Tubarões brancos: eles podem mudar de cor?
Experimentos inéditos investigam essa possibilidade. Confira detalhes de um achado incrível.
Um grande tubarão branco nada na Reserva da Biosfera da Ilha Guadalupe, na Baja California.
Como o maior peixe predador da Terra, os grandes tubarões brancos já são impressionantes, armados com até 300 dentes serrilhados e pesando até 2 toneladas. Agora, novas pesquisas adicionam mais curiosidades às feras oceânicas, sugerindo que os animais podem mudar de cor – talvez como uma estratégia de camuflagem para se aproximar das presas.
Em novos experimentos na África do Sul, os pesquisadores utilizaram iscas em um barco para atrair vários tubarões a ficarem perto de um cilindro colorido, especialmente projetado com as cores branca, cinza e preta. A equipe fotografou os tubarões cada vez que eles saltavam da água, repetindo o experimento ao longo do dia.
Um tubarão, facilmente identificável por causa de um abscesso em sua mandíbula, apareceu tanto em cinza escuro quanto em cinza muito mais claro em diferentes momentos do dia. Os cientistas verificaram isso usando software de computador para corrigir variáveis como clima, níveis de luz e configurações da câmera.
Na África do Sul, um grande tubarão branco ignora a isca e tenta dar uma mordida no equipamento de pesquisa. "Desnecessário dizer que o experimento não saiu como planejado, mas os resultados foram notáveis", diz Gibbs Kuguru.
Os pesquisadores extraíram um pequeno pedaço de tecido de um dos tubarões e o levaram às pressas para um laboratório, onde o trataram com vários tipos de hormônios comuns nos tubarões.
Usando uma câmera de lapso de tempo e um microscópio confocal, os pesquisadores observaram com admiração como os melanócitos – células da pele que contêm pigmento – se contraíram e ficaram mais claros quando mergulhados em adrenalina. Ao mesmo tempo, outro hormônio conhecido como MSH, ou hormônio estimulante de melanócitos, fez com que as mesmas células se dispersassem, resultando em uma cor de pele mais escura.
“Queríamos enganar essas células de tubarão para pensar que estavam recebendo algum tipo de estímulo, como o sol ou um estímulo emocional [como observar presas em potencial] para ver se poderíamos fazê-las mudar e se tornarem mais claras ou mais escuras”, diz Gibbs Kuguru, cientista de tubarões da Wageningen University and Research, na Holanda.
“Então, nós testamos, e não apenas funcionou, mas foi um grande sucesso”, diz Kuguru, que também é um explorador da National Geographic e ganhador do Prêmio National Geographic Wayfinder, em 2022.
Com dados de um número limitado de tubarões, os cientistas alertam que a capacidade do gigante branco de alterar sua aparência ainda não está validada e que sua pesquisa não foi publicada em uma revista científica. Mas outros especialistas dizem que as possibilidades são tentadoras.
Ryan Johnson, Gibbs Kuguru e um colega verificam aparelho parecido com um trenó – onde um tubarão descansa durante o experimento – antes de colocá-lo na água.
Um grande tubarão branco salta para pegar uma isca.
Desvendando segredos do grande tubarão branco
A maior parte do foco no grande tubarão branco nas últimas décadas tem sido em seu carisma, diz Ryan Johnson, biólogo de tubarões da Unidade de Pesquisa Blue Wilderness Shark, na África do Sul, e parceiro de pesquisa de Kuguru.
“Sua velocidade, seu poder, seu tamanho, sua capacidade de dominar a presa”, ele explica. “O que me empolgou com essa pesquisa foi que queríamos investigar algo incrivelmente sutil e microscópico.”
Curiosamente, Johnson e outros cientistas notaram que os grandes tubarões brancos parecem alterar a tonalidade de sua metade superior, ou lado dorsal.
Isso é diferente do countershading, que é uma estratégia de camuflagem bem conhecida de muitos predadores marinhos, em que suas metades superiores são naturalmente mais escuras e suas metades inferiores são mais claras. O contra-sombreamento evoluiu para ajudar os predadores a permanecerem imperceptíveis de cima e de baixo, imitando tanto a escuridão das profundezas da água quanto a luz do sol da superfície.
Mas não há nada na literatura científica sugerindo que os grandes brancos possam mudar de cor, o que motivou Johnson e Kuguru a continuar estudando o fenômeno.
“Desde que terminamos o programa, saímos duas a três vezes por semana e fizemos centenas de fotos dos tubarões contra os quadros coloridos”, explica Johnson.
A esperança é que, analisando um conjunto maior de dados, os cientistas não apenas possam verificar se a mudança de cor que documentaram é mais do que um acaso, mas também identificar um padrão de quando e por que os animais entram em modo de camuflagem.
“Uma descoberta emocionante”
“Do ponto de vista da publicação, não acho que alguém tenha tentado obter a coloração do grande tubarão branco assim”, diz Michelle Jewell, que estuda o comportamento do grande tubarão branco nos museus da Michigan State University e não é afiliada à pesquisa.
“Por experiência pessoal, no entanto, definitivamente notamos mudanças em sua cor. Mas, geralmente, essas mudanças aconteceram ao longo de uma série de dias.”
Segundo Jewell, a principal hipótese para essas mudanças é que os tubarões estavam se bronzeando depois de passar mais tempo em águas rasas, onde os raios do sol são mais fortes.
Isso não é tão bobo quanto parece. Um estudo de 1996 mostrou que quando os tubarões-martelo juvenis cativos foram encurralados em águas rasas, eles gradualmente se tornaram mais escuros do que os tubarões-martelo permitidos a mergulhar em águas mais profundas.
“Nós não consideramos que isso poderia ser algo que eles mesmos estão manipulando para escurecer ou clarear”, diz Jewell. “Mas faria muito sentido evolutivo.”
George Probst, um fotógrafo que contribuiu para o Projeto de Identificação do Tubarão Branco da Ilha de Guadalupe, no México, diz que nunca notou mudanças de cor em seu trabalho.
No entanto, dado como os animais extremamente grandes podem aparecer do nada, mesmo quando a visibilidade da água é excepcional, faria sentido que os grandes brancos evoluíssem para melhorar sua camuflagem de contra-sombra.
“Não me surpreenderia que eles possam fazer isso apenas por causa de quão bons eles são em se aproximar de você”, diz Probst, que passou centenas de horas na água com mais de 200 tubarões-brancos. “Eles são predadores de emboscada que dependem de furtividade.”
Gregory Skomal, especialista em tubarões e chefe do Programa de Pesquisa de Tubarões de Massachusetts, diz que também não está completamente chocado com a pesquisa preliminar, embora gostaria de vê-la apoiada por um estudo científico mais estruturado.
“Sabemos que muitas espécies de peixes são capazes de mudar seus tons de cor”, destaca Skomal. “Então eu acho que é uma descoberta muito empolgante.”
A National Geographic Society, comprometida em iluminar e proteger a maravilha do nosso mundo, financiou o trabalho do explorador Gibbs Kuguru. Saiba mais sobre o apoio da Sociedade aos exploradores que destacam e protegem espécies críticas.