A ligação entre a produção de cerveja e o lúpulo é antiga: "depois que os seres ...

Qual é o superpoder da cerveja? A resposta está nos benefícios secretos do lúpulo para a saúde

Estudos em animais e células sugerem que o consumo de lúpulo pode ser positivo para a saúde – ainda que as pesquisas em humanos sejam escassas. Aproveite o Dia Internacional da Cerveja para descobrir mais.

A ligação entre a produção de cerveja e o lúpulo é antiga: "depois que os seres humanos descobriram como controlar a fermentação, a cerveja rapidamente se tornou uma das bebidas mais populares do planeta".

Foto de Krista Rossow
Por Meryl Davids Landau
Publicado 31 de jul. de 2025, 06:07 BRT

Nos últimos anos, os cientistas têm se concentrado cada vez mais em uma das bebidas mais populares do mundo:cerveja, que tem uma efeméride sobre ela – celebrada toda primeira sexta-feira de agosto no Dia Internacional da Cerveja. Tudo isso por causa daquele que é seu principal ingrediente — o lúpulo — que tem uma ampla gama de propriedades benéficas para a saúde.

Quando se trata de cerveja e saúde, “o lúpulo é a estrela do show”, diz Glen Fox, professor de ciência da fabricação de cerveja na Universidade da Califórnia, em Davis, Estados Unidos. 

Dezenas de pesquisas em laboratório e com animais, além de alguns pequenos estudos com pessoas, deixam claro que os compostos do lúpulo têm uma impressionante variedade de propriedades antimicrobianasantitumoraisanti-inflamatórias e reguladoras do açúcar no sangue, levando os especialistas a explorar o potencial da planta para doenças cardiovascularesdiabetesproblemas gastrointestinais e até mesmo câncer.

lúpulo (Humulus lupulus, uma planta membro da família do cânhamo) deve grande parte de sua reputação benéfica aos milhares de antioxidantes saudáveis encontrados naturalmente no cone da planta feminina, a parte usada na cerveja. 

Os antioxidantes regulam a inflamaçãoprotegem as células contra danos, compondo cerca de 14% da planta. Dois tipos de antioxidantes promissores no lúpulo, os ácidos amargos e os polifenóis, também conferem sabor e aroma à cerveja. Os pesquisadores estão especialmente interessados em um polifenol chamado xanthohumol (a primeira sílaba é pronunciada “zan”, com a ênfase na terceira sílaba), um poderoso antioxidante encontrado apenas no lúpulo. 

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As plantas de lúpulo conferem à cerveja seu sabor e aroma característicos, e estudos em células e animais sugerem que alguns compostos do lúpulo podem trazer benefícios à saúde humana.

Foto de David Levene, eyevine, Redux

O sabor amargo do lúpulo — derivado dos ácidos liberados durante o processo de fervura — equilibra a doçura dos grãos. A cor característica da planta e seus aromas florais e frutados aumentaram seu apelo. Esses fatores acabaram tornando o lúpulo a escolha preferida em toda a Europa e, mais tarde, em outros países do mundo.

As pessoas que bebem cerveja com moderação podem ter certeza de que estão fazendo um favor à sua saúde”, diz Fox. “E acho que a cerveja sem álcool deve ser considerada uma bebida saudável.”

Mas antes de ir ao bar, saiba que a quantidade de xanthohumol é minúscula em muitas cervejas. E os riscos à saúde do álcool, que vão desde doenças cardíacas e câncer até problemas hepáticos e disfunção do sistema imunológico, não devem ser ignorados. 

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A origem da relação do lúpulo com a cerveja

fabricação da cerveja teve início com a agricultura. Há cerca de 12 mil, os seres humanos passaram de um estilo de vida nômade de caça e coleta para sociedades agrárias, onde começaram a cultivar os grãos que são a base da bebida — trigo, sorgocevada ou milho, dependendo da localização.

Logo no início, as pessoas descobriram que, quando a chuva molhava os grãos, a bebida se transformava. “Naquela época, eles não entendiam que leveduras selvagens se instalavam no líquido e causavam um processo de fermentação, convertendo os açúcares em álcool”, diz Fox. O que eles sabiam era que “beber a bebida os deixava mais felizes”.

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    “Há cerca de um milênio, no Império Romano, as pessoas já usavam lúpulo para retardar a deterioração dos alimentos.”

    Depois que os seres humanos descobriram como controlar a fermentação, a cerveja rapidamente se tornou uma das bebidas mais populares do planeta. Ainda assim, grãos, levedura e água não produzem muito sabor ou aroma, além disso, as pessoas precisavam de uma maneira de evitar que a bebida estragasse. 

    Para resolver isso, diferentes sociedades adicionaram vários materiais vegetais, conhecidos coletivamente como gruit (palavra alemã para ervas). Há cerca de um milênio, no Império Romano, as pessoas já usavam lúpulo para retardar a deterioração dos alimentos e passaram a usar a planta como seu principal gruit.

    Tudo o que você gosta na cerveja vem do lúpulo”, diz Zugravu Corina-Aurelia, médica e pesquisadora da Universidade de Medicina e Farmácia Carol Davila, em Bucareste, Romênia, que concluiu em uma revisão publicada sobre pesquisas com lúpulo que ele tem grande potencial para prevenir e tratar uma ampla gama de doenças médicas.

    Se esses resultados se aplicarão às pessoas ainda é uma questão em aberto. Felizmente, uma barreira que os pesquisadores temiam na pesquisa preliminar acabou não sendo um problema em humanos: se os compostos sobrevivem após o estômago após o consumo oral

    Estudos subsequentes confirmam que cerca de um terço do produto químico entra na corrente sanguínea. “Acontece que ele é muito bem absorvido”, diz Jan Frederik Stevens, cientista farmacêutico da Universidade do Estado do Oregon, na cidade norte-americana de Corvallis, que conduziu os estudos de absorção posteriores, bem como dezenas de outros.

    Uma barwoman serve uma cerveja chamada Alferd Packer Killer Kölsch – temática do estado do Colorado ...

    Uma barwoman serve uma cerveja chamada Alferd Packer Killer Kölsch – temática do estado do Colorado –, uma das marcas artesanais disponíveis na Rock Coast Brewery, na cidade de Loveland, nos Estados Unidos.

    Foto de BENJAMIN RASMUSSEN

    Os benefícios já confirmados do lúpus em laboratório 

    Até agora, a maior parte da pesquisa sobre o lúpulo e seus componentes tem se limitado a células de laboratório e roedores, mas os resultados têm sido amplamente positivos. Esse é especialmente o caso dos componentes mais amplamente estudados, o xanthohumol e os ácidos amargos do lúpulo.

    A administração de xanthohumol a ratos machos obesos junto com sua ração reduz os níveis de glicose no sangue; quanto maior a dose, maior o efeito. Adicionar uma mistura de antioxidantes do lúpulo às células lipídicas impede a oxidação da lipoproteína de baixa densidade (LDL) ou colesterol “ruim”, atenuando seus danos. 

    E dar xanthohumol a ratos obesos com uma dieta rica em gordura evita o aumento das gorduras triglicérides prejudiciais ao sangue e o ganho de peso que eles normalmente apresentariam. 

    Também se descobriu que o xanthohumol tem impacto nas células cancerígenas, incluindo as do câncer de cólonpulmão, tireóideovário. As células se autodestroem na sua presença ou não se replicam nem metastatizam. “Vemos intervenção em muitas etapas do processo cancerígeno”, diz Corina-Aurelia.

    Outra área de pesquisa intrigante para o xanthohumol envolve doenças inflamatórias intestinais, incluindo a doença de Crohn. O corpo não elimina o composto pela urina, mas sim o mistura com a bile no trato digestivo antes de excretá-lo nas fezes. 

    “Como ele é recirculado pela bile, isso levou à hipótese de que ele poderia ter atividade direta nos intestinos”, diz Ryan Bradley, pesquisador sênior da Universidade Nacional de Medicina Natural em Portland, Oregon.

    Vários estudos em camundongos confirmam essa suposição, então Bradley e Stevens decidiram que era hora de testar a possibilidade em pessoas. Seu estudo piloto sugeriu que uma dose alta (24 miligramas por dia) de xanthohumol de grau farmacêutico por oito semanas é segura para as pessoas. Desde então, a equipe testou os comprimidos em 20 pessoas com doença de Crohn e atualmente está analisando os resultados. 

    Estudos adicionais sobre os compostos do lúpulo para uma variedade de condições médicas são esperados nos próximos anos. Um obstáculo potencial pode ser obter um suprimento suficiente. “A indústria cervejeira dos Estados Unidos, por exemplo, usa todo o lúpulo cultivado a cada ano para fazer a bebida, com muito pouco excedente”, diz Fox.

    (Você pode se interessar por: Por que se bebe cerveja no St. Patrick's Day?)

    “Quando se trata de cerveja, é a dose que faz o veneno.”

    por Zugravu Corina-Aurelia
    médica e pesquisadora da Universidade de Medicina e Farmácia Carol Davila, na Romênia

    Como consumir o lúpus: bebidas com baixo ou nenhum teor alcoólico

    É claro que tomar um comprimido e beber alguns copos de cerveja não é a mesma coisa. Por um lado, as cervejas artesanais com alto teor de lúpulo, que contêm as maiores quantidades de xanthohumol, têm apenas quatro ou cinco miligramas por litro. 

    Já as marcas menos lupuladas, como as lagers, contém ainda menos. “Beber um litro de cerveja não é suficiente para obter os mesmos efeitos observados em nossos estudos”, diz Bradley. 

    Alguns produtores de lúpulo estão trabalhando para cultivar plantas com níveis mais altos de polifenóis, e os fabricantes de cerveja estão experimentando processos alternativos de fabricação que possam manter mais desses compostos no copo final.

    Esses esforços podem se mostrar mais valiosos para a promoção da saúde em geral do que os suplementos com xanthohumol e outros polifenóis que já aparecem nas lojas de produtos naturais, diz Corina-Aurelia. (As ofertas atuais geralmente têm níveis baixos ou indeterminados de polifenóis, adverte Stevens.) “O paradoxo em relação ao álcool é que muitos dos ingredientes saudáveis da cerveja são mais facilmente absorvidos na presença do álcool”, diz Corina-Aurelia.

    É um paradoxo, é claro, devido aos malefícios causados pelo consumo de álcool. É por isso que Corina-Aurelia sugere procurar cervejas com baixa concentração de álcool e não beber mais do que algumas vezes por semana. 

    Assim como o açúcar, a gordura ou qualquer outra coisa”, diz Corina-Aurelia, “quando se trata de cerveja, é a dose que faz o veneno”. Ou experimente variedades sem álcool, pelo menos de vez em quando. “Ao contrário dos vinhos sem álcool”, diz ela, “esses realmente têm um sabor muito bom”.

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