Será este o “T-Rex adolescente”? O fóssil do dinossauro Nanotyrannus revela um debate que desafia a paleontologia

Após décadas de acirrada disputa, pesquisadores indicam que os fósseis antes considerados de um “T-Rex adolescente” podem, na verdade, pertencer a uma nova espécie de tiranossauro.

Por Nicholas St. Fleur
Publicado 10 de nov. de 2025, 16:05 BRT
Por muito tempo, acreditou-se que o Nanotyrannus era a própria presa que ele aparece atacando na ...

Por muito tempo, acreditou-se que o Nanotyrannus era a própria presa que ele aparece atacando na ilustração acima, um jovem Tyrannosaurus rex. Novas evidências sugerem que ele era uma classe diferente de dinossauro. 

Foto de Anthony Hutchings

Uma das questões mais polêmicas da paleontologia é a de um Tiranossauro-rex adolescente com uma espécie de “crise de identidade”. Mas dois cientistas afirmam ter resolvido o mistério.

Em 1942, pesquisadores do Museu de História Natural de Cleveland, nos Estados Unidos, encontraram o crânio de um pequeno terópode na Formação Hell Creek, no estado de Montana. Depois que os cientistas o classificaram como uma nova espécie, a Nanotyrannus lancensis, em 1988, o crânio gerou quatro décadas de acirrado debate.

Seriam esses fósseis de tiranossauros pequenos e esguios representantes de uma versão adolescente do temível T-Rex ou um dinossauro totalmente distinto?

Agora, após analisar mais de 200 fósseis de tiranossauros, os autores de um novo estudo declararam que Nanotyrannus era um dinossauro ágil e esguio que viveu ao lado do T-Rex no crepúsculo do reinado do tirano. Eles publicaram suas descobertas em 30 de outubro na revista científica “Nature”.

“Não queríamos contribuir para alimentar o debate. Queríamos encerrá-lo”, afirma Lindsay Zanno, paleontóloga do Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte, também nos Estados Unidos, e coautora do artigo. “Decidimos apenas garantir que testássemos essa questão sob todos os ângulos.”

O focinho do Nanotyrannus contém uma cavidade sinusal adicional na parte superior da boca, o que ...

O focinho do Nanotyrannus contém uma cavidade sinusal adicional na parte superior da boca, o que não é observado no T-Rex. 

Foto de N.C. Museum of Natural Sciences

Alguns especialistas externos elogiaram o rigor do estudo, afirmando que ele pode ser um ponto de inflexão que finalmente encerra o debate que dura décadas.

“Eles não deixaram pedra sobre pedra, nenhum fóssil sem examinar”, diz Lawrence Witmer, paleontólogo da universidade estadunidense de Ohio. “O resultado de seus estudos cuidadosos é claro e tão definitivo quanto podemos obter em paleontologia: Nanotyrannus é real.”

Outros paleontólogos alertam que a descoberta, embora convincente, pode ser apenas a mais recente reviravolta na saga do Nanotyrannus.

“Suas descobertas, assim como relatórios anteriores, apresentam hipóteses. O que parece ser a resposta hoje pode ser refutado amanhã com novas abordagens ou novos dados”, diz Holly Woodward Ballard, paleohistologista da Universidade Estadual de Oklahoma, cujo estudo anterior sobre as taxas de crescimento das pernas dos tiranossauros colocou o Nanotyrannus na categoria do T-Rex.

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      Os ossos dos dedos e as garras do Nanotyrannus lancensis (mão direita mostrada) eram maiores do que ...
      O espécime N. lancensis no fóssil “Dueling Dinosaurs” preserva a primeira cauda completa deste gênero.
      À esquerda: No alto:

      Os ossos dos dedos e as garras do Nanotyrannus lancensis (mão direita mostrada) eram maiores do que os do T-Rex. 

      À direita: Acima:

      O espécime N. lancensis no fóssil “Dueling Dinosaurs” preserva a primeira cauda completa deste gênero.

      fotos de N.C. Museum of Natural Sciences

      O fóssil do “Dinossauros Duelantes” e o dilema sobre a possível “versão jovem” do T-Rex

      Em 2020, o Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, anunciou a aquisição do famoso fóssilDueling Dinosaurs” (Dinossauros Duelantes), com 67 milhões de anos. Há muito tempo em mãos privadas, o espécime primorosamente preservado mostrava um Triceratops e um pequeno tiranossauro aparentemente travando um combate mortal

      Alguns cientistas achavam que o tiranossauro era um T-Rex jovem que morreu antes de se desenvolver para a forma adulta, enquanto outros acreditavam que se tratava de um Nanotyrannus.

      A aquisição levou o fóssil a um museu pela primeira vez, permitindo que paleontólogos como Zanno tivessem melhor acesso ao que era essencialmente um esqueleto completo dessa criatura. Ela recrutou James Napoli, paleontólogo da Universidade Stony Brook em Long Island, Estados Unidos, que havia estudado o crescimento e o desenvolvimento dos crocodilos, para ajudá-la a avaliar o espécime.

      Quando Zanno e Napoli se sentaram para analisar o fóssil, “ficou bastante claro que havia muitos sinais de alerta”, diz Zanno, que também é exploradora da National Geographic. Havia muitas coisas sobre o espécime que “não pareciam se encaixar em nossas expectativas de como um T-Rex deveria crescer, ou realmente como qualquer animal deveria crescer”.

      Os braços eram uma pista anatômica crucial de que algo estava errado. Eles já eram muito maiores do que os braços de um T-Rex adulto. “Não há como esses braços encolherem durante o crescimento”, diz Napoli.

      Eles também descobriram que o dinossauro tinha uma cauda mais curta do que a do T-Rexpernas comparativamente mais longasmais dentes na mandíbula. Uma tomografia computadorizada também revelou que seus nervos cranianos e sistema respiratório eram diferentes dos do T-Rex; além disso, ele tinha uma cavidade sinusal extra. Essas características, segundo eles, geralmente são definidas no início do desenvolvimento, o que significa que esse tiranossauro não estava a caminho de se transformar em um T-Rex adulto antes de morrer.

      Eles também retiraram seções finas dos ossos para analisar seus anéis de crescimento, o que ajudou a indicar que ele tinha cerca de 20 anos e era adulto – não um filhote.

      Não há como defender cientificamente que isso seja um T-Rex”, diz Napoli. Em vez disso, eles dizem que ele deveria ser rotulado como Nanotyrannus lancensisa mesma espécie do Nanotyrannus que acendeu o debate quando recebeu esse nome em 1988.

      Woodward Ballard concordou que os dados dos pesquisadores parecem mostrar que o espécime está se aproximando do tamanho adulto — e isso é um “forte apoio” para chamá-lo de Nanotyrannus, diz ela.

      Mas e quanto aos outros espécimes de dinossauros?

      “A descoberta pode reformular o que os cientistas sabem sobre o predador pré-histórico mais famoso da Terra.”

      Uma nova imagem para um predador pré-histórico

      Com base nas evidências do fóssil Dinossauros Duelantes”, Napoli e Zanno também examinaram tiranossauros mantidos em coleções nos Estados Unidos, Canadá e Ásia. No total, eles identificaram alguns espécimes que, segundo eles, são Nanotyrannus, incluindo o controverso “Jane”, mantido no Museu Burpee, em Illinois, e o espécime do museu de Cleveland, ambos nos Estados Unidos, que recebeu esse nome em 1988.

      O debate sobre o Nanotyrannus já dura décadas, e acho que a maioria dos cientistas concordou que se tratava de um T-Rex juvenil”, diz David Evans, paleontólogo do Museu Real de Ontário, no Canadá. “Este novo estudo vai surpreender muita gente.

      As descobertas sugerem que Nanotyrannus era um predador com cerca de metade do tamanho do T-Rex e apenas um décimo de sua massa corporal. Se o T-Rex — pesando 8.165 kg medindo mais de 12 metros — era “o leão do final do Cretáceo”, o Nanotyrannus — medindo cerca de 680 kg e 5,5 metros — seria como uma chita, um leopardo, se continuarmos com a comparação com os felinos do reino animal atual. Isso significa que ela teria maior velocidade em vez da força bruta.

      “A partir deste artigo, nossa área precisa partir do pressuposto de que Nanotyrannus é uma espécie válida”, afirma Napoli. “Há um grande volume de pesquisas que precisa ser completamente reavaliado.”

      Se confirmada, a descoberta pode reformular o que os cientistas sabem sobre o predador pré-histórico mais famoso da Terra e fornecer informações sobre outros carnívoros que vagavam pela paisagem do final do Cretáceo. Os autores acrescentam que seus resultados também podem levar a uma reanálise abrangente sobre como o T-Rex cresceu e se desenvolveu. Algumas das principais teorias, dizem eles, foram construídas com base na suposição de que os fósseis de Nanotyrannus representavam o T-Rex durante sua adolescência desajeitada, uma noção que a nova pesquisa pode derrubar.

      Evidências do “Dueling Dinosaurs” e outros fósseis sugerem que os braços do T-Rex (à esquerda) eram ...

      Evidências do “Dueling Dinosaurs” e outros fósseis sugerem que os braços do T-Rex (à esquerda) eram mais curtos quando comparados com os do Nanotyrannus (à direita).

      Foto de NC Museum of Natural Sciences

      Ainda não estou pronto para proclamar que todos os esqueletos menores de tiranossauros são Nanotyrannus. Alguns deles devem ser T-Rex juvenis”, diz Steve Brusatte, explorador da National Geographic e paleontólogo da Universidade de Edimburgo, na Escócia, que há muito argumenta que o Nanotyrannus é apenas um T-Rex jovem

      Mas ele diz que os argumentos a favor da existência do Nanotyrannus são inegavelmente fortes. “É maravilhoso quando novas evidências mostram que algumas de nossas noções queridas — minhas noções queridas como pesquisador de tiranossauros — provavelmente estão erradas”, acrescenta. 

      Isso é ciência, e com fósseis, sempre temos que ser humildes com a realidade de que estamos lidando com amostras tão pequenas, pistas tão escassas de milhões de anos atrás, e cada nova descoberta tem a possibilidade de derrubar o conhecimento convencional”, completa Brusatte.

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