
Como é o trabalho de encontrar dinossauros? Um paleontólogo revela os passos de uma descoberta pré-histórica
Por definição, a paleontologia “é o estudo da história da vida na Terra a partir de fósseis”, de acordo com a National Geographic Education. Para Agnolín, essa ciência ajuda a compreender “como tudo o que conhecemos foi formado”.
Sob um Sol escaldante em um sítio arqueológico na Patagônia argentina, o paleontólogo Federico Agnolín faz o trabalho de campo em busca de fósseis que ofereçam novas pistas sobre o passado da Terra.
Cercados por plantas espinhosas e planaltos intermináveis, Agnolín e seus colegas paleontólogos mantém a esperança de encontrar uma descoberta revolucionária e, para isso, embarcam em uma tarefa silenciosa, mas constante: a de desvendar os segredos do passado para compreender melhor a história da humanidade, como conta Federico Agnolín durante a entrevista exclusiva que deu para National Geographic.
Agnolín é paleontólogo, doutor em Ciências Naturais e pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) da Argentina. Em outubro de 2025 ele liderou a Expedição Cretácea 1, uma campanha para procurar fósseis na província argentina de Rio Negro, no sul do país.
Direto do local da escavação, Agnolín conversou com NatGeo e descreveu como é o trabalho de campo de um paleontólogo, quais são as dificuldades que enfrentam e como suas descobertas moldam nossa compreensão do passado do planeta.
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Os sítios paleontológicos geralmente são locais remotos, com escassez de água, seca, vento e muito sol. Nesta foto, os cientistas do Conicet, incluindo Federico Agnolín, realizam prospecções perto de General Roca (Río Negro, Argentina).
Mochilas pesadas e acampamentos improvisados: o dia a dia de um paleontólogo em busca de fósseis
“A rotina de um dia de expedição começa bem cedo pela manhã, possivelmente às 7 ou 8 horas”, descreve o pesquisador. Após o café da manhã (os argentinos costumam tomar mate ou café), eles começam o dia de trabalho, que geralmente se estende por várias horas.
“Trabalhamos quase o dia inteiro e fazemos uma pausa à tarde porque o Sol no sítio é escaldante”, explica o paleontólogo. A exploração se estende até o pôr do sol, momento em que retornam ao acampamento base, onde barracas para descansar e algumas provisões esperam pelos pesquisadores.
“A experiência de trabalhar em um sítio arqueológico de 70 milhões de anos é complicada porque são lugares que geralmente ficam muito distantes. Estamos falando de ambientes hostis, com muitas plantas espinhosas, escassez total de água, seca, vento e sol”.
Por outro lado, no entanto, são nesses depósitos que se encontram animais do final da era dos dinossauros, de modo que são locais ricos para exploração. “Tudo está na natureza”, diz o estudioso.
Como o “escritório” dos paleontólogos muda constantemente de lugar, os cientistas precisam transportar suas próprias ferramentas em mochilas pessoais e de carga ou em carrinhos de mão, quando os elementos são grandes e pesados. “Às vezes, temos que transportá-los por quilômetros, o que é bastante cansativo”, comenta, embora reconheça amar sua profissão.
Federico Agnolín reconhece que contribuir para o conhecimento da humanidade implica ficar longe de casa por semanas, trabalhar sem descanso e passar por “dias árduos”. “Muitas vezes arriscamos nossa vida nessas planícies intermináveis dos Andes, por exemplo. Já tivemos que atravessar rios, escalar montanhas, escalar planícies”, enumera, embora afirme estar disposto a “pagar” esse preço em troca de um trabalho apaixonante.
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De acordo com seu perfil no site do Conicet, Federico Agnolín (à direita) é autor de mais de 220 artigos científicos, 6 livros e 9 capítulos de livros.
Como é a sensação de descobrir um fóssil?
Durante o trabalho de campo, os paleontólogos às vezes encontram restos fósseis de dinossauros gigantescos. Outras vezes observam pequenas plantas, fungos ou bactérias. Em qualquer caso, eles cumprem a missão fundamental da paleontologia: estudar a história da vida na Terra a partir de fósseis.
Por definição, a análise dos fósseis permite compreender o comportamento dos organismos estudados, entender como foi sua evolução e até mesmo quais hábitos esses seres vivos mantinham.
Foram paleontólogos, por exemplo, que sugeriram a informação de que os hadrossauros (dinossauros com bico de pato) viviam em grandes manadas, uma hipótese que formularam após observar evidências de seu comportamento social e encontrar um sítio arqueológico com cerca de 10 mil esqueletos desses animais, aponta um artigo de National Geographic Education.
“O momento da descoberta de um fóssil é possivelmente uma das sensações com maior adrenalina e prazer que se pode sentir, porque é irrepetível”, destaca Agnolín. Isso porque, em muitas ocasiões, os paleontólogos desenterram restos nunca antes vistos na história da humanidade, explica o pesquisador argentino.
“Quando se trata de espécies novas ou formas anteriormente desconhecidas, você está levantando o véu de algo que inédito, é uma sensação realmente única e insubstituível”, afirma.
“O momento da descoberta de um fóssil é possivelmente uma das sensações com maior adrenalina e prazer que se pode sentir, porque é irrepetível.”
Um dinossauro gigante e outras descobertas pré-históricas impressionantes
De fato, Agnolín é o principal autor de várias descobertas impressionantes: junto com outros cientistas, em março de 2025, ele encontrou uma grande diversidade de organismos pré-históricos associados a ambientes de água doce, incluindo uma nova espécie de dinossauro herbívoro conhecido como Chadititan calvoi, além de outros moluscos, tartarugas e peixes.
Agnolín também encontrou restos fósseis de insetos do Cretáceo, incluindo restos de ornitorrincos que coexistiram com os dinossauros e até mesmo restos de Chucarosaurus diripienda, um dinossauro gigante desconhecido até 2023, quando seus ossos foram encontrados. Ele viveu há cerca de 90 milhões de anos e é considerado o maior de sua espécie encontrado até então.
Juntamente com outros 13 cientistas, entre eles os exploradores da National Geographic Matías Motta, Sebastián Rozadilla e Mauro Aranciaga, o paleontólogo do Conicet fez uma transmissão ao vivo da Expedição Cretácea 1, realizada em outubro de 2025 na Patagônia argentina, onde os pesquisadores mostraram por streaming seu trabalho em campo.
Como explica Agnolín à National Geographic, a paleontologia permite “conhecer a história do mundo, saber por que as coisas estão e como estão, por que existem árvores, quais animais viveram no passado, quais não...”. Em outras palavras, é uma ciência que ajuda a compreender “como se formou tudo o que conhecemos”. “De certa forma, a paleontologia nos faz perguntas sobre a grande incógnita da humanidade, questionando de onde viemos e quem somos”, conclui o especialista argentino.