O chupacabra existe? Descubra como a evolução de um ácaro criou um monstro mítico

Cientistas afirmam que uma doença comum na vida selvagem pode estar por trás da lenda que criou o chupacabra.

Por Ker Than
Publicado 11 de nov. de 2025, 16:40 BRT
O chupacabra desperta medo e fascínio, mas os cientistas afirmam que existem grandes possibilidades de a ...

O chupacabra desperta medo e fascínio, mas os cientistas afirmam que existem grandes possibilidades de a criatura ser apenas um coiote (ou outro canídeo) com sarna, como o da foto.

Foto de Richard Mittleman, Gon2Foto, Alamy

Uma criatura chamada de chupacabra foi relatada pela primeira vez em Porto Rico em meados da década de 1990. Desde então, histórias sobre o misterioso monstro parecido com um canino que suga o sangue do gado têm causado medo — e fascínio em diversos países do mundo, passando por México, sudoeste dos Estados Unidos e até mesmo no Brasil.

Mas os cientistas afirmam que podem explicar essas histórias com a ajuda da teoria da evolução

Relatos de pessoas que avistaram o chupacabra de carne e osso recentemente, em 2023, tornam a criatura mítica muito mais acessível para estudo do que, digamos, o monstro do Lago Ness ou o Pé Grande.

Em quase todos esses casos, os monstros chupacabras acabaram sendo coiotes que sofriam de casos muito graves de sarna, uma doença de pele dolorosapotencialmente fatal que pode causar a queda do pelo dos animaiso ressecamento da pele, entre outros sintomas.

O ácaro Sarcoptes scabiei é o responsável por causar a sarna em animais e humanos. Apesar ...

O ácaro Sarcoptes scabiei é o responsável por causar a sarna em animais e humanos. Apesar de não causar uma inflamação suficiente para levar as pessoas à morte, a doença pode ser fatal para outros animais como os canídeos.

Foto de Tero Linjama/Domínio Público

Para alguns cientistas, essa explicação para os supostos chupacabras é suficiente. “Não acho que precisamos procurar mais ou pensar que ainda há outra explicação para essas observações”, disse Barry OConnor, entomologista da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, que estudou o Sarcoptes scabiei, o parasita que causa a sarna.

Da mesma forma, Kevin Keel – um pesquisador estadunidense especialista em doenças da vida selvagem – viu imagens de um suposto cadáver de chupacabrareconheceu claramente que se tratava de um coiote, mas disse que podia imaginar como outras pessoas poderiam não reconhecer.

Ainda parece um coiotesó que um coiote bem feio”, disse Keel. “Eu não pensaria que é um chupacabra se o visse na floresta, mas já que estou acostumado a ver coiotes e raposas com sarna há um tempo. Um leigo, no entanto, pode ficar confuso quanto à sua identidade.”

O que é um chupacabra?

Sarcoptes scabiei também causa a erupção cutânea com coceira conhecida como sarna em humanos. Os ácaros se enterram sob a pele do hospedeirosecretam ovos e resíduos, o que desencadeia uma resposta inflamatória do sistema imunológico.

Em humanos, a sarna — a reação alérgica aos resíduos dos ácaros — geralmente é apenas um incômodo menor. Mas a sarna pode ser fatal para caninoscomo coiotes, que não desenvolveram reações especialmente eficazes à infecção por Sarcoptes.

OConnor especula que o ácaro passou dos seres humanos para os cães domésticos e, em seguida, para coiotesraposas e lobos na natureza. Sua pesquisa sugere que a razão para as respostas dramaticamente diferentes entre esses animais é que os seres humanos e outros primatas viveram com o ácaro Sarcoptes durante grande parte de sua história evolutiva – enquanto outros animais não.

Os primatas são os hospedeiros originais” do ácaro, disse OConnor. “Nossa história evolutiva com os ácaros nos ajuda a manter [a sarna] sob controle, para que ela não saia tomando todo o corpo como acontece quando atinge [outros] animais.”

Em outras palavras, os humanos evoluíram a ponto de nosso sistema imunológico ser capaz de neutralizar a infecção antes que ela nos neutralize.

Os ácaros também têm evoluído, sugeriu Keel. O parasita teve tempo para otimizar seu ataque aos seres humanos de forma a não nos matar, o que eliminaria nossa utilidade para os ácaros, disse ele.

Já em animais não humanosSarcoptes ainda não descobriu esse equilíbrio. Em coiotes, por exemplo, a reação pode ser tão grave que causa queda de pelos e constrição dos vasos sanguíneosaumentando a fadiga geral e até mesmo a exaustão.

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    Afinal, o que os chupacabras comem? 

    Como os chupacabras são provavelmente coiotes sarnentos, isso explica por que são frequentemente chamados de “sugadores de cabras”, atacando o gado e drenando seu sangue.

    Animais com sarna costumam ficar bastante debilitados”, disse OConnor. “E se eles estão tendo dificuldade em capturar suas presas normais, podem escolher o gado porque é mais fácil.”

    Quanto à parte da lenda do chupacabra que suga sangue, isso pode ser apenas fantasia ou exagero. “Acho que isso é puro mito”, disse OConnor.

    A descrição do chupacabras foi mudando com os anos 

    Loren Coleman, diretor do Museu Internacional de Criptozoologia em Portland, no estado norte-americano do Maine, concordou que muitos avistamentos de chupacabras — especialmente os mais recentes — poderiam ser explicados como aparições de coiotes sarnentoscães e híbridos de coiote e cão, ou coydogs.

    “É certamente uma boa explicação”, disse Coleman, “mas isso não significa que a resposta dê conta de toda a lenda”.

    Por exemplo, os mais de 200 relatos originais sobre o chupacabra em Porto Rico, em 1995, descreviam uma criatura decididamente não canina.

    Em 1995o chupacabra era entendido como uma criatura bípede com quase um metro de altura, coberta por pelos curtos e cinzentos, com espinhos nas costas”, disse Coleman.

    Mas, como se fosse um jogo de telefone sem fio, a descrição do chupacabra começou a mudar no final da década de 1990 devido a erros e traduções incorretas em reportagens, disse ele.

    Em 2000, o chupacabra original com espinhos afiados havia sido amplamente substituído pelo novo, canino. O que era visto como uma criatura bípede agora persegue gado de quatro patas.

    “Na verdade, foi um grande erro”, disse Coleman. “Devido a toda a confusão — com a maioria da mídia agora relatando que os chupacabras são cães ou coiotes com sarna — você realmente não ouve mais nenhum relato confiável de Porto Rico ou do Brasil, como acontecia no início. Esses relatos desapareceram e os relatos de canídeos com sarna aumentaram.”

    “Quanto à parte da lenda do chupacabra que suga sangue, isso pode ser apenas fantasia ou exagero: acho que isso é puro mito.”

    por diz Barry OConnor
    entomologista da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos

    As origens o chupacabra, segundo os especialistas  

    Então, o que explica o mito original do chupacabra?

    Uma possibilidade, disse Coleman, é que as pessoas imaginaram coisas depois de assistir ou ouvir sobre um filme de terror com alienígenas que estreou em Porto Rico no verão de 1995.

    “Se você olhar a data em que o filmeA Experiência’ (no original ‘Species’estreou em Porto Rico, verá que ela coincide com a primeira explosão de relatos lá”, disse ele.

    “Então compare as imagens da personagem criatura Sil, interpretada por [atriz] Natasha Henstridge, e você verá os espinhos inconfundíveis nas costas que correspondem aos das primeiras imagens do chupacabras em 1995.”

    Outra teoria é que as criaturas de Porto Rico eram um bando de macacos rhesus fugitivos da ilha, que costumam ficar em pé sobre as patas traseiras.

    “Havia uma população de macacos rhesus sendo usados em experimentos com sangue em Porto Rico na época, e esse bando pode ter fugido”, disse Coleman.

    Explicar o chupacabra “pode ser algo tão simples assim, ou pode ser algo muito mais interessante”, acrescentou Coleman, “porque sabemos que novos animais estão sendo descobertos o tempo todo”.

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