Os elefantes podem chamar uns aos outros pelo nome, uma característica rara na natureza
Os elefantes da savana africana se comunicam de forma mais parecida com os humanos do que se pensava, segundo uma nova pesquisa - abrindo novas possibilidades para a cognição dos elefantes.
Os elefantes africanos da savana andam pelo Delta do Okavango, em Botsuana, que tem a maior população da espécie.
Neste Dia Mundial dos Elefantes, 12 de agosto, é interessante observar as descobertas recentes sobre este animal.
Desde que começou a estudar os elefantes da savana africana em 1975, a bióloga alemã Joyce Poole notou que, às vezes, um elefante chamava seus parentes. Às vezes, um grupo respondia e, outras vezes, apenas um respondia.
"Eu suspeitava que os elefantes tinham uma maneira de direcionar seus chamados para indivíduos específicos", diz Poole, diretora científica e cofundadora da organização sem fins lucrativos ElephantVoices, mas "não tinha ideia de como descobrir isso".
Agora, os cientistas publicaram uma nova pesquisa na revista científica Nature Ecology and Evolution que começa a fazer exatamente isso. O estudo fornece evidências de que os elefantes se dirigem uns aos outros com chamadas, ou nomes, que são específicos para cada indivíduo.
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Os nomes são um fenômeno raro no reino animal, e as poucas espécies que os utilizam, como papagaios e golfinhos, imitam um som feito pela primeira vez pelo destinatário.
Os golfinhos-nariz-de-garrafa, por exemplo, emitem seu próprio assobio característico, que os outros repetem quando se dirigem a eles. Os elefantes parecem fazer algo diferente: eles usam rótulos vocais arbitrários que não têm nada a ver com sons ou propriedades físicas do ouvinte.
"Achávamos que isso era exclusivo das pessoas", afirma o coautor do estudo George Wittemyer, professor de biologia da Colorado State University, dos Estados Unidos, e presidente do conselho científico da Save the Elephants.
Na linguagem humana, um rótulo arbitrário seria chamar um bovino de "vaca", já que essa palavra não se assemelha, nem física nem acusticamente, ao animal em si. Um rótulo mais simples, que os cientistas chamam de rótulo icônico, seria se referir a um bovino como "mugido", já que essa palavra se baseia no som que o animal emite e o imita.
Os rótulos arbitrários ampliam o escopo da comunicação e proporcionam uma maneira de expressar o pensamento abstrato – e é provável que isso também aconteça com os elefantes. "Em termos de cognição, isso abre todos os tipos de possibilidades", diz Wittmyer.
O que há em um nome para os elefantes?
A equipe se baseou em gravações feitas de 2019 a 2022 na Reserva Nacional Samburu e na Reserva Nacional Buffalo Springs, no Quênia, na África, bem como em gravações de arquivo do Parque Nacional Amboseli nas décadas de 1980, 1990 e 2000. Poole, coautor do estudo e Explorador da National Geographic, fez as gravações de Amboseli.
No total, a equipe analisou dados de 101 elefantes da savana africana que fizeram 469 chamadas separadas para 117 destinatários.
Os cientistas se concentraram nos roncos de contato, saudação e cuidado, que os elefantes usam ao iniciar o contato com um membro da família que não é visto, ao se aproximar de outro que está a uma distância de contato e ao cuidar de um filhote.
Esses foram os tipos de chamadas que os pesquisadores consideraram mais prováveis de conter um nome.
Os elefantes produzem uma série de vocalizações, desde trombetas e latidos até vários tipos de roncos. Suas estruturas são complicadas. Por exemplo, os estrondos são sons de baixa frequência, parcialmente fora do alcance da audição humana, que não apenas variam muito, mas podem viajar pelo solo e durar de meio segundo a 12 segundos. Essa diversidade pode conter muitas informações, o que torna sua interpretação difícil.
"Nossos dados sugerem que, ao contrário dos nomes humanos, em que o nome em si é responsável pela maior parte da variação na pronúncia, os nomes dos elefantes são responsáveis por apenas uma pequena parte da variação no chamado", explica o líder do estudo Mickey Pardo, pós-doutorando da Colorado State University, dos Estados Unidos.
"Os elefantes podem acumular mais informações em uma única vocalização, de modo que o nome pode ser apenas uma parte de um sinal complexo que transmite simultaneamente outras informações."
Embora os pesquisadores não saibam como um nome é codificado em um chamado, esse estudo indica que ele está lá.
Ao inserir os dados em um algoritmo de computador, os pesquisadores descobriram que as chamadas de um elefante para o mesmo receptor eram mais semelhantes do que as chamadas do mesmo chamador para receptores diferentes.
Assim, a estrutura acústica das chamadas de um elefante Samburu chamado Frida para uma matriarca, Donatella, era mais parecida do que as chamadas de Frida para outros elefantes, como seu primo Rothko. Isso "indica que os chamados eram de fato específicos para o receptor individual visado", explica Pardo.
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Há um nome para cada elefante?
Uma das várias explicações possíveis é que elefantes diferentes usam derivados de nomes para se dirigir ao mesmo destinatário, algo semelhante a apelidos.
"Assim como os apelidos humanos Liz, Elizabeth e Ellie têm certas características em comum, apesar de serem palavras distintas, pode ser que diferentes elefantes se dirijam ao mesmo indivíduo com rótulos semelhantes, porém distintos", diz Pardo.
A falta de dados é um problema, diz Yossi Yovel, professor de zoologia da Universidade de Tel-Aviv, de Israel, que não participou do estudo. Embora ele considere o tópico "superinteressante" e aprecie a tentativa de identificar chamadas específicas individuais, ele observa que "há menos de 500 chamadas, o que é muito pouco para um estudo desse tipo".
Em muitos pares, há apenas um chamador e um receptor, portanto, é impossível saber o "nome" do receptor, a menos que ele seja consistente entre os chamadores", diz ele. "Mas eles dizem que não é."
"Para que um nome seja um nome, mais de um chamador deve usá-lo", diz ele, observando que o que parece ser um nome pode ter outras explicações.
Por exemplo, se alguém dissesse "hi hi hi hi" para uma pessoa e "hey hey hey" para outra, o algoritmo provavelmente sugeriria que um nome é hi e outro é hey, comenta Yovel. "Mas esse não é o caso."
Reconhecimento dos nomes
Os pesquisadores também realizaram experimentos de campo, reproduzindo várias gravações para os elefantes estudados, com algumas originalmente endereçadas a eles e outras do mesmo interlocutor que não eram.
As descobertas revelaram reações dramáticas, mostrando que os elefantes reconhecem seu próprio "nome" e respondem a ele, diz Pardo.
Por exemplo, quando a elefante Donatella ouviu a reprodução de uma chamada originalmente dirigida a ela, ela "chamou oito vezes, aproximou-se do alto-falante e procurou atrás dele". Mas ao ouvir uma gravação de Frida para seu primo Rothko, Donatella quase não reagiu, chamando apenas uma vez e não se aproximando do alto-falante.
Uma porta para o funcionamento da mente dos elefantes
"Estamos realmente nos estágios iniciais para tentar decifrar o que está acontecendo", diz Wittemyer. Por exemplo, Poole se pergunta se os elefantes também têm nomes para os lugares.
"Quando eles estão negociando um plano de ação, é possível vê-los concordar ou discordar. Mas o que eles estão dizendo? Será que estão dizendo: 'Não vou com você, quero ir para este outro lugar'?", afirma.
"Esse estudo abre uma porta para o funcionamento da mente dos elefantes", acrescenta Wittemyer. "Estamos dando um passo para entendê-los melhor e talvez isso nos ajude a conviver melhor com eles."