maduras, classificação dada à vegetação que estava íntegra até 1989, quando se iniciou o mapeamento por satélites dessas áreas.
Mais raras e ricas em biodiversidade, as florestas maduras da Mata Atlântica estão desaparecendo em um ritmo preocupante, afirma o artigo publicado pelo Inpe. De 2010 a 2020, por exemplo, foram 1,9 mil km² perdidos. Segundo o estudo, o desmatamento diminuiu na maioria dos estados do Sudeste, enquanto no Centro-Oeste, no Sul e nos estados do Nordeste houve um aumento.
Mais recentemente, em maio de 2025, foi publicado o “Relatório Anual do Desmatamento no Brasil” pela iniciativa MapBiomas, com base em dados coletados no ano de 2024. De acordo com essa fonte, que analisa os biomas como um todo, houve uma queda geral da perda de cobertura de vegetação nativa no país em todos os biomas – sendo a Mata Atlântica a única exceção nessa diminuição.
Os dados referentes à Mata Atlântica se mantiveram estáveis após uma queda relevante no ano anterior. O bioma teve um crescimento de 2% no desmatamento, mas segundo o relatório este é um resultado considerado estável em relação a 2023, por conta dos eventos climáticos extremos que atingiram o Rio Grande do Sul entre abril e maio de 2024, e que alavancaram a perda de vegetação nativa no estado, com aumento de 70%.
Assim, os resultados no bioma Mata Atlântica no relatório do Mapbiomas foram influenciados pelo ocorrido no estado gaúcho. Caso esses eventos não tivessem acontecido, o bioma teria registrado uma redução de pelo menos 20% na área afetada em relação ao ano anterior, explica o site da iniciativa.
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Acima, a vista de uma floresta de araucárias - um gênero de árvores coníferas só encontrada em uma pequena área da Mata Atlântica ao sul do país, especialmente nos estados do Paraná e Santa Catarina.
Como estão as unidades de conservação da Mata Atlântica e a preservação de animais nativos
Na Mata Atlântica, há mais de 130 unidades de conservação federais, 443 estaduais, 14 municipais e 124 privadas ao longo de todo o bioma. Entre as mais importantes, estão algumas que fazem um amplo trabalho de conservação da flora e também de preservação animal, sendo essenciais para proteger animais ameaçados de extinção, como explica o site do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade), mantido pelo Ministério do Meio Ambiente.
O Parque Nacional do Alto Cariri, localizado no sul da Bahia, é o último local onde ainda se encontra o muriqui-do-norte (o maior primata da América do Sul e endêmico do bioma) neste estado. O Parque Nacional de Aparados da Serra, em Santa Catarina, é o que conserva as maiores porções de mata araucária, e tem um relevo impressionante de cânions e desfiladeiros.

O mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) é um dos vários animais endêmicos da Mata Atlântica e que se tornou símbolo da importância da preservação das espécies em perigo de extinção no bioma.
Já o Parque Nacional da Chapada Diamantina, no interior da Bahia, é uma das maiores unidades de conservação do país (com mais de 152 mil hectares) e também está na Mata Atlântica, com uma parte na área de transição com a Caatinga. O Parque Nacional da Serra da Bocaina, por sua vez, localizado entre o Rio de Janeiro e São Paulo, compreende o maior trecho contínuo da Mata Atlântica e é a “casa” de algumas onças-pintadas, de acordo com o ICMBio.
No Rio de Janeiro, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos é importante na conservação de um animal endêmico do bioma, o sagui-da-serra-escuro ou sagui-caveirinha, que se encontra classificado como "em perigo" na Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção do Governo Federal. E é no Parque Nacional de Superagui, no Paraná, o único local onde é encontrado o mico-leão-da cara-preta.
Já o Parque Ecológico Mico-Leão-Dourado, em Silva Jardim (no Rio de Janeiro), que realiza a principal ação de preservação do mico-leão-dourado, somente 2024 foi reconhecido pelo ICMBio como Reserva Particular do Patrimônio Natural e se tornou uma área oficialmente protegida da Mata Atlântica.
