
Qual é o lugar mais profundo dos oceanos? Ele se parece com a superfície da Lua
Um submersível vasculha o fundo do mar: no local mais profundo dos oceanos, a vida animal se resume a crustáceos microscópicos e certos tipos de organismos microbianos.
“Desolador e parecido com a superfície lunar”. Foi assim que o cineasta e explorador de National Geographic James Cameron (o criador de “Titanic” e da franquia “Avatar”) se referiu ao ponto mais profundo nos mares do planeta após comandar uma incursão a este abismo localizado no fundo do Oceano Pacífico – como conta um artigo sobre o tema publicado por National Geographic Estados Unidos.
Trata-se da Fossa das Marianas (ou Fossa Mariana), uma depressão oceânica que tem esse nome por estar a leste e a sul das Ilhas Marianas, no Oceano Pacífico Norte ocidental. A Fossa possui 11 mil metros de profundidade em seu ponto mais fundo no oceano, segundo dados do Serviço Nacional de Oceanos dos Estados Unidos (da sigla NOAA, um órgão oficial do governo norte-americano).
Para se ter uma ideia do quanto abismal é esse lugar, o NOAA esclarece que a profundidade média do oceano é de cerca de 3.682 metros – um número bastante menor. Já se o ponto mais alto do planeta em terra, que é o Pico do Everest, estivesse dentro da Fossa das Marianas, o topo da montanha não conseguiria atingir a superfície da água. Isso porque o Everest tem “apenas” 8.848 metros de altura, informa outro artigo de NatGeo sobre o assunto.
A seguir, saiba como é o lugar mais profundo dos oceanos – e também do planeta, que é repleto de mistérios e riscos para quem decide investigá-lo.
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Uma imagem geológica do NOAA que mostra a aparência do fundo do mar na Fossa das Marianas. O colorido varia de acordo com a profundidade (roxo é a parte mais profunda, vermelho a mais rasa, verde são as ilhas acima do nível do mar). A linha branca indica o eixo de expansão do arco retroativo.
Como é a Fossa das Marianas, o lugar mais profundo dos oceanos e do planeta
A Fossa das Marianas é “uma depressão em forma de arco e que se estende por mais de 2.540 km, com uma largura média de 69 km”, descreve a Enciclopaedia Britannica (plataforma de conhecimento do Reino Unido). Ela está situada nos chamados “territórios das dependências dos Estados Unidos das Ilhas Marianas do Norte e Guam”, continua a fonte, e em 2009 foi designada “monumento nacional dos Estados Unidos”, diz a fonte.
Também se sabe que a região coincide com as chamadas zonas de subducção, que são “pontos onde duas placas tectônicas adjacentes colidem, sendo uma forçada para baixo pela outra”, continua a fonte. Segundo a fonte, a parte mais profunda do oceano fica no Pacífico ocidental, na extremidade sul da Fossa das Marianas.
Esta área é chamada de Challenger Deep, nome dado para um vale menor que tem “paredes íngremes no fundo da fossa principal”, a sudoeste de Guam, e que é sem luz, praticamente congelado e sofre intensa pressão, completa o artigo de National Geographic sobre a fossa.


Uma água-viva amarelada com listras vermelho-acastanhadas descoberta durante uma exploração em águas profundas das Marianas, em 2016.
O registro de um sifonóforo (ou Siphonophora), que é uma ordem de hidrozoários pertencentes à classe de invertebrados marinhos do filo Cnidaria. Este é um dos seres vivos encontrados nas regiões abissais da Fossa das Marianas.
A Britannica, por sua vez, explica que “a primeira tentativa de medir a Fossa das Marianas foi feita em 1875, durante a Expedição Challenger (1872-1876). A sondagem neste momento foi de 8.184 metros perto do extremo sul da fossa, continua a fonte.
Foi apenas em 1957 que um navio de pesquisa soviético chamado Vityaz atingiu um novo recorde mundial para a Fossa. Sua primeira medição indicou uma profundidade de 10.990 metros no Challenger Deep, mas posteriormente esse dado foi ajustado e “aumentado para 11.034 metros”, detalha a enciclopédia.
Tanto a Britannica quanto outros artigos de NatGeo indicam que quase não existe vida na Fossa Mariana, mas a lama existente no abismo “pode conter espécies exóticas de vida microbiana” que podem ajudar na compreensão do oceano profundo.
No entanto, já se sabe também que, apesar de ser o lugar mais profundo da Terra, a Fossa das Marianas já está contaminada com microplásticos, como indica um artigo da Fundação Nacional da Ciência (US National Science Foundation, cuja sigla em inglês é NSF), uma agência governamental de pesquisa dos Estados Unidos.

Imagem do submarino Deepsea Challenger, do explorador de National Geographic James Cameron, no fundo da Fossa das Marianas, em março de 2012.
O que James Cameron descobriu quando foi ao abismo das Fossas Marianas
A descida de James Cameron até o ponto mais profundo da Fossa das Marianas aconteceu em 2012 e durou duas horas e meia. Cameron passou cerca de três horas conduzindo o que foi “a primeira exploração científica tripulada” de seu submarino, o Deepsea Challenger.
Segundo a Britannica, Cameron mergulhou até alcançar 10.898 metros de profundidade. A subida de volta à superfície durou aproximadamente 70 minutos e foi descrita por ele como “uma viagem e tanto”, disse o cineasta para National Geographic.
“A expedição foi planejada para que Cameron pudesse passar até seis horas coletando amostras e gravando vídeos no fundo da Fossa”, diz o artigo de NatGeo sobre a incursão. Mas, ao final, a missão foi interrompida devido, “em parte, a um vazamento de fluido hidráulico que cobriu a janela do piloto do submarino, obscurecendo sua visão”, completa o artigo.
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Segundo Cameron, ele aterrissou no que parecia ser “uma planície muito macia, quase gelatinosa”. “Depois de me orientar, atravessei essa planície por uma longa distância e, finalmente, subi uma encosta”, completou.
Cameron contou a NatGeo que não viu “nenhum peixe ou qualquer outro ser vivo com mais de 2,5 centímetros de comprimento” durante todo o percurso. “Os únicos nadadores livres que vi foram pequenos anfípodes” — animais semelhantes a camarões que se alimentam no fundo do mar e parecem ser comuns na maioria dos ambientes marinhos”.
